sábado, 27 de fevereiro de 2016

As cheias e a erosão dos solos

Publicado  no "Linhas  de Elvas" de 25 de Fevereiro de 2016


Miguel Mota

O solo agrícola é algo muito precioso. É ele que está na base da agricultura, seja um pequeno canteiro de alfaces ou uma floresta. Leva dezenas ou centenas ou milhares de anos a formar, mas pode ser destruído em pouco tempo. Há que tudo fazer para o conservar e melhorar.
A área agrícola tem vindo a sofrer reduções muito grandes, com o incremento das áreas ocupadas pelas construções para habitação, indústria, estradas, caminhos de ferro e aeroportos. As recentes cheias, que assolaram várias regiões do país, vieram lembrar outro mal, que é a degradação do solo agrícola em consequência da erosão a que tem estado sujeito.
Aquelas imensas quantidades de água da cor de chocolate arrastam para o mar muitas toneladas da parte mais preciosa do solo de onde foi arrancada.
A melhor forma de combate, para evitar ou reduzir os males das cheias, é actuar sobre toda a bacia de recepção, a área onde cai a água que se vai acumular nas zonas mais baixas, a caminho para um rio ou o mar. Esse combate visa que toda ou parte da água caída nessa área se infiltre no solo. Nas zonas montanhosas, é normalmente possível com a arborização, de forma a conseguir reter a água. Também são úteis, para reter a água e reduzir a sua velocidade, as pastagens de montanha, quando é possível instala-las. Note-se que estas ações têm interesse económico, além da sua importância para evitar ou atenuar as cheias. E a água que se infiltra vai aumentar os aquíferos, um outro ponto importante. As lavouras segundo as curvas de nível são outra forma de evitar o escorrimento superficial.
Por várias vezes lembrei – e outros também o fizeram – que é muito importante a arborização da serra do Algarve, uma faixa de cerca de 100 km de comprimento e 20 km de largura, que vai da serra de Monchique até perto da fronteira com Espanha. Quase toda descarnada, apenas com alguns pontos arborizados é, em grande, parte pouco ou nada produtiva e incapaz de reter a água. Disso muito se ressentem os aquíferos da zona baixa, uma faixa de cerca de 20 km de largura. Monchique, a única parte bem arborizada, é uma boa indicação do que pode ser o resultado da arborização.
Quando, apesar do que se fizer, ainda muita água corre em ribeiras, especialmente com grande inclinação, há processos de correcção torrencial, para atenuar a velocidade  da água. No século XX Portugal teve um especialista nessa técnica, o Engenheiro Silvicultor Mário Galo, que deu um bom contributo para a correcção torrencial, através de pequenas barragens de lajes.
Naturalmente, quando a precipitação é muito intensa em curtos períodos ou é muito prolongada, como já tivemos este ano de 2016, mesmo com as melhores técnicas é impossível evitar muitos males.

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