quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Portugueses se voltam para a agricultura, como saída

De Thomas CABRAL (AFP) – Há 6 horas
AMARANTE, Portugal — "Um agricultor nunca passa fome", exclama com
orgulho o jovem César Teixeira enquanto colhe limões nas colinas de
Amarante, região do norte de Portugal onde, em resposta à crise,
muitas pessoas se associaram para produzir frutos, legumes e,
principalmente, cogumelos.
Padeiro durante a madrugada, ele dedica seus dias aos kiwis, mirtilos
e outros cítricos que cultiva nas terras dos sogros há um ano e meio.
"Meu objetivo é criar meu próprio emprego e, quando minha plantação
atingir todo o seu potencial, abandonarei meu outro emprego para ser
agricultor em tempo integral", diz o homem, de 25 anos, convencido de
que sua geração "vai saber tirar o máximo da agricultura para fazer
dela um meio de subsistência para Portugal".

No setor da construção civil e hotelaria, que impulsionavam a economia
local, "os caminhos estão fechados para os jovens", explica este
camponês cheio de entusiasmo, que pensa em se somar a outros
produtores para se lançar no setor de exportação.
Aos 36 anos, Pedro Catão também acaba de descobrir uma vocação
agrícola. Atingido em cheio pelo cancelamento de grandes obras
públicas, consequência da política de austeridade seguida pelo
governo, em troca de uma ajuda financeira da UE e do FMI, este
empreendedor precisou abandonar seu negócio de atacadista de material
de construção.
Se ele ainda guarda, "principalmente por motivos sentimentais", a loja
de ferramentas e ferragens, herdada do pai, seu futuro profissional
passará pela produção de 'champignons', cogumelos.
Com as variedades 'pleurotes' e 'shitakes' que ele pensa vender para
Espanha, França e Alemanha, Pedro Catão calcula um lucro anual de 10
mil a 12.000 euros até 2015, que vai garantir a ele "um rendimento
suplementar" e criar tantos empregos quanto os que foram suprimidos na
região.
"A crise se abateu sobre nós de improviso, mas a construção civil
nunca mais será a mesma", afirmou.
Num contexto de recessão econômica e de esgotamento do crédito
bancário, este novo caminho para a agricultura seria impossível sem a
ajuda europeia que permite aos novos agricultores investir até 75.000
euros, praticamente sem capital próprio.
Desde maio de 2008, 5.200 novos projetos de jovens agricultores foram
criados em Portugal. Na região de Amarante, "o número de produtores
teve um aumento de cerca de 20% no ano passado, e nós ajudamos a criar
30 novos projetos, seguindo o exemplo dos cogumelos", precisou Lourdes
Cardoso, engenheira agrícola da Associação dos Agricultores de Riba
Douro.
"As pessoas estão desesperadas, principalmente os jovens ou os casais
desempregados, disse. Então, voltam-se para a agricultura, para a qual
só é preciso um pequeno pedaço de terra, além de ser o único setor que
ainda se beneficia das ajudas públicas."
No momento em que as taxas de desemprego atingiram no final de 2011 um
nível recorde de 14%, e mais de 35% entre os portugueses de 15 a 24
anos, os exemplos de César Teixeira e Pedro Catão fazem sonhar.
"Constantemente solicitada por pessoas que procuram uma saída para a
crise", Lourdes Cardoso organizou um serviço de informação nas
dependências da associação. Mais de 20 candidatos responderam ao
chamado.
Eletricista desempregado há dois anos, Nuno Pereira, 25 anos, veio com
a namorada, Inês Alves, animadora cultural que, aos 24 anos, nunca
trabalhou. "Nós ouvimos dizer que os cogumelos iam bem por aqui",
explicou Nuno.
"Não encontro trabalho e não tenho nenhuma perspectiva, afirmou. Como
meu pai tem um pequeno lote de terra, quero aproveitar para me lançar
na produção de 'champignons' e tentar construir alguma cois para mim."
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