quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

2012, aposta decidida no mercado externo

OPINIÃO
Pedro Pimentel

Como é sabido, a contracção do poder de compra e do consumo, a pressão
das marcas brancas e das cadeias de distribuição e a crescente
importação de leite e produtos lácteos, tem vindo a minar
sucessivamente a rentabilidade das empresas do sector lácteo.
Muitas delas, em função da sua dimensão, estão praticamente impedidas
de colocar os seus produtos nas prateleiras das maiores cadeias
comerciais, sendo que as seis maiores valem 85% do mercado nacional.
Por outro lado, Portugal é, desde meados da década de noventa,
autosuficiente, produzindo aproximadamente mais cinco por cento de
leite em natureza, do que o total do seu consumo.

Por isso e também por força das já referidas importações, o nosso país
coloca todos os anos fora de fronteiras, sob as mais diversas formas,
entre 12 e 16 por cento do leite que produz.
Porém, uma parcela que excede os 80 por cento do total exportado é
direccionada para o mercado espanhol, sendo que uma percentagem
razoável dessas saídas (estimada em mais de 50%) se refere à colocação
no país vizinho de volumes de leite a granel, sem qualquer valor
acrescentado, aproveitando o déficit permanente de aprovisionamento da
fileira do leite espanhola.
Os volumes restantes têm vindo a ser colocados nos mercados externos
através de operações continuadas ou de situações pontuais de
exportação para diversos países na Europa, em África e no continente
americano, aproveitando - em muitos casos - as comunidades portuguesas
espalhadas pelo mundo.
Ainda assim, e no total, em 2010 saíram do país de 380 milhões de
litros de equivalente-leite e quase 270 milhões de euros, dos quais 45
milhões de euros e 25 milhões de litros tiveram como destino países
fora da União Europeia.
Julgo, no entanto, que é possível e, mais do que isso, decisivo,
melhorar estas performances: aumentar os volumes exportados, aumentar
os volumes exportados transformados, aumentar os volumes exportados
com mais elevado valor acrescentado, valor que ficará em Portugal e na
fileira do leite portuguesa.
Não se pode esquecer que em face das características dos produtos, em
especial ao nível da perecibilidade, as exportações assumem contornos
bastante diferenciados, quando o respectivo destino forem mercados de
proximidade, ou quando a comercialização seja direccionada para
mercados mais distantes.
Deve também recordar-se que a reduzida dimensão da larga maioria das
empresas lácteas nacionais, o limitado histórico de presença nos
mercados internacionais e o desconhecimento desses mercados
relativamente aos produtos lácteos portugueses, a definição dos canais
de exportação e o desenho do processo de distribuição dos produtos,
bem como a limitação ao nível de recursos humanos direccionados e
especializados nestas áreas e as barreiras alfandegárias e não
alfandegárias existentes em vários países, constituem sérios
obstáculos ao desenvolvimento das exportações de lacticínios
portugueses.
Por tudo isto, estes obstáculos dificilmente poderão ser ultrapassados
sem uma aposta em acções de cooperação, em especial nas áreas da
avaliação dos mercados e da negociação comercial, mas também nas áreas
da logística e da distribuição.
Para o desenvolvimento dessa cooperação - pelo menos numa fase inicial
- é fundamental o apoio das estruturas públicas, que possam 'pilotar'
o processo de aprendizagem das empresas e ajudá-las a seleccionar os
melhores interlocutores.
Torna-se também fulcral um foco reforçado na organização comercial de
retaguarda, por exemplo através da constituição de agrupamentos de
empresas complementares entre si, que agrupem os produtos num esforço
conjunto de distribuição e que permitam alargar o portfolio da oferta,
melhorando a capacidade negocial com os canais de comercialização.
Outra hipótese refere-se à criação de consórcios sectoriais, regionais
ou de produto, que permitam reforçar a oferta, garantindo condições
para um fornecimento continuado e que possuam, igualmente, uma vocação
de promoção do produto e defesa da marca.
Este é, sem dúvida, um desafio que tem que ser encarado, atacado e vencido.
E 2012 terá que ser o ano para o fazer.
Sem hesitações!...
Porto, 29.11.2011
Pedro Pimentel
Presidente da Direcção da Associação Nacional dos Industriais de
Lacticínios (ANIL)
http://www.agroportal.pt/a/2011/ppimentel5.htm

Sem comentários:

Enviar um comentário