quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Reflorestação do Pinhal de Leiria será exemplo para “fazer diferente e melhor” na floresta, diz Costa


22.01.2018 às 19h22
 
RUI MIGUEL PEDROSA/LUSA

Primeiro-ministro plantou esta segunda-feira simbolicamente, com alunos das escolas de Vieira de Leiria, as primeiras árvores para a reflorestação do Pinhal que perdeu 86% da sua área total. Estratégia de reflorestação apresentada na Marinha Grande fica concluída em seis meses e será aplicada em cinco anos

A reflorestação do Pinhal de Leiria vai ser um processo de "extraordinária importância" e uma "oportunidade de fazer diferente e fazer melhor" na gestão, ordenamento e preservação das florestas portuguesas. A ideia foi esta segunda-feira defendida pelo primeiro-ministro, notando que as "realidades estruturais" que o país terá de enfrentar "serão pelo menos o desafio para uma década".

"O que aconteceu [no pinhal de Leiria] não foi obra do acaso. Foi obra de profundas transformações que o nosso território sofreu ao longo de décadas", defendeu António Costa, elencando a desvitalização do interior, o desordenamento da floresta e as alterações climáticas como um triângulo de fatores que obrigam a repensar a gestão florestal.

As palavras de António Costa foram proferidas na Marinha Grande, no final da cerimónia de apresentação da estratégia de recuperação do Pinhal do Rei, em Leiria, que no dia 15 de outubro foi atingido por um incêndio que destruiu cerca de 86% da sua área total, o que representa quase 9,5 mil dos mais de 11 mil hectares de árvores que o pinhal tinha até então.

As principais ações planeadas nesta estratégia incluem um plano de corte plurianual faseado com duração até 18 meses e um plano de reflorestação a concluir até julho de 2018 e cuja aplicação terá a duração de cinco anos.

ORDENAMENTO MAIS RESILIENTE
Antes da cerimónia, num momento simbólico, o primeiro-ministro plantou, acompanhado do ministro da Agricultura e do secretário do Estado das Florestas, alguns sobreiros com alunos das escolas de Vieira de Leiria num dos primeiros talhões preparados para a recuperação do pinhal de Leiria.

"Temos de ter este território preparado para resistir a estes fenómenos. Temos de ter casas mais resilientes e ordenamento florestal mais resiliente. Não podemos ter monoculturas ou culturas extensivas de espécies altamente combustíveis. Temos de ter mais presença na floresta, é necessário fazer um esforço muito grande de reordenamento e ter também um sistema de prevenção e combate diferente do que tínhamos", insistiu Costa.

Num discurso em que recordou que a reforma da floresta que "estava inscrita no programa do governo em 2015 tem mesmo de ser levada para a frente", Costa assumiu as "resistências" que o Governo terá de enfrentar. Nomeadamente no caso do cadastro florestal que se terá "mesmo de fazer".

Dividindo o plano de ação do Governo entre "tarefas de médio e longo prazo" e "tarefas imediatas", Costa defendeu que "é preciso reflorestar já este pinhal" e lembrou que a primeira resposta do Governo às tragédias dos incêndios de 2017 foi "ajudar as vitimas afetadas pelos incêndios".

"Daí os apoios de emergência a agricultores, empresários e famílias. Até ao momento já foram despendidos 46 milhões de euros no apoio a agricultores, 26 milhões no apoio a empresários, já estão a ser pagas as primeiras indemnizações pela irreparável perda de vítimas mortais e passo a passo têm sido reconstruídas as primeiras habitações", sintetizou.

COMISSÃO CIENTÍFICA AVALIA PLANO DE REFLORESTAÇÃO
Na cerimónia de apresentação da estratégia para a recuperação deste pinhal foram também assinados um acordo de cooperação para a criação de uma comissão científica do programa de recuperação de matas litorais e um protocolo de criação do observatório local do Pinhal do Rei.

A comissão científica terá como principais objetivos a recolha, compilação e sistematização da informação técnica e científica sobre gestão das matas litorais. A seu cargo estará também a avaliação dos planos de gestão florestal, a execução de ações de divulgação de boas práticas para a recuperação de áreas ardidas na zona litoral e o treino e formação de técnicos e equipas especialistas no planeamento e implementação de todas as ações necessárias à gestão e recuperação das matas litorais.

O Observatório Local do Pinhal do Rei fará a avaliação do plano de recuperação daquele pinhal, apresentará propostas de ordenamento e fará também a articulação com instituições, organismos, empresas e particulares que apoiem ou financiem atividades de recuperação do pinhal.

UM MILHÃO DE TONELADAS DE PINHO PARQUEADO
Na mesma cerimónia, o secretário de Estado das Florestas, Miguel Freitas, defendeu que a estratégia agora lançada é "um primeiro e decisivo passo e na estratégia para as matas públicas e perímetros florestais do litoral", que permitirá "iniciar um caminho para ter um pinhal diferente daquele que existia até aqui".

Recordando que até ao dia 14 de outubro, véspera do incêndio no pinhal de Leiria, o país não tinha sido atingido "em matas nacionais por nenhum incêndio, Miguel Freitas lembrou também as condições extraordinárias que conduziram à perda de 86% da área deste pinhal. Nomeadamente "os recordes de temperaturas máximas e severidade extrema sentidas" a 15 de outubro e as "450 ingnições no mesmo dia, que tiraram a capacidade operacional a quem combate incêndios".

Sobre os cerca de "um milhão de toneladas de pinho ardido" naquele pinhal, Miguel Freitas constatou também que é "essencial para estabilizar o mercado do pinho em Portugal". Por isso, o Governo decidiu o "parqueamento entre 9 meses e três anos" desse pinho ardido. "A indústria do pinho vai ter um momento muito complicado. Este parqueamento vai ser importante para que não tenha uma quebra", defendeu.

No final da cerimónia, em declarações aos jornalistas, Rogério Rodrigues, presidente do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, estimou que a madeira ardida nas matas nacionais em 2017 poderá ter um valor de mercado na ordem dos 33 milhões de euros.

Sem comentários:

Enviar um comentário