segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Ainda as exportações de Pêra Rocha

Publicado a 8 de Dezembro de 2012 . Na categoria: Correio Leitores Opinião .
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Soubemos nos últimos dias das dificuldades que atravessam os
produtores de Pera Rocha da nossa região para escoar a sua produção
até um porto marítimo. Ao que parece as dificuldades prendem-se com a
inexistência de contentores-gerador na frota da CP Carga. Este é o
primeiro motivo de pasmo. Numa das notícias vem também a informação
que apenas em Leiria podem movimentar-se contentores, o que obriga os
exportadores a recorrer à camionagem para alcançar a estação de
mercadorias da Bobadela, em Lisboa. Segundo motivo de pasmo. A
conclusão de tanto pasmo junto é, não outra, que a inoperância da CP
Carga, total falta de pro-actividade e desconhecimento absoluto do que
é hoje em dia o transporte de mercadorias.
Comecemos pelo princípio, pela falta de contentores-gerador. Num tempo
em que cada vez mais tipos de carga são transportados por caminho de
ferro não é aceitável que um transportador não tenha capacidade para
transportar produtos perecíveis devido à falta dum gerador que forneça
electricidade aos contentores-frigorífico. Está precisamente aqui a
demonstração da falta de pro-actividade desta transportadora na
captação de novos mercados. É que os contentores-gerador usados para
apoio ao transporte de pêra rocha do Bombarral para Sines podem ser
usados para o transporte de carne do Alentejo para Lisboa e Porto, de
legumes em geral daqui mesmo da região e outras ao longo de Portugal
para todo o país, leite fresco e derivados de Norte a Sul, flores
conforme necessário, enfim, em geral de toda a carga sensível à
temperatura do transporte. Abrir-se-ia, portanto, para a CP um nicho
de mercado que lhe permitia entrar na cadeia logística de
abastecimento a supermercados e mercados abastecedores. Para além,
claro, da cadeia logística da exportação de produtos com necessidade
de frio como é o caso da Pera Rocha. A CP Carga não está interessada e
aparentemente não quer estar. A Região Oeste exporta Pera todos os
anos sensivelmente desde Agosto até à Primavera do ano seguinte num
regime de 50 contentores de 40 pés semanais carregados com 22t. São
mais de 1500 contentores por época numa época fraca como a deste ano.
Mais de 30.000 toneladas! Uma carga cujo transporte, pelo seu volume,
é precisamente uma das vocações do caminho de ferro. Mas a CP Carga
não está interessada. Ou, claro, cabe também a opção de concluir que
não sabe nem tem o know-how para levar a cabo, não apenas este
transporte em particular, como também para estudar, avaliar e entrar
no mercado do transporte de produtos refrigerados.
Posto isto passemos à movimentação de contentores. Dizer que apenas
Leiria está apta a movimentar contentores desafia a imaginação. Já não
estamos nos tempos em que as opções para movimentar carga eram
reduzidas e, ou se tinha um pórtico de grande capacidade, ou nada. Há
neste momento diversas soluções para a baldeação de contentores entre
modos de transporte que podem ser deslocadas com relativa facilidade
de local para local conforme as necessidades. Para este caso seria,
aliás, possível e com grande facilidade fazer a carga até mesmo na
estação do Bombarral (que tem condições aceitáveis para esse fim)
recorrendo para isso a um empilhador igual aos encontrados em qualquer
armazém, mas em ponto grande. É um equipamento capaz de carregar
contentores de 40 pés com até 25t de carga. Têm estes empilhadores a
vantagem adicional de poderem ser facilmente transportados por comboio
para qualquer ponto da rede onde seja necessário o seu uso o que
permite aumentar vastamente a abrangência territorial do caminho de
ferro respondendo à sazonalidade da produção em diversos sítios. Na
nossa região temos capacidade para o uso deste tipo de equipamento,
desde logo, na estação do Bombarral. Mas também no Outeiro e nas
Caldas da Rainha.
Concluindo, temos a falta de interesse da CP Carga que, dando o
benefício da dúvida, atribuímos a falta de conhecimento da realidade
actual do transporte de mercadorias. (…)

Rodrigo Vicente

NR – Gazeta das Caldas deu conhecimento desta carga à CP Carga,
convidando-a a replicar, mas não obteve resposta.

http://www.gazetacaldas.com/27528/ainda-as-exportacoes-de-pera-rocha/

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