sexta-feira, 18 de maio de 2012

Portugal prepara-se para ficar fascinado pelas plantas

17.05.2012
Helena Geraldes

O primeiro Dia Internacional do Fascínio das Plantas junta nesta
sexta-feira 39 países com a ambição de aproximar a sociedade do mundo
vegetal. Portugal surpreendeu os organizadores ao ser o segundo país
com mais entidades aderentes, a seguir à Inglaterra.

De Norte a Sul estão marcadas 100 actividades, preparadas de propósito
por cerca de 70 entidades. "Foi uma surpresa, não estávamos à espera
desta receptividade. É extraordinário", disse ao PÚBLICO o coordenador
da iniciativa nacional, Nelson Saibo. O evento partiu da Organização
europeia para a ciência das plantas (EPSO, European Plant Science
Organisation) que, em Outubro, contactou a Sociedade Portuguesa de
Fisiologia Vegetal. A ambição é "chamar a atenção do público em geral
– e dos políticos - para a importância das plantas na nossa vida,
desde o ar aos alimentos. E o fascínio em todos os aspectos, não só a
beleza", acrescentou.


O Dia Internacional do Fascínio das Plantas - que ultrapassou as
fronteiras da Europa e será celebrado em países como o Brasil, Estados
Unidos, Canadá, Japão, China, Nova Zelândia, Austrália – será marcado
em Portugal por visitas guiadas pelo campo e a laboratórios, mostras
de plantas aromáticas e eventos que juntam a arte às plantas. Será a
contribuição portuguesa para o total de 565 eventos previstos em todo
o mundo, organizados por 573 instituições, de acordo com os dados da
EPSO.

"Todas as instituições que contactámos – desde universidades e jardins
a empresas - têm sido muito receptivas e organizaram actividades para
este dia", disse Nelson Saibo.

Pintar com plantas e cogumelos, plantas carnívoras ou venenosas,
medicinais ou aromáticas são apenas alguns dos temas escolhidos pelo
Jardim Botânico da Universidade de Coimbra para o dia.

"Esta é uma oportunidade feliz e interessante de conquistar e
aproximar a sociedade às plantas", disse Helena Freitas, directora
daquele Jardim Botânico. Na sua opinião, "o actual contexto de crise
tem-nos afastado do mundo vegetal e lançou cortinas de fumo sobre a
natureza. Centrámo-nos muito em nós próprios".

Além disso, "nas últimas décadas nós, na comunidade académica da
botânica, não temos feito o nosso papel. Fechámo-nos muito e não
soubemos delinear uma estratégia que impusesse a importância das
plantas na esfera pública", acrescentou. Como consequência, a bióloga
nota que se perdeu "muito terreno e jovens investigadores disponíveis
para trabalhar nesta área".

Nelson Saibo também salientou a falta de mãos para trabalhar a ciência
das plantas. "Faltam-nos muitos recursos humanos. Sentimo-nos o
parente pobre da investigação." Para este investigador - que se dedica
a estudar as respostas das plantas a condições ambientais adversas,
como o frio, salinidade e secura -, aquilo que "gostaria mais de ver
implementado em Portugal relacionado com as plantas, seria o maior
investimento em recursos humanos. É sem duvida uma prioridade". "Este
investimento, deveria passar não só pelos investigadores, mas também
pelos técnicos que dão apoio à agricultura ao nível das direcções
regionais de agricultura, onde este investimento tem sido altamente
reduzido nos últimos tempos".

Momento de viragem

Mas Helena Freitas lembra que "hoje vivemos num momento de alguma
viragem. A botânica terá um papel determinante, na agricultura, na
nova floresta que teremos de construir, no mar, na arquitectura e
planeamento urbano e nas bioenergias", por exemplo.

Até porque, acrescenta, "em Portugal existe um bom conhecimento da
nossa flora", ainda que haja um longo caminho a percorrer na
"conservação do património vegetal".

A primeira lista de referência das plantas de Portugal, elaborada pela
Associação Lusitana de Fitossociologia, foi publicada em Outubro de
2010, com um número total de 3995 espécies: 3314 no Continente, 1006
no Arquipélago dos Açores e 1233 na Madeira. No mesmo mês, os 193
países membros da Convenção sobre a Diversidade Biológica reunidos em
Nagoya, no Japão, decidiram criar até 2020 um banco de dados online de
toda a flora conhecida no planeta.

"As plantas são organismos únicos", diz uma nota da EPSO. "A sua
capacidade para sintetizar o seu próprio alimento permitiu-lhes
colonizar e adaptar-se a quase todos os nichos do planeta". Os
biólogos estimam que existam 250.000 espécies de plantas no mundo.
Segundo a União Internacional da Conservação da Natureza, uma em cada
cinco plantas no mundo está ameaçada de extinção.

http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1546497

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