quinta-feira, 27 de novembro de 2014

As vinhas extraordinárias das encostas de Portalegre


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Por Rui Falcão
21.11.2014

A existência de vinhas velhas plantadas em encostas de altitude ou a variedade de castas combinadas com o exclusivismo de apostas em variedades raras e exóticas como a Grand Noir são apenas duas das muitas condições que tornam Portalegre um caso raro. No Alentejo e no país. Passado um tempo de procura de novidades, as vinhas de Portalegre voltam a ser procuradas. Com justa causa.
A vida do vinho é feita de ciclos e mudanças, evoluções e revoluções. Os juízos e os valores vão-se adaptando às novas realidades, os conceitos e as prioridades vão mudando com o passar das colheitas e as tendências dos mercados, as causas e os princípios renovam-se a cada ano de acordo com os novos ditames e os novos costumes.

A realidade e o elogio de hoje podem ser o passado e o pecado do amanhã. Os exemplos destas mudanças de fé e de paradigma, por vezes provocadas ou aceleradas por constrangimentos económicos, abundam neste mundo tão peculiar do vinho.

As modas mudam ciclicamente e tudo se transforma. Se num passado muito recente se procurava realçar a madeira nos vinhos com a utilização abusiva de tostas e madeira nova, hoje foge-se desses excessos com uma aposta radical nas subtilezas e na evidência dos vinhos feitos com barricas usadas; se num passado recente se começou a valorizar e promover as castas internacionais, hoje volta-se a sentir orgulho sentido pelas variedades nacionais, apostando na afirmação da originalidade e da diferenciação em relação aos restantes países e regiões produtoras.

No Alentejo assistimos a um movimento relativamente semelhante no princípio, uma transição pacífica entre os lugares de eleição, uma mudança perceptível de destino e de estilo dos vinhos mais valorizados. Num passado muito recente, o sul do Alentejo tinha-se convertido num dos principais destinos do investimento de novos e velhos produtores. Investimento quase sempre bem pensado e bem executado, com grande sucesso factual e empresarial. Investimento que levou à nascença de novos territórios para o vinho alentejano, avançando por terras que até ao momento não contavam com qualquer tradição histórica na produção de vinho.

Foi assim que as terras quentes a sul de Beja, onde a vinha nunca antes tinha sido plantada, ganharam uma relevância e disponibilidade de que nunca antes tinham gozado. Não fora a ventura da rega e o investimento pesado em barragens e captações de água e o sul do Alentejo continuaria ainda hoje a ser terra fechada ao cultivo da vinha.

Mas o homem conseguiu conquistar esse pedaço mais quente, seco e árido do Alentejo e os resultados estão à vista, visíveis nos vinhos de sucesso que um par de produtores visionários colocou no mercado, transformando terras inóspitas em oásis de viticultura que o mercado aceitou com agrado. Muitos outros produtores rumaram ao sul e muitos outros projectos emergiram na região. Mas não é difícil perceber uma mudança na atitude e na filosofia; não é difícil perceber que as inclinações estão a mudar e que hoje já quase só se fala do norte do Alentejo, das terras de Portalegre e da Serra de São Mamede, convertidas na nova Meca do vinho alentejano.

Eventualmente a reboque das tendências internacionais que reclamam por vinhos mais frescos e ligeiros, com mais acidez e menos doçura, com mais personalidade e de espírito mais irrequieto, Portalegre transformou-se no local onde todos querem estar e onde todos procuram ter uma vinha.


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