quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Nas Conferências da Revista VIDA RURAL, o sector do Azeite defendeu uma aposta contínua nas exportações

Quinta-feira, 11 de Outubro de 2012





Apostar na qualidade do azeite, na gestão sustentável e em mercados
externos mais diversificados foram alguns dos desafios deixados pelos
especialistas do sector olivícola na conferência «Olival e Azeite - Os
novos desafios do mercado», a 10 de Outubro, em Lisboa.


Para os participantes no encontro, Portugal deve manter o actual nível
das exportações superior as importações

O mercado de azeite cresce em Portugal, a cada ano, em produção e
consumo. Um mercado que oferece grandes possibilidades de incremento
exportador em novos países consumidores, como os EUA e o Brasil. Por
sua vez, o olival ocupa uma área crescente de terreno em Portugal,
sobretudo no Alentejo. Neste momento o país já exporta mais do que
importa, permitindo igualmente um reconhecimento internacional
importante.

Foi este o mote do encontro, que deu início à discussão em torno das
«Novas técnicas de condução do olival em sebe», através de Marisa
Fernandez, da empresa espanhola Todolivo, no mercado desde 1985, e que
há dez anos utiliza tecnologias e maquinaria avançada no sector do
olival. «Está claramente provado que os custos de produção podem ser
menores e a produtividade é o grande sucesso deste tipo de cultura»,
garantiu.

«O olival de sebe é uma excelente alternativa para a produção de
azeite 100% virgem extra, sobretudo se a tecnologia que utilizarmos
for devidamente utilizada», considerou a responsável, acrescentando
que este sistema de cultivo «permite uma gestão mais eficaz durante o
ciclo produtivo, desde a assistência técnica ao olival ou à utilização
de máquinas modernas para apanha da azeitona em oliveiras em sebe».

Marisa Fernandez realçou igualmente que neste tipo de sistema, «de
grande capacidade e com os mais rigorosos sistemas de controlo de
qualidade para a produção de azeite virgem extra, a produtividade e a
rentabilidade da colheita é muito maior» sobretudo se a comparação for
com os sistemas de cultura tradicional, «onde há falta de
rentabilidade, custos de produção elevados e perda de qualidade».

Para a técnica da Todolivo, um sector olivícola com sustentabilidade
tem igualmente de ter em conta «os baixos preços existentes no sector»
bem a «concentração da distribuição que influi nos preços». Por tudo
isto, considerou ser «fundamental apostar em tecnologias que promovam
a qualidade, racionalizando os custos».

Ou seja, o olival em sebe, quando bem gerido, promove «elevados
índices de produtividade, baixos custos de produção e altos benefícios
sem necessidade de recorrer a subsídios», frisou.

Consumo per capita aumentou em Portugal:

A Manuela Nina Jorge, da Agrogés, coube a exposição sobre a «Análise
de rentabilidade em diferentes tipos de olival». A especialista
realçou que, a nível mundial, «o azeite está limitado em termos de
produção», sendo que actualmente 95% da superfície do olival está
concentrada na Bacia Mediterrânica. Países como Espanha, Itália,
França, Grécia e Portugal têm a seu cargo 72% produção mundial.

Os dados recentes sobre o sector indicam que na UE, Portugal
representa 3,3 % da produção. «Nos últimos 15 anos verificou-se um
crescimento de 37% a nível mundial, sendo que a UE representa 63% do
consumo mundial», informou.

A responsável da Agrogés sublinhou também que «o consumo tem aumentado
em países que, até agora, não eram tradicionalmente consumidores»,
como é o caso dos Estados Unidos, país que, na lista se posiciona
imediatamente a seguir à Itália e à Espanha, no segmento do mercado de
consumo. «Já na UE, os principais produtores são, paralelamente, os
principais consumidores». E são eles Itália, Espanha, Grécia e
Portugal.

Outra mudança, «positiva», registada nos últimos anos em Portugal, diz
respeito ao consumo de azeite per capita, onde o nosso país tem
alcançado índices «consideráveis». «Apesar da crise económica, o
consumo per capita aumentou, tendo descido nos restantes países
consumidores», disse, lembrando que tal facto pode estar associado à
cada vez maior substituição de outras gorduras pelo azeite,
«conhecidos que são os benefícios deste para a saúde».

Em Portugal, explicou, «houve investimento em áreas novas», ainda que
o país «mantenha praticamente os mesmo níveis de área registada nos
anos 90, à volta de 350 mil hectares de cultivo».

No que respeita à produção, há duas regiões que se mantêm muito
produtivas, e que se destacam do restante território olivícola:
Trás-os-Montes e Alentejo (esta última região registou, em 2011, um
aumento significativo, sobretudo com apostas em olival intensivo e
superintensivo).

