segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O associativismo florestal, fator essencial ao desenvolvimento

OPINIÃO


Paulo Pimenta de Castro

O associativismo florestal tem assumido nas últimas três décadas um
crescente destaque no panorama florestal português. Ainda muito aquém
do peso que o associativismo florestal possui noutros países da UE com
forte presença do setor florestal na economia, as organizações de
proprietários de floresta em Portugal são hoje um parceiro
incontornável para o desenvolvimento económico das várias fileiras
florestais, para a preservação dos recursos naturais renováveis
associados aos espaços florestais e silvestres, bem como na garantia
do bem estar das populações rurais e do emprego, não apenas no setor
primário, mas nos demais que neste têm o seu suporte.

As organizações de proprietários florestais, quer as de cariz
socioprofissional quer socioeconómico, têm tido protagonismo na
operacionalidade das medidas e dos instrumentos de política florestal,
seja ao nível dos projetos de investimento, seja na agregação de áreas
para gestão conjunta das florestas, no caso das Zonas de Intervenção
Florestal (ZIF), ou na certificação da gestão florestal sustentável,
bem como, mais recentemente, no domínio da defesa da floresta, seja ao
nível da prevenção, vigilância e primeira intervenção nos incêndios
florestais, ou na deteção e combate a pragas e a doenças.

Apesar desta operacionalidade de caráter técnico, o desempenho do
associativismo florestal tem sido todavia ineficaz na salvaguarda do
principal interesse dos proprietários florestais. No geral, as
organizações de proprietários florestais não têm evidenciado
resultados no que respeita à rentabilidade do negócio florestal e, bem
assim, na garantia de acesso equilibrado dos seus associados aos
mercados de produtos florestais. Este é contudo uma área fulcral para
a garantia de expectativas para o investimento e o desenvolvimento das
florestas em Portugal, onde mais de 90% da área florestal se encontra
na posse de centenas de milhar de proprietários rústicos.

Efetivamente, de acordo com os mais recentes dados estatísticos,
disponibilizadas nas Contas Económicas da Silvicultura 2010, pelo
Instituto Nacional de Estatística, a silvicultura, a atividade
silvícola ou a produção florestal têm evidenciado um progressivo
declínio entre 2000 e 2010. Ficam evidentes os decréscimos nos preços
e nos volumes, bem como os acréscimos nos consumos intermédios. Fica
claríssima a redução do peso do Valor Acrescentado Bruto (VAB) da
silvicultura no VAB nacional, e bem assim do peso do conjunto das
fileiras florestais no Produto Interno Bruto (PIB).

Sabemos contudo que mesmo antes de 2000 os problemas da rentabilidade
do negócio florestal eram já muito evidentes. Em 1996, num estudo
desenvolvido pela consultora internacional Poyry, pelo Banco BPI e
pela Agro.ges, era já diagnosticada uma situação de subaproveitamento
e de sobre-exploração dos recursos florestais portugueses. De acordo
com os especialistas, mesmo o negócio da produção de lenho de
eucalipto para trituração, tido como o que apresenta maior
rentabilidade na atividade silvícola, evidencia fortes indícios de
abandono na gestão dos eucaliptais, mantendo-se a produtividade média
anual nacional a níveis de 1928. A fraca rentabilidade do negócio
silvícola implica num ajustamento da gestão florestal, ou seja na
redução dos encargos face à não expectativa de receita, ou seja na não
gestão, ou no tradicionalmente designado absentismo. As consequências
são genericamente suportadas por toda a Sociedade, seja no caso da
propagação dos incêndios, seja na proliferação de pragas e de doenças,
com impactos ao nível da flora e da fauna, na conservação dos solos,
na qualidade da água, ou mesmo na paisagem, mas também no emprego, na
qualidade de vida, no êxodo rural e na aceleração dos fenómenos
associados à desertificação.

Importa assim que ocorra uma mudança de paradigma na estratégia das
organizações associativas ou cooperativas de proprietários rústicos
com superfícies florestais, fazendo suportar o investimento e
subsequente gestão das florestas na rentabilidade do negócio
silvícola, negócio esse que assente nas melhores práticas disponíveis
e que assegure a sustentabilidade dos recursos naturais, garantindo o
sustento às diferentes fileiras de bens e de serviços de base
florestal que valorizem a floresta, os seus proprietários e, assim, o
desenvolvimento rural.

Lisboa, 17 de dezembro de 2012

Paulo Pimenta de Castro
Engenheiro Florestal
Presidente da Direção da Acréscimo – Associação de Promoção ao
Investimento Florestal

http://www.agroportal.pt/a/2012/pcastro9.htm

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