sexta-feira, 6 de setembro de 2013

COMUNICADO: Isto cansa…

Para quem viu, mas ainda não esqueceu, 2003 e 2005 e 2007 e tudo o que
aconteceu antes… o que já se disse e discutiu e as barbaridades que se
vão ouvindo… vindas de gente que pelo menos devia ter memória e
espírito crítico.

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Os fogos que importa discutir são os grandes… o que importa saber é
porque arde tanto e tão depressa. Mas é muito mais fácil para todos,
discutir "como começou o fogo", pois interessa a todos culpar esses
malandros dos Incendiários… Que apesar de serem muito menos
importantes do que se diz, ainda são demasiados. E assim não se fala
da negligência nem na responsabilidade de todos nós.

Portugal já tem reservados os fogos todos necessários para as próximas
décadas, pois nem este dispositivo nem nenhum (que possamos pagar)
será capaz de controlar a situação catastrófica em que se encontra a
paisagem que cobre grande parte do nosso território e as alterações
que se impõem são morosas, a área é tanta, que ainda que trabalhemos
muito e depressa vai demorar muito tempo até conseguir resultados
efectivos e todos os próximos anos vão ter um Verão… e em todos os
Verões costuma fazer calor e depois vem o Vento Leste e a baixa
Humidade e se vierem também as Alterações Climáticas… Uui…

Continuamos a discutir os sintomas da doença, em lugar de procurar a
causa e os remédios que a tratem.
Chega a ser doloroso ouvir as notícias, comentários e propostas que
vão surgindo…

As transformações socioeconómico que aconteceram ao mundo rural são de
uma enorme magnitude, no entanto, como aconteceram lentamente, são
hoje negadas de forma veemente como se tivéssemos tido sempre esta
insustentável paisagem carregada de combustível.

Para o futuro sobram dois caminhos:

Ou abandonar definitivamente estes territórios que serão cada vez mais
percorridos regularmente por fogos, nos quais pela recorrência tenderá
a apenas sobreviver uma vegetação sem qualquer interesse económico –
Esta solução permitira, poupar recursos no combate mas significaria
desistir de uma enorme parcela do território nacional.

Ou então procurar atenuar efectivamente o impacto dos fogos e reduzir
significativamente (não a área ardida) mas os seus custos económicos e
ambientais.

A solução para um problema da dimensão e complexidade dos fogos em
Portugal não é, nem poderia, ser única ou simples.

Importa perceber que são necessárias muitas e concertadas alterações,
em muitas áreas, de que se destaca, em especial a questão da posse e
gestão da terra pela posição basilar que ocupa.

Sim é fundamental parar de falar e fazer leis para um mundo rural
moribundo como se este estivesse como era há 50 anos atrás. Hoje na
esmagadora maioria dos territórios mais atingidos pelos incêndios vive
apenas uma população fortemente envelhecida que é proprietária de
apenas uma parte (muitas vezes pequena) desses territórios.

Os proprietários de grande parte das áreas que vemos arder já não
vivem sequer no mundo rural, saíram… estão na Vila, na Cidade, na
Capital, estão espalhados pelo Mundo! São médicos, professores, caixas
de hipermercado, deputados, motoristas, pedreiros…. Mas continuam a
ser proprietários e legitimamente muitos deles esperam inclusivamente
vir a ter como no passado rendimento destas propriedades (sim porque
como é bem sabido… A floresta dá rendimento sem trabalho!)

Não interessa ao mundo rural, de forma alguma, perder o enorme
potencial que representam as ligações emocionais e afectivas destes
milhões de proprietários ausentes apesar de a esmagadora maioria nunca
mais voltar em definitivo. Temos que ter a inteligência de saber fazer
com que continuem proprietários, mas encontrar formas de os substituir
quando é necessário fazer alguma coisa nas suas propriedades.

Sim é possível! Da mesma maneira que é possível fazer Bancos ou
Empresas com o dinheiro dos outros, com sociedades anónimas, com
acções e títulos de participação e fundos imobiliários. Mas é
necessária muita organização e transparecia para cativar e manter a
confiança das pessoas. È possível separar a questão da posse da terra
da sua gestão, desde que se criem mecanismos aceitáveis e aliciantes.
Desde que respeitem os direitos inequívocos dos proprietários.

Porque a floresta como cultura extensiva pode beneficiar muito dos
ganhos de escala, temos de, com carinho e muita paciência, explicar a
toda a gente que as parcelas de terreno pequeninas em que se encontra
organizada a nossa floresta inviabilizam o ordenamento e
impossibilitam ganhos que só uma maior escala pode trazer. Mas que é
possível continuar proprietário da terra e receber a sua produção
apesar estar ausente e o trabalho ser feito por outros. E por isso não
podemos deixar morrer as ZIF.

