domingo, 18 de março de 2012

Seca esgota comida para animais e preço do feno chegou a disparar 80%

17.03.2012 - 19:03 Por Ana Rute Silva
Seca está a afectar diversas culturas em Portugal
(Nelson Garrido)
Sem pastagens, aumentou a procura dos chamados alimentos grosseiros,
como fenos e palhas. Quebras de produção rondam os 41% e a subida dos
custos está a sobrecarregar os agricultores em todo o País.
Em algumas zonas do Norte ainda não foram plantadas batatas. As
reservas de alimentos para os animais estão a esgotar-se e o preço dos
fardos de palha e feno aumentaram 30%. Na região Centro, a escassez de
oferta de feno fez disparar os preços até 80% e as searas têm "mau
aspecto". Esperam-se quebras entre os 10 a 50% na produção de cereais.
O cultivo de couves, grelos e nabos ressente-se da falta de humidade.
O diagnóstico traçado no segundo relatório elaborado pelo Grupo de
Acompanhamento e Avaliação dos Impactos da Seca é desolador. Se não
chover nas próximas semanas, há searas na zona Norte que estarão
"irremediavelmente perdidas". Aqui, as quebras de produção chegam aos
40%. Os animais estão a ser mais alimentados com suplementos e rações,
o que, na região Centro, já está a afectar a produção de leite de
ovelhas e cabras.

Os produtores estão a recorrer às reservas de comida para os animais
destinadas ao Verão e, numa tentativa de travar o aumento de custos,
vendem cabeças de gado. Contudo, em Lisboa e Vale do Tejo, os
compradores de gado "estão a manifestar menor interesse na compra de
animais e a oferecerem preços mais reduzidos". Nesta região, a
pecuária extensiva e as pastagens de sequeiro são as actividades que
mais estão a sofrer com a falta de água e, no relatório, o grupo
criado pelo Ministério da Agricultura diz mesmo que a situação actual
é "bastante preocupante e está a agravar-se de dia para dia".
O cenário nacional mostra uma quebra de produção que ronda os 41,4%,
média não ponderada, de acordo com os cálculos do PÚBLICO. A
diminuição da produtividade atinge em maior escala as culturas
forrageiras, prados, pastagens, sobretudo na região Centro, Lisboa e
Vale do Tejo e Alentejo. Segue-se o cultivo dos cereais de Outono e
Inverno (como o trigo, aveia ou centeio) que caiu até 50%.
Os custos de produção, com a água e energia, estão a sobrecarregar os
agricultores, obrigados a regar com mais intensidade "do que é normal
para a época as culturas de regadio" (hortícolas e citrinos, por
exemplo). Com a quebra das reservas hídricas e as temperaturas
elevadas, os produtores estão a adiar as novas culturas.
No Alentejo, a próxima campanha de regadio está ameaçada e já se
perderam searas. Alguns produtores "optaram por não semear ou não
concluir as sementeiras". As reservas de alimentos para os animais
também estão praticamente esgotadas.
A seca atinge Portugal Continental desde Dezembro e de acordo com os
dados mais recentes do Observatório de Secas do Instituto de
Meteorologia, o cenário agravou-se na primeira semana de Março. Em
Portugal Continental, a ausência de precipitação fez subir de 32 para
53% o território em seca extrema. Os restantes 47% do território estão
em seca severa. No balanço anterior, conhecido a 1 de Março, 68%
estava em seca severa e 32% em seca extrema.
A pedido de Portugal, a falta de chuva vai ser discutida na próxima
reunião dos ministros da Agricultura da União Europeia, agendada para
terça-feira. Em cima da mesa estarão os prejuízos provocados pela seca
na Península Ibérica. Portugal e Espanha tencionam abordar temas como
o adiantamento dos pagamentos de ajudas directas, a autorização para
medidas de compensação aos agricultores e a flexibilização nas
condições do regime de prémios para vacas em aleitamento.
Na reunião vai estar o secretário de Estado da Agricultura, José Diogo
Albuquerque; a ministra Assunção Cristas inicia uma vista oficial a
Angola na próxima semana.
O Governo aprovou, quinta-feira, um pacote de dez metidas para atenuar
os prejuízos provocados pela seca que, no total, valem 90 milhões de
euros.
http://economia.publico.pt/Noticia/seca-esgota-comida-para-animais-e-preco-do-feno-chegou-a-disparar-80-1538336

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