quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Fim dos sistemas agroflorestais motivou aumento dos fogos, diz especialista

ONTEM às 12:250





inShareO especialista em planificação e defesa do espaço rural contra
incêndios Pedro Cortes aponta como razão estrutural para o fenómeno
dos incêndios em Portugal a desativação dos sistemas agroflorestais,
que passam a funcionar como rastilho.
"A primeira razão, que está no fundo e na raiz disto tudo, é a
desativação dos sistemas agroflorestais, das práticas agrícolas e
florestais, devido à inviabilidade económica de manter a atividade em
grande parte do país, pelo menos no centro e no norte e nas zonas
montanhosas", disse hoje à Lusa o engenheiro agrónomo.

Na sua opinião, tal "leva a um processo de abandono dos terrenos, que
deixam de funcionar como corta-fogos – um terreno cultivado funciona
para parar incêndios mas, quando é abandonado, há um desenvolvimento
enorme das ervas, da biomassa, etc., e passa a funcionar como rastilho
de incêndios, em caso da ocorrência de incêndios".


Por outro lado – indicou -, na parte florestal, deixaram de ser
aproveitadas matérias-primas que tradicionalmente o eram como "a
biomassa, os matos, etc." e não apareceram alternativas para o seu
aproveitamento.

"Os terrenos e a floresta têm andado, de um modo geral, bastante
abandonados e, portanto, temos, por um lado, a parte agrícola que já
não é corta-fogo e a própria floresta que tem acumulado cargas e
cargas combustíveis de muitos anos de abandono", resumiu.

"Como é uma situação que começou há 20 ou 30 anos, mas que se vai
acumulando todos os anos, o território está cada vez mais perigoso e
cada vez mais propenso a incêndios descontrolados como aqueles a que
temos assistido", defendeu.

Para Pedro Cortes, a solução passa, mais do que pela definição do
ordenamento do território, "se aqui deve ser agrícola e aqui deve ser
floresta", por fazê-lo "com viabilidade económica para os atores" que
depois vão ter de manter esses terrenos".

"Não basta num plano traçar o que deve ser e o que não deve ser, mas
tem de se arranjar forma de viabilizar as atividades económicas que
têm de manter o que se põe no papel, porque senão é impossível, é uma
coisa utópica, sem aderência à realidade", sustentou.

Nesse aspeto – prosseguiu -, "acho que agora, que se está numa fase de
reforma da PAC (Política Agrícola Comum), isso pode dar uma grande
ajuda [no sentido de] voltar a tentar arranjar formas de viabilizar as
atividades económicas em zonas há muito abandonadas, quer seja da
agricultura, floresta, pastorícia ou usufruto da natureza com a caça -
enfim, uma série de coisas, mas tem é de haver atividade para manter
as coisas".

Sobre a forma de atribuição dos subsídios, o especialista advogou que
"não devem ser em termos globais para apoiar uma atividade ou outra,
têm de ser subsídios um bocado territoriais, ou seja, com uma lógica
territorial, para serem eficientes".

E deu um exemplo: um subsídio "para viabilizar a atividade económica
num determinado vale agrícola, porque isso é eficaz para a defesa
contra incêndios".

"No mestrado que fiz em 1996/97, cheguei à conclusão de que por cada
hectare agrícola a mais que houvesse no concelho – isto era no
concelho de Pampilhosa da Serra -, ou por cada hectare de floresta
envolvente que fosse mantido, estatisticamente, arderiam menos cinco
ou seis hectares", frisou.

"Fazendo as contas, isto significava que havia aqui margem económica
para pagar ao agricultor que mantivesse essa atividade, mesmo que o
mercado não fosse suficiente para a manter. É para isso que servem as
políticas", acrescentou.

Segundo este especialista, "se se conseguir definir este tipo de
intervenções, há determinadas zonas estratégicas que, se forem
mantidas, têm um impacto muito grande em termos de prevenção de
incêndios e, portanto, aí deve haver apoios maiores do que noutras
onde esse impacto não é tão grande".

"Aí conseguimos, a meu ver, ter uma política bastante eficiente, e com
os recursos que existirem analisados de forma mais cirúrgica para
esses locais podemos ter resultados melhores do que se eles forem
distribuídos sem muita lógica territorial, ou seja, dados
genericamente para apoiar uma atividade", concluiu.
Diário Digital com Lusa

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=586103

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