sexta-feira, 17 de maio de 2013

Agricultores prometem luta contra lei europeia das sementes

LUSA

17/05/2013 - 09:39

Pequenos produtores manifestaram-se na aldeia transmontana de Duas
Igrejas. Proposta de lei das sementes, defendem, prejudica a
agricultura de subsistência.


Ambientalistas e agricultores unem-se contra lei europeia das sementes

Os agricultores prometem lutar contra a legislação que proíba troca de
sementes, já que acreditam que a ilegalização da comercialização de
milhares de variedades autóctones vai restringir a actividade agrícola
tradicional e colocar em causa o património vegetal.

Associações ambientais e pequenos produtores consideram que se devem
continuar a utilizar e trocar as variedades de sementes tradicionais
principalmente para "manter viva a agricultura de subsistência" que é
praticada em diversos pontos do país.

A contestação teve eco numa acção que juntou na quinta-feira
associações ambientais e agricultores tradicionais na aldeia
transmontana de Duas Igrejas, no concelho de Miranda do Douro.

Isabel Sá, presidente da associação Aldeia, disse à Lusa que a
informação sobre os contornos da proposta de lei não chegou às
pessoas, parecendo haver um certo "secretismo" em torno do assunto.

"São questões que deveriam estar em discussão pública. As pessoas não
participaram neste tipo de decisões, já que são os principais
interessados, e sentimos que há muita falta de informação em torno de
uma matéria tão sensível", asseverou.

Para João Rodrigues da Associação Portuguesa de Tração Animal,
considera que a nova lei que interdita a troca de sementes "é um
ataque à agrobiodiversidade de cada região".

"Tendo em conta a nova lei das sementes que está em vias de ser
aprovada pelo Parlamento Europeu, não há melhor forma de protestar
como plantar uma horta com diversas variedades de sementes
tradicionais, para assim haver uma maior consciencialização para o
problema", acrescentou.

Os agricultores consideram que a nova legislação que proíbe a troca de
sementes entre agricultores ou associações "condiciona a
comercialização de milhares de variedades que não se encontram
registadas nos catálogos nacionais e europeus".

"Trata-se de um processo bastante complexo já que nós todos os anos
guardamos sementes de uns anos para os outros, já que é um produto da
natureza e ninguém tem o direito interferir na ruralidade", frisou a
produtora Ana Jorge, de Duas Igrejas. A agricultora não duvida que
quem está por de trás da futura lei são "os grandes produtores de
sementes e os interesses económicos".

Adília Castro, 70 anos, disse à Lusa que desde sempre houve trocas de
sementes entre os lavradores, sendo natural haver auxilio entre as
pessoas da terra quando as sementes escasseiam. "Tem de haver trocas
de sementes novas todos os anos e só assim se renova a lavoura",
destacou a septuagenária.

Em jeito de conclusão, José Miguel Fonseca, representante da
Associação Colher para Semear, disse que está criado um banco de
sementes através de recolhas feitas em todo o país para precaver a lei
que está prevista. "O banco de sementes conta já neste momento com
mais de 2000 variedades, oriundas de diversas regiões do país",
concluiu.

http://www.publico.pt/economia/noticia/agricultores-prometem-luta-contra-lei-europeia-das-sementes-1594692

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