«Também a qualidade do azeite melhorou bastante na última década.
Globalmente, devido à melhoria do grau de acidez mas também na
concepção da produção e com a melhoria dos lagares», salientou. No que
toca aos lagares, Manuela Nina Jorge lembrou que as novas normas de
higiene, resíduos e obrigações ambientais, potenciaram a «exigência».
«Muitos lagares viram-se obrigados a fechar as portas. Por outro lado,
aumentou bastante a transformação das colheitas, por exemplo, em
lagares industriais».

E na exportação, que «tem vindo sempre a aumentar», Portugal
conseguiu, pela primeira, ao fim de 12 anos, obter no sector do
azeite, uma balança comercial positiva. «O valor da exportação do
azeite é mais valorizado do que o que importamos. O que prova que
Portugal é um país com excepcional vocação exportadora». E os números
provam isso mesmo. O Brasil é o principal destino do azeite português,
importando duas vezes mais do que toda a UE, seguindo-se Espanha e
Angola.

«O mercado brasileiro representa 65 % das exportações nacionais e 50%
do consumo do azeite no Brasil», afirmou Manuela Nina Jorge. Contudo,
alertou para a necessidade de Portugal «se abrir a novos mercados» já
que «pode ser perigoso a concentração de marcas apenas no Brasil».

No final da sua intervenção, a especialista lembrou que na última
década, o nosso país «duplicou a produção e o consumo de azeite,
registaram-se melhorais na qualidade do azeite, verificaram-se
investimentos consideráveis de olival, sobretudo no Alentejo, bem como
foi notório um aumento do consumo global». «Tudo isto fez com que a
linha exportadora alcançasse níveis de topo. Continuar esta aposta é
decisivo para o futuro do sector e da nossa economia», finalizou.

«Melhor azeite, com custos controlados»:

Ana Carrilho, da empresa Olivais do Sul, fez uma exposição sobre a
«Gestão da produtividade e da qualidade do azeite», numa abordagem à
optimização na extracção de azeite. E começou por se dirigir aos
produtores: «nos tempos actuais, temos que produzir mais barato e cada
vez com maior qualidade. E temos de o fazer, sacrificando os custos,
tendo custos mais controlados para também as nossas empresas serem
mais sustentáveis».

A responsável prosseguiu enumerando os factores fundamentais para
obter, desta feita, um azeite de qualidade. «Há factores que
determinam a qualidade do azeite, intrínsecos, que não podemos
modificar, como o clima, o solo, variedade, localização. Mas, depois,
temos os extrínsecos, que podem ser trabalhados, como a colheita, a
rega, as práticas culturais, a fertilização, poda, tratamentos,
fitossanitários, transporte, etc.».

Na elaboração, «é fundamental a separação por variedades da azeitona,
por qualidade e atingir o grau de maturação desejável, grau esse que
define as características organolécticas do azeite».

Também o uso de materiais inertes é essencial: «é importante impedir o
esmagamento da azeitona, calcular o tempo de armazenamento, ter um
pátio coberto que protege do calor ou da chuva, cuidar do devido
transporte, e ter depois uma boa amostragem, sabendo o que está a
entrar no lagar em termos de gordura e de humidade».

No campo da extracção, «dever ter-se em conta o tempo, a velocidade e
a temperatura do batido; a quantidade e temperatura da água nas
centrífugas; a análise do rendimento e humidade do bagaço; a acidez e
análise organolética a todas as partículas (para a correcta separação
dos azeites obtidos); e a higiene de todas as instalações».

Ana Carrilho não esqueceu também de salientar a importância do
armazenamento, «onde é fundamental a utilização de depósitos opacos de
material inerte e o controlo da temperatura em armazém para facilitar
a decantação».

No engarrafamento «é essencial o loteamento, consoante o tipo de
mercado, seja a granel ou engarrafado, mas também a filtragem do
azeite, que evita o aparecimento de borras. Seja em garrafa, garrafão
ou lata, os produtores, para terem azeite de qualidade devem, pois,
certificar-se que obtêm a temperatura e o volume de ar adequados». E,
apesar de a validade recomendada, em termos gerais, ser de 18 meses,
«cabe a cada embalador definir os prazos certos de validade consoante
o tipo do azeite. «O consumidor é o nosso objectivo fina e se não
houver qualidade, não há azeite de sucesso», concluiu.

No final do encontro, vários responsáveis de algumas empresas
nacionais que se dedicam à produção e comercialização de azeite,
partilharam com o público as suas experiências ao nível da exportação,
dos mercados e da concorrência.

A Conferência «Olival e Azeite - Os novos desafios do mercado» foi
organizada pela Revista Vida Rural.







Fonte: Café Portugal - 11.10.2012

http://www.portaldoazeite.com/2012/10/nas-conferencias-da-revista-vida-rural.html?spref=fb

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