terça-feira, 22 de maio de 2012

Quinta da Bacalhoa: cinco séculos de história passaram por aqui

À descoberta do património


Ana Maria Santos


Da inicial quinta de recreio, a Bacalhoa é, desde 1996, monumento
nacional, classificação atribuída pelo ex-IPPAR. Inicialmente
denominado por Palácio dos Albuquerques, as teorias sobre a sua actual
designação não são precisas e se uns dizem que o nome Bacalhoa se deve
à alcunha de D. Maria Mendonça de Albuquerque, outros garantem que o
nome foi adquirido depois de uma viagem à Índia onde foram
ultrapassadas enormes dificuldades para salvar a tripulação, atacada
pelo escorbuto, ficando apenas o bacalhau.





Situada em Vila Fresca de Azeitão, a Quinta da Bacalhoa (consagrada
entre os tesouros artísticos de Portugal) sofreu, ao longo dos últimos
cinco séculos, várias alterações arquitectónicas tendo, no entanto,
conservado até aos dias de hoje as abóbadas ogivais, o palácio com
janelas ao estilo renascentista, os cubelos representativos da Via
Sacra e elementos cerâmicos decorativos, do século XVI. Os azulejos
encontram-se datados de 1565 e com a assinatura do ceramista Francisco
de Matos. Os bustos, de significação histórica, são emoldurados por
medalhões de faiança de origem flamenga.

Antiga propriedade da Casa Real Portuguesa, a Quinta da Bacalhoa
(anteriormente designada por Quinta dos Albuquerques é considerada a
mais bonita quinta da primeira metade do século XVI, ainda existente
no nosso país.

No século XV pertenceu, como quinta de recreio, ao filho do rei D.
João I, João, Infante de Portugal, o qual a deixou, em herança, a sua
filha D. Brites, casada com o segundo Duque de Viseu e que viria a ser
mãe do rei D. Manuel I. Aliás, foi D. Brites quem mandou construir os
muros com torreões de cúpulas aos gomos e também o grande tanque que,
actualmente, ainda fazem parte do edifício.

Vendida em 1528 a D.Brás de Albuquerque, filho primogénito de D.
Afonso de Albuquerque, o palácio viria a ser enriquecido, pelo novo
proprietário, com magníficos painéis de azulejos, tendo ainda mandado
construir uma «casa de prazer», junto ao tanque, e dois grandes
pavilhões, juntos aos muros laterais.

Nos finais do século XVI, esta quinta fazia parte do morgadio
pertencente a D. Jerónimo Teles Barreto, descendente de Afonso de
Albuquerque. Este morgadio, em que estava incluída a Quinta da
Bacalhoa, viria a ser herdado por sua irmã, D. Maria Mendonça de
Albuquerque, casada com D. Jerónimo Manuel, conhecido pela alcunha de
«Bacalhau».

Aliás, é muito provável que o nome de «Bacalhoa», pelo qual veio a
ficar conhecida a antiga Quinta de Vila Fresca, em Azeitão, tenha tido
origem no facto de a mulher de D. Jerónimo Manuel também ser designada
da mesma forma sarcástica. No entanto, uma outra versão para a actual
designação refere que a mesma surgiu em 1730 após uma viagem à Índia
onde foram ultrapassadas enormes dificuldades para salvar a tripulação
que foi atacada pelo escorbuto, ficando apenas o bacalhau, que nessa
época era considerado nocivo para a saúde.

Em 1973, o Palácio da Bacalhoa foi comprado e restaurado por uma
norte-americana, Orlena Scoville, cujo neto se incumbiu da missão de
tornar a quinta num dos maiores produtores de vinho de Portugal, na
década de 70 do século XX.

Actualmente a Quinta da Bacalhoa pertence à Fundação Berardo, liderada
pela família Berardo, a nona mais rica de Portugal, cujo patriarca é o
madeirense Joe Berardo. Grande parte da vasta extensão dos terrenos da
quinta são ocupados por vinhas que produzem os largamente premiados
Vinhos Bacalhoa.

http://www.osetubalense.pt/noticia.asp?idEdicao=&id=26705&idSeccao=5895&Action=noticia

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