quinta-feira, 12 de maio de 2016

Agricultura portuguesa resiste a conjuntura internacional desfavorável

O embargo russo e as dificuldades económicas de países como Angola, e Brasil estão a fazer "alguma mossa" ao setor agrícola, mas as exportações continuam a crescer, segundo o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).
   
"O desempenho do agroalimentar não é tão negativo como o global da economia", sublinhou João Machado, à margem da primeira conferência do 1.º Roteiro 2020 para a Agricultura Portuguesa, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

Na terça-feira, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou que, no primeiro trimestre do ano, a balança comercial registou um agravamento de 133 milhões de euros e as exportações caíram 3,9%, mas a agricultura continua a substituir importações.

"Estou convencido de que a agricultura este ano, mesmo prescindindo de parte das exportações para estes mercados, vai conseguir chegar ao fim do ano com um saldo positivo. Globalmente, as exportações estão a crescer, mesmo para fora da União Europeia", considerou o responsável da CAP, salientando também o progresso no mercado interno.

Exemplo disto são os hortícolas que têm crescido "imenso nos últimos anos" e, segundo João Machado, representam, juntamente com as frutas, a maior fatia das exportações portuguesas do setor, ultrapassando os mil milhões de euros.

"O que se come em cru em Portugal está a ser cada vez mais produzido em Portugal", adiantou, explicando que houve melhorias tecnológicas que permitiram aumentar a produção de frescos como rúcula, cenouras ou beringelas, e promover os chamados produtos de quarta gama (embalados e prontos a consumir).

Portugal tem vindo também a aumentar a produção de batatas e cebolas, por exemplo na região do Alqueva, e de arroz, um campo onde houve "grandes investimentos" e em que o país se destaca como produtor, mas sobretudo consumidor, com os maiores consumos 'per capita' na Europa.

Quanto à busca de novos mercados, tem sido "incessante", realçou o presidente da CAP, notando, no entanto, que quando se deixa de exportar para um determinado mercado, as alternativas não são imediatas.

"Isso não existe. (...) Obviamente, quando se deixa de exportar, sobra, ponto final. Criar novos mercados é aquilo que os empresários agrícolas estão a fazer há anos, mas não é uma opção estratégica, não é 'acabou um mercado e temos ali outro à espera'", enfatizou.

A Rússia, um mercado emergente, onde a agricultura portuguesa estava a dar os primeiros passos é um caso paradigmático que se fechou depois de "uma década a investir".

"No dia em que foi feito o embargo já exportávamos seis mil toneladas de pera-rocha para a Rússia. Hoje exportamos zero e a pera que é consumida na Rússia vem da América do Sul. Quando acabar o embargo vamos levar outra década para voltar a introduzir a pera-rocha", exemplificou o presidente da CAP.

João Machado salientou a importância de mercados como o Médio Oriente e algumas regiões asiáticas, mas notou igualmente que a dificuldade dos licenciamentos e o trabalho burocrático implicam que os 'dossiers' se arrastem ao longo de vários anos, travando a comercialização.

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