domingo, 29 de setembro de 2013

Banana da Madeira desfaz-se em sumo para ganhar notoriedade e crescer

ALEXANDRA PRADO COELHO

29/09/2013 - 00:00

Bananas da Madeira geram um volume de negócios de 12 milhões de euros
por ano RUI SOARES



Nas últimas décadas, a construção na ilha roubou os melhores terrenos
aos bananais e a produção caiu a pique. Transformada em sumo pela
Compal, a banana da Madeira ganha visibilidade

Vasco Lourenço guia-nos pelo seu bananal em Madalena do Mar, ilha da
Madeira, e vai-nos mostrando os cachos que estão prontos para colher,
os que ainda vão ter de esperar, e os que têm umas bananas pequenas e
verdes que ainda nem parecem bananas. O clima debaixo das grandes
folhas verdes é húmido e quando andamos pisamos os restos das
bananeiras já mortas, depois de terem dado o seu cacho.

O homem que nos guia é um dos 2800 produtores de banana da Madeira,
grande parte deles com parcelas muito pequenas de terreno. Em
conjunto, atingem uma produção anual de 16 mil toneladas do fruto, e
um volume de negócios de 12 milhões de euros por ano. Vasco Lourenço
está a fazer de guia a um grupo de jornalistas porque a banana da
Madeira acaba de ganhar uma nova visibilidade: é a fruta escolhida
pela Compal para o novo sumo que a empresa acaba de lançar.

O Compal Clássico Banana da Madeira vem assim juntar-se a outros
"clássicos" que a marca lançou para assinalar o seu 60.º aniversário,
como o Ameixa Rainha-Cláudia ou o Laranja do Algarve. E, claro, ao
mais clássico (e mais antigo) de todos, o de Pêra-Rocha.

Para a Madeira, e sobretudo para a GESBA - Empresa de Gestão da
Banana, esta é sobretudo uma oportunidade para reforçar a identidade
da banana da ilha, que é, na sua esmagadora maioria (85%), exportada
para o continente. E "muito pontualmente" para o mercado espanhol, diz
Jorge Dias, gerente da GESBA. "A exportação para fora de Portugal é
totalmente marginal."

Criada em 2008, a GESBA pretende sobretudo "consolidar o sector", e
não tanto aumentar a produção. Segundo Jorge Dias, há ainda margem de
manobra para se conseguir um aumento de produção, mas, sublinha, a
banana da Madeira - que no consumo nacional de banana representa
actualmente cerca de 10% do total - "será sempre uma banana de nicho".

"O nosso mercado natural é o de Portugal continental, e a nossa
estratégia é consolidar esse mercado", afirma o responsável. A
diferença de preço entre as bananas da Madeira e as importadas não
representa um problema, diz. "Quando o consumidor olha para a banana
da Madeira, vê-a como sendo diferente das outras. Ela ocupa um lugar
natural no mercado." Por isso, a prioridade é reforçar a marca Banana
da Madeira, que "já existe informalmente há muito tempo mas só foi
registada há quatro ou cinco anos", e "continuar a apostar nas
características que a diferenciam", nomeadamente, o sabor "doce e
intenso".

Banana em sumo?

É aí que entra a Compal. A empresa de bebidas contactou a GESBA em
2011 para lhe propor lançar um sumo de banana. Inicialmente, a reacção
dos próprios produtores foi a mesma que a da maioria do público que
ouve falar da ideia pela primeira vez: sumo de banana? Não será
demasiado espesso? Mas o departamento de investigação e
desenvolvimento da Compal trabalhou a polpa da banana até conseguir
uma bebida que, embora mantenha o sabor da banana, tem a consistência
de um sumo. E está a lançá-la com uma enorme campanha de publicidade,
que passa por muitos contactos em pontos de venda para dar a provar o
novo produto.

O objectivo de venda, segundo João Nuno Pinto, da Compal, é atingir os
"dois milhões de actos de consumo", ou seja, o equivalente a dois
milhões de unidades em garrafa. Para fornecer a polpa de banana
necessária não será preciso, para já, aumentar a produção, garantem
ambos os lados. A grande aposta é o mercado do continente, mas a
Compal admite exportar também o sumo de banana, tal como já exporta
outros. "São muito consumidos por portugueses de segunda ou terceira
geração em países da Europa", explica João Pinto.

Quem atravessa a Madeira vê bananeiras (a variedade aqui é a Musa
acuminata cavendish) por todo o lado. Introduzidas na ilha no século
XVI (existe uma referência escrita às bananeiras da Madeira que data
de 1552), julga-se que terão vindo das Canárias ou de Cabo Verde, e
tornaram-se parte integrante da paisagem. Mas já o foram muito mais.

Quem o lembrou, durante a apresentação do novo sumo, foi o secretário
regional do Ambiente e Recursos Naturais, Manuel Rodrigues Correia.
"Os melhores terrenos são disputados pela banana e pela construção
civil", disse. E reconheceu até a sua quota-parte de responsabilidade
quando estava no pelouro da Habitação. "Fui um dos maiores
responsáveis pelo declínio da área agrícola na Madeira. Mas não
tínhamos outra alternativa", disse, explicando que na época a
habitação social era a prioridade. "Agora estamos noutra fase:
consolidada a área de construção, podemos proteger os bananais", que
ocupam actualmente 14% da área agrícola da ilha.

E o que é que isto significa para os bananicultores? "Quem tem um
hectare de bananeiras numa área de boa produção sempre vai podendo
mandar os filhos para a escola, mas sem luxos", resume Vasco Lourenço.
Mas o trabalho é muito - cita depois aquela que é a sua máxima:
"Bananas são como bebés, precisam de muitos cuidados."

Queda na produção

Continua a abrir caminho pelo seu bananal e a mostrar como cada planta
(as bananeiras não são árvores, têm um falso tronco constituído por um
conjunto de bainhas de folhas, em espiral) está numa fase diferente e
precisa de cuidados diferentes. Estamos no pico da produção: embora
haja banana todo o ano, metade da produção acontece entre os meses de
Julho e Outubro.

"Esta pariu há uns dias", diz Vasco Lourenço, recorrendo à expressão
utilizada quando o cacho sai de dentro da bananeira. E se há cachos
que podem atingir os 60 quilos, o peso médio anda pelos 35. E, é
preciso não esquecer, cada bananeira dá apenas um cacho, e deixa no
chão uma "canhota", ou "filha", da qual crescerá a bananeira seguinte.

O maior inimigo das bananeiras é o vento, que pode destruir toda uma
produção. É importante também saber que as bananeiras "não gostam do
frio" e por isso só se dão bem em terrenos até aos 200 metros de
altitude (organizados em socalcos para melhor aproveitamento), mas,
por outro lado, "gostam muito de água", cujo consumo por atingir os 23
litros por dia e por bananeira.

Se actualmente os bananicultores da Madeira conseguem 16 mil
toneladas, no final dos anos 1990 a situação era bastante diferente: a
produção atingia as 28 mil toneladas e a banana da Madeira
representava 20% do consumo nacional. Apesar disso é ainda hoje uma
das culturas mais importantes na economia familiar da ilha.

http://www.publico.pt/economia/jornal/banana-da-madeira-desfazse-em-sumo-para-ganhar-notoriedade-e-crescer-27161155

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