quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

"Conjugar austeridade com políticas ambientais"

FRANCISCO FERREIRA
por Rui Marques SimõesHoje

Fotografia © Leonardo Negrão/Global Imagens
A crise podia ser a oportunidade para Portugal optar por políticas de
desenvolvimento sustentável, mas o País está a passar ao lado dessa
oportunidade. Esta ideia marcou a presença de Francisco Ferreira no
debate promovido ontem pelo DN.
"A desculpa da crise vai custar-nos muito mais caro", frisou o membro
da associação ambientalista Quercus.
"Tenho uma preocupação muito grande e imediata, que diz respeito aos
países em crise financeira, como Portugal: o ambiente está a sair de
cena. A crise não nos permite ter dinheiro para lidar com os problemas
ambientais", alertou Francisco Ferreira, também professor da Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Na opinião do
ambientalista, que foi membro da direção da Quercus de 1996 a 2001,
Portugal entrou numa situação de "contraciclo", no que respeita a
preocupações ambientais.
"Não estamos a fazer nem a dar resposta com
políticas de médio, longo prazo. Passámos do 80 ao oito", descreveu,
lembrando que esse comportamento terá um preço: "Isso vai custar-nos
de um ponto de vista económico, financeiro e ambiental."
As políticas ambientais dos governos - ou a falta delas - também
estiveram na mira de Francisco Ferreira. "Portugal tem tido uma
postura de país novo-rico, esbanjador", acusou o docente
universitário. "Precisamos de uma política coerente, mais vale ter
poucas decisões mas boas do que muitas sem resultados", sublinhou, por
entre críticas às opções da tutela: "Energia e alterações climáticas
são fundamentais, mas o Estado suspendeu os apoios à eficiência
energética e energias renováveis." "O aparelho do megaministério [da
Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território] não
está a funcionar", acusou.
Agora, a reestruturação do País, motivada pelo empréstimo da troika,
podia ser a chance para uma consciencialização ambiental. "Temos de
conseguir conjugar austeridade com políticas ambientais", apontou
Francisco Ferreira, desgostoso por o memorando de entendimento com a
troika não incluir medidas "verdes". "Faz-me impressão ver que o
grande objetivo é o crescimento. Nós não podemos crescer numa lógica
de maior consumo. Só há um país, a Costa Rica, que está acima do
limiar de desenvolvimento humano e, ao mesmo tempo, tem uma pegada
ecológica sustentável. Se vivêssemos todos como a Costa Rica chegaria
um mundo. Mas, da forma como estamos, ele é insustentável. Precisamos
de distribuir melhor os recursos", frisou. De resto, o próprio mundo
continua à espera de um acordo geral de medidas ambientais que
substituam o Protocolo de Quioto. Da cimeira [sobre alterações
climáticas] de Durban saiu a promessa de acordo para 2020, mas aí é
tarde demais", garantiu. Ainda assim, Francisco Ferreira promete
continuar a lutar por um futuro melhor: "A missão das associações
ambientalistas é não desistir."
Francisco Ferreira
- Tem 45 anos
- Foi presidente da Quercus de 1996 a 2001 e membro da direção até fins de 2011
- É professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade
Nova de Lisboa
- Natural de Setúbal, doutoutorado em Engenharia do Ambiente e
especialista nos termos de energia e clima, Francisco Ferreira é um
nome histórico da Quercus. É o dinamizador do "Minuto Verde", magazine
televisivo sobre o ambiente que passa na RTP 1 e vai completar seis
anos no dia 6 de março.
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2320390&page=-1

Sem comentários:

Enviar um comentário