terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Vinho. Cortiça ou screw cap? Governo quer menção no rótulo

Por Isabel Tavares, publicado em 11 Dez 2012 - 10:16 | Actualizado há
59 minutos 43 segundos
A Comissão Europeia já foi notificada. Para já, produtores e
distribuidores de vinho estão contra


Hoje, há vedantes para todos os gostos. Alguns são sintéticos e a
imitar a cortiça, outros são de algomerado de cortiça e cola
Bogdan Cristel/Reuters

O governo está a estudar a hipótese de obrigar os produtores de vinho
a mencionar no rótulo se a rolha utilizada é ou não de cortiça. A
Comissão Europeia já foi notificada e o processo está em fase de
consulta. Produtores e distribuição estão contra.

A ideia de ter no rótulo uma menção obrigatória ao tipo de vedante
utilizado é do governo Sócrates, que deixou preparada legislação sobre
a matéria.

"Reconhecemos o mérito da proposta mas entendemos ser importante,
antes de avançar com a regulamentação, auscultar/discutir com os
devidos sectores. Assim sendo, o actual governo decidiu notificar a
Comissão Europeia e, em paralelo, consultar todas as partes
interessadas – consumidores, distribuição, sector da cortiça e do
vinho –, com o objectivo de testar compatibilidade com direito
comunitário e identificar eventuais dificuldades ou impactos desta
medida", disse ao i o Ministério da Agricultura.

O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV) já enviou um questionário às
partes interessadas e os produtores de vinho e a distribuição
manifestaram-se contra.

Miguel Champalimaud, um dos primeiro produtores a utilizar screw cap
(tampa de enroscar) no seus vinhos, disse ao i que "o sector
corticeiro capturou o sector de vinho da mesma maneira que a EDP
capturou o sector da energia".

O produtor dos vinhos Quinta do Côtto, que exporta 30% da sua
produção, diz que se a medida é assim tão importante e as corticeiras
acreditam que pode fazer a diferença, "os que querem a rolha de
cortiça que o escrevam".

Champalimaud diz que "do ponto de vista técnico, a screw cap é mais
efectiva como vedante, melhor para conservar o vinho, melhor do ponto
de vista económico-financeiro e até do ponto de vista ambiental, já
que o alumínio é reciclável indefinidamente".

Nos mercados externos há quem prefira a cortiça, como a Polónia ou a
China, "e nós, no contrato que assinamos, deixamos bem claro que não
há direito a reclamações", mas também há quem goste mais de screw cap,
como os ingleses.

Ainda assim, "o Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento
do Território entende ser importante reforçar a ligação do vinho à
cortiça e já está a trabalhar com as associações sectoriais no sentido
de promover a menção do tipo de vedante na rotulagem, mas de forma
voluntária".

O ministério espera que o repto lançado aos sectores produza efeitos
visíveis, incluindo acções de promoção que reforcem a sinergia entre
vinho e cortiça. "Neste âmbito, o IVV está também a explorar a
eventual possibilidade de recorrer a financiamento comunitário para
este fim", afirmou fonte oficial.

"Qualquer dia vão pedir que os remédios voltem a ter rolha de cortiça
e que os refrigerantes e a cerveja voltem a usar a lâmina de cortiça
como antigamente, e legislam nesse sentido. A pretensão é ridícula da
parte de quem pede e de quem decida homologar a lei", remata Miguel
Champalimaud.

Perto de 95% dos vinhos exportados e importados utilizam rolha de
cortiça. Em Portugal, os preços da rolha podem variar entre os 3
cêntimos e os 2 euros. A nível global e em termos de vedantes, a quota
de mercado do sector da cortiça situa-se nos 70%.

A Corticeira Amorim vendeu em 2011 3,6 mil milhões de rolhas, de um
total de cerca de 12 mil milhões que são vendidas todos os anos no
mundo.

http://www.ionline.pt/dinheiro/vinho-cortica-ou-screw-cap-governo-quer-mencao-no-rotulo

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