È fundamental, ajudar também os proprietários que têm condições para
gerir as suas propriedades a obter ajuda técnica e financeira, para
melhorar a produtividade e rentabilidade das suas parcelas.

Temos de interiorizar que a aldeia já não tem força por si, para
modelar a paisagem à sua volta. Pelo contrário, em grande parte delas,
a floresta esta a entrar pelos quintais das casas a dentro.

É importante dizer devagarinho, a quase toda a gente, que a floresta
não é como se fosse um "pipi" quem tem que estar limpinho… e ao qual
se faz uma limpeza diária….

Mas ao pé das casas… sim, aí sim, tem que estar tudo limpinho e arrumado.

A floresta apenas poderá suportar uma limpeza localizada, nos sítios
estratégicos de modo a criar descontinuidade, porque a sua
rentabilidade é baixa. E se a floresta não tiver rentabilidade… também
não vai ter sustentabilidade…

Temos de gritar bem alto que NÃO É POSSIVEL TER FLORESTA, em áreas tão
extensas sem descontinuidade num clima como o nosso, que tem que
existir compartimentação e gestão da paisagem.
Temos de utilizar zonas com outras actividades, nomeadamente
agricultura e pastorícia e tudo o que for viável, para criar
descontinuidade, para baixar o risco e viabilizar a floresta e com
isso criar sustentabilidade no território.

Temos que explicar de mansinho, às nossas criancinhas, que na maior
parte do nosso País não devemos plantar mais árvores … pois já temos
arvores a mais, que a seguir aos fogos nascem milhões de sementes, e
que é necessário e urgente retirar as plantas em excesso. Porque senão
nunca iremos ter uma floresta viável.

Temos de aproveitar todas as oportunidades para dizer que existirem
apoios para florestação de terras agrícolas é importante em alguns
locais do nosso País, mas é quase criminoso em grande parte do
território promover essa situação.

Temos de explicar com paciência aos nossos governantes que o
investimento na floresta apesar de ser muito importante para o País, é
efectivamente muito pouco aliciante para os proprietários porque os
riscos são enormes a rentabilidade é baixa e os períodos de retorno
são, no caso das áreas ardidas recentemente, quase sempre para além do
horizonte de vida do proprietário (25/30) anos… Para que eles possam
explicar isto em Bruxelas e as Ajudas para ao sector subam para
valores minimamente aliciantes.

Temos que continuar a fazer muita coisa que estamos a fazer bem, como
envolver os Municípios nesta problemática, pois eles têm competências
e portanto obrigações na gestão e ordenamento do território. Temos que
continuar a formar gente em fogo controlado e fogo táctico, e a
utilizar os bulldozers para apagar fogo e aprender a planear o combate
em função da situação e a construir e utilizar cartografia digital
para isso ser possível.

Temos de dizer a toda a gente que apesar de não ser suficiente… temos
que manter os caminhos e pontos de água, e Sistemas de Vigilância
eficazes e uma capacidade de Primeira Intervenção de excelência e
Bombeiros com bons carros e aviões e helicópteros.
E à medida que formos gerindo melhor o nosso território poderemos
poupar um pouquinho em tudo isso… Mas a floresta mesmo ordenada e
compartimentada, tem sempre tendência para arder num clima como o
nosso.

Temos de acreditar que somos um Pais de gente crescida que sabe
enfrentar os seus problemas com frontalidade coragem e capacidade de
decisão, que sabe tomar medidas difíceis, e que às vezes, até consegue
tomar decisões em benefício das próximas gerações. E portanto tudo
isto se resolverá…

Mas não é fácil…

E cansa… cansa muito!

António Louro
(Presidente da Direcção)

http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2013/09/06c.htm

2 comentários:

Carlos Gonçalves disse...

De facto é óbvio que os fogos se devem a atos criminosos, porém não menos verdade é o total desinteresse que os proprietários dos terrenos têm na sua limpeza (onde se inclui o próprio Estado). Se vamos optar por compensações monetárias não tardará a que as matas sejam propositadamente deixadas ao abandono para colher indemnizações futuras. O que se devia exigir era tão somente o cumprimento da legislação em vigor relativa à limpeza das matas e das áreas previstas. Qualquer compensação pelos danos dos incêndios mais não será do que populismo. É hora das autarquias exercerem a sua função fiscalizadora onde caberia muito bem esta competência e levar-se a cabo a notificação dos proprietários mais distraídos. As autarquias não podem somente promover politicas eleitoralistas e devem zelar pelo interesse publico.

Anónimo disse...

As ZIF`s são uma grande vigarice patrocinada pelo lobbie das celuloses e da grande indústria da madeira que visa expropriar os pequenos e médios proprietários do seu direito de propriedade, depois de já os terem expoliado do seu legítimo direito ao justo rendimento fundiário. Á a esses lobbies que interessam os fogos para ter madeira barata.

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