quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Veados ameaçam culturas

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18 de Dezembro, 2012por Sónia Balasteiro

Agricultores queixam-se de elevados prejuízos causados pelos veados.
Há um descontrolo do número destes animais em todo o país, que tem
crescido por falta de predadores naturais, depois da extinção do lobo
em Portugal.
Os veados estão a atacar os campos: os agricultores queixam-se de
milhares de euros em prejuízos por causa destes animais que consomem
produtos hortícolas, como, por exemplo, ramas das oliveiras. O
Ministério da Agricultura e Ambiente admite o problema, adiantando que
se estende já de Norte a Sul do país.

«As situações onde mais frequentemente têm ocorrido reclamações são a
área do Parque Natural de Montesinho, devido às limitações à
exploração que decorrem dos propósitos de conservação do parque», diz
ao SOL fonte oficial do Instituto de Conservação da Natureza e
Florestas, tutelado pelo Ministério da Agricultura.

Mas também há – e cada vez mais – registo de ataques aos campos na
serra da Lousã, em particular na área da Zona Conservação da Natureza,
«por inexistência de exploração», e na região do Tejo Internacional,
«onde a população é flutuante entre Espanha e Portugal, o que
dificulta o seu controlo».

Falta de predadores

Em causa, reconhece o ministério de Assunção Cristas, está a falta de
controlo do número destes animais, que têm crescido exponencialmente
em Portugal nos últimos anos por falta de predadores naturais, depois
da diminuição do lobo em Portugal. Ou seja, ninguém sabe exactamente
quantos veados existem no país: «Não existem dados sobre o efectivo da
população de veado no país», reconhece fonte oficial do gabinete da
ministra.

O que se conhece apenas, esclarece a mesma fonte, são «unicamente os
resultados da sua exploração, o que possibilita uma extrapolação».
Tomando por base os números dos abates de 2010/2011, que apontam para
cerca de três mil exemplares, o Ministério calcula que estes
constituíram, «no máximo, 20% da população». Assim, o resultado,
«ainda que com possibilidade de erro considerável, remete para um
efectivo em exploração aproximado de 15.000 veados a nível nacional».

Na verdade, ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas não
chega a maioria das queixas de ataques, uma vez que não há
obrigatoriedade de dar conta dos prejuízos à tutela. «Nos termos da
lei, a responsabilidade pelos prejuízos cabe às entidades gestoras das
zonas de caça», avança aquela fonte ao SOL. No entanto, acrescenta,
«reconhece-se a existência de prejuízos limitados ao nível da
agricultura e ainda em povoamentos florestais».

«O impacto dos prejuízos causados pela espécie, mais do que o valor
económico global, ocorre em zonas de pequena agricultura de carácter
social», acrescenta.

Denúncias chegam à federação de Caçadores

À Federação Alentejana de Caçadores, por exemplo, têm chegado várias
denúncias destes ataques. «De há dois anos para cá, têm-se sucedido as
queixas» – diz ao SOL o responsável da associação, Alberto Cavaco. As
queixas estendem-se da margem esquerda do Guadiana (onde os veados
consomem, sobretudo, as ramas das oliveiras jovens) a Castelo Branco.

O responsável não tem dúvidas em apontar o dedo à densidade excessiva
de veados no país. «Deveriam fazer-se censos, mas a verdade é que
ninguém os faz», lamenta. E avisa que o problema pode agravar-se: «Sem
qualquer controlo, os veados podem ser portadores de tuberculose sem
que ninguém saiba. E isso pode colocar em causa todo o sistema
alimentar».

As queixas, entretanto, sucedem-se. «Os veados dizimam tudo, vão
acabar com a agricultura, com a pecuária (uma vez que contaminam as
vacas, que têm de ser abatidas às centenas) e com os projectos
florestais (comendo as árvores, partindo e esfolando os sobreirinhos).
E as autoridades locais e nacionais não mostram qualquer preocupação»
– acusa um agricultor de Castelo de Vide, no norte alentejano. Mas as
acusações vão mais longe.

A ruína dos agricultores

O agricultor garante que toda a situação está a colocar muitas
explorações à beira da ruptura. «Há vários coutos de caça grossa em
Meadas e Póvoa [também no norte alentejano] que não os alimentam,
levando-os a vir cá fora comer tudo, levando assim os agricultores à
ruína».

O Instituto de Conservação da Natureza explica, precisamente, que as
«medidas de controlo da população de veado passam pela sua adequada
gestão, quer através da diminuição de efectivos (através da caça e de
acções extraordinárias de correcção da sua densidade), quer da
instalação de campos de alimentação e alimentação artificial».

Os responsáveis do Instituto aconselham a instalar «protecções das culturas».

(notícia corrigida a 19 de Dezembro, às 13h.)

sonia.balasteiro@sol.pt

http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=64945

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