OPINIÃO
Nunca, como hoje, se falou tanto na importância da origem dos produtos.
Nos últimos tempos, a "portugalidade" dos produtos agrícolas tem sido
largamente discutida nos media, o que se traduz numa oportunidade
clara para os produtores nacionais: No limite, pode conquistar-se uma
vantagem sustentável que nunca foi alcançada, pelo menos de forma
generalizada: conseguir que o consumidor prefira comprar produtos
nacionais.
Os apelos, sobretudo dos responsáveis políticos, têm focado sobretudo
a importância de inverter um défice da balança de pagamentos
agro-alimentar que tende para os 4 mil milhões de euros anuais.
Segundo os últimos dados do INE, o grau de auto-aprovisionamento de
alguns produtos é dramaticamente baixo: carne - 74%, cereais - 25,3%,
batata - 54,4%, fruta - 65,3%, leguminosas secas - 12,1% e gorduras e
óleos vegetais - 14,0%, entre outros.
Para além disso, somos confrontados diariamente com os efeitos
recessivos na economia, com a menor disponibilidade financeira das
famílias, com o inevitável aumento da taxa de desemprego e, com um
aspecto que por vezes ainda nos magoa mais: as constantes comparações
com os nossos parceiros europeus e que colocam Portugal na cauda da
Europa em quase todos os índices de desenvolvimento económico.
Por isso, muitos consumidores, movidos por um desígnio de promoção do
desenvolvimento nacional, têm passado a valorizar a origem aquando da
decisão de compra dos seus produtos alimentares.
Esta valorização da "portugalidade" por parte dos consumidores está a
ser captada pelas empresas de distribuição, que têm procurado ter uma
oferta mais nacional para darem corpo a campanhas de comunicação que
lhes permitam satisfazer este desejo por parte dos seus clientes.
Uma moda, dirão uns, mas uma excelente oportunidade, dirão outros. A
diferença estará na capacidade dos agentes do sector de serem capazes
de tornar sustentável esta oportunidade conjuntural.
Nos últimos 20 anos assistimos passivamente a um decréscimo de nove
pontos percentuais no peso da agricultura e da indústria no PIB
nacional (2ª descida maior, a seguir à Grécia!!!). Hoje questionam-se
algumas opções políticas, nacionais e europeias, que consideraram que,
por estarmos inseridos numa Europa rica e em paz, era preferível
comprar no mundo alimentos a preços mais competitivos do que os que
produzia. Demorou tempo, e sobretudo teve impactos muito graves, mas
já é hoje consensual que não é possível sustentar o crescimento
económico sem repor pelo menos parcialmente o peso da agricultura e da
indústria, ou seja, não é possível crescer sem produzir!
Mas o desafio hoje é mais difícil do que há 20 anos atrás. Os nossos
concorrentes, e os nossos fornecedores, especializaram-se, ganharam
escala, ganharam competências e, sobretudo, ganharam mercados.
Vamos ter de ser capazes de reabilitar um sector primário mais
pequeno, mais descrente e menos capitalizado. E vamos ter de ser
rápidos a fazê-lo! Mas vamos ter de criar mais valor e, para isso, não
podemos deixar de aproveitar também as oportunidades de transformação
dos produtos. Este é o desafio conjuntural a que os produtores têm de
responder, não esquecendo que, apesar e sobretudo por causa da crise,
o consumidor deseja comprar qualidade a baixo preço, questionando a
qualidade e comparando produtos concorrentes. Isto obriga a agregar
qualidade de produto com marketing, como forma de aumentar a
competitividade e a satisfação e fidelização do consumidor.
É na resposta a estas expectativas que o marketing assume as suas
responsabilidades, isto é, na necessidade de detecção de necessidades
e desejos dos consumidores bem como no desenvolvimento e colocação de
produtos no mercado com elevados padrões de qualidade e
competitividade.
Todos sabemos que a vontade dos portugueses, quando estimulada, é
capaz de responder a grandes desafios, e desta vez lá estaremos para
comprar o que é bem feito pelos nossos produtores. Só assim é possível
ter orgulho no que fazemos, criar mais emprego, mais riqueza, mais
desenvolvimento económico e sair rapidamente desta crise.
CONSULAI
Publicado in "Vida Rural" - Julho/Agosto 2011
http://www.agroportal.pt/a/2011/consulai2.htm
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