quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O boato da subida prometida

OPINIÃO

Manuela Dias Pimenta

Os produtores de leite estão como a nossa bandeira: "de pernas ao ar"!
Vivemos um período difícil e crítico. Não é de admirar. O País assim
está!

Depois de mais um "Verão quente", com sucessivas conferências de
imprensa e comunicados, juntamente com a grande manifestação de
produtores de leite na Assembleia da República, conseguiu-se colocar
na agenda política da Sr.ª. Ministra da Agricultura o problema do
baixo preço pago por litro de leite à produção, em constante
contraciclo com a subida vertiginosa dos custos alimentares das nossas
vacas.

Após todo este esforço, os produtores tiveram que se retirar para as
colheitas da forragem de milho e novas sementeiras das forragens de
Outono-Inverno. No entanto alguns produtores ficaram em alerta, onde
iam tentando manter alguma pressão sobre a Sr.ª. Ministra solicitando
a sua mediação nesta problemática dos preços baixos pagos à produção.

Em finais de Setembro são apresentadas pela Sr.ª. Ministra, na Agro
Vouga, promessas de que a situação "a breve trecho" iria melhorar.
Falou-se numa ajuda comunitária, para minimizar as dificuldades da
produção e, a grande novidade seria "o grande compromisso de honra"
entre a Distribuição e a Indústria Nacional em rever os contractos de
fornecimento de leite no sentido de fazer chegar alguns cêntimos aos
produtores.

Estes eram os boatos que se iam ouvindo e que rapidamente eram
difundidos através dos técnicos que prestam assistência nas vacarias
de norte a sul do país, numa tentativa desesperada de aumentar os
ânimos dos seus clientes (produtores de leite).

Todos nós sabemos que a Sr.ª. Ministra tem fé e que acredita no lado
bom dos Homens, mas nós produtores de leite, talvez fruto desta
actividade diária difícil, nesta fase bastante angustiante que estamos
a atravessar não acreditamos na boa fé daqueles em que as suas
actividades apenas visam o lucro imediato.

Contudo, ainda temos fé!

Continuamos a ouvir falar da troika, da austeridade... Num aumento do
preço do leite pago à produção no continente: NADA!

Quanto tempo havemos de esperar?

Quantas vacas mais têm que ir embora, por não haver dinheiro para as
alimentar a todas?

Quantas vezes mais havemos de renegociar as nossas dívidas com os fornecedores?

Quantas vezes mais havemos de renegociar os empréstimos bancários?

Para que datas havemos de passar os cheques pré-datados, que são inevitáveis?

Quantos empregados irão para o desemprego, por já não haver dinheiro
para lhes pagar no final do mês?

Onde anda esse aumento que foi sussurrado em forma de boato nos
"corredores da fileira do leite"?

É preciso dizer que já somos poucos, mas somos bons, porque produzimos
com qualidade. Recusamo-nos a desistir. SIM, somos RESILIENTES! É a
nossa resiliência, a nossa fé e uma boa dose de paixão que mantêm as
nossas explorações. Mas, infelizmente, acredito que para alguns
chegará o momento em que a RAZÃO SE SOBREPÕE Á PAIXÃO.

Hoje o meu apelo é para a Sr.ª. Ministra da Agricultura:

- NÃO DESISTA, QUE NÓS TAMBÉM NÃO!

Manuela Dias Pimenta
Produtora de leite
Licenciada em Engenharia Agro-Pecuária

Publicado em 10/10/2012

http://www.agroportal.pt/a/2012/mdias2.htm

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