terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Preço da carne de porco cai cerca de 20 por cento devido a embargo russo

09-02-2015 
 

 
Portugal não é exportador de carne de porco para a Rússia, mas nem por isso os produtores de suínos nacionais deixaram de sentir os efeitos do embargo às importações que o Governo de Moscovo decretou.

No ano passado, o preço pago à produção pela carne de porco caiu cerca de 20 por cento e há, por isso, explorações de suínos que enfrentam neste momento o risco de desaparecerem porque o encaixe financeiro gerado pelas vendas não cobre os custos associados à produção.

No início deste ano, a carcaça de porco médio estava a vender-se a cerca de 1,30 euros por quilo, para o caso dos produtores mais eficientes e cuja dimensão lhes garante uma margem de negociação mais forte perante os compradores. Mas havia, também, explorações que se viam obrigadas a vender a produção a valores próximos dos 1,25 euros por quilo.

Este nível de preços, que fica bem abaixo de uma média de 1,58 euros por quilo a que a carcaça se transaccionava no início de 2014, está abaixo da do valor médio do quinquénio, ao contrário do que aconteceu em 2013, quando as cotações estavam cerca de 25 cêntimos acima da média dos últimos cinco anos.

Simões Monteiro, secretário-geral da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores (FPAS), não tem dúvidas de que a situação presente fica a dever-se ao embargo russo às importações de produtos agro-alimentares. «O governo Putin decidiu fechar as portas… e isso acabou por destruir os preços», afirmou ao Público.

O responsável lembra que «a Europa é excedentária na produção de suínos e cerca de um quarto dos excedentes eram vendidos à Rússia». O embargo fez com que o balanço entre oferta e procura se desequilibrasse e isso teve impactos nos preços de comercialização, uma vez que a disponibilidade de carne no mercado interno aumentou de uma forma que era impossível acomodar. Por isso, «o mal não é só português, é de toda a Europa», afirma Simões Monteiro.

Os dados das mais conhecidas zonas de produção suína na Europa mostram claramente que os impactos do embargo russo são muito significativos. Em Espanha, o preço médio à produção caiu, entre Janeiro de 2014 e o início de 2015, cerca de 24 cêntimos, para 1,327 euros por quilo e em França recuou 18 cêntimos para 1,120 euros. Na Holanda, o recuo foi mais expressivo (36 cêntimos para 1,22 euros) e na Alemanha recuou 20 cêntimos para 1,320 euros por quilo.

«Todos estão a perder com esta situação. Até os produtores mais eficientes e de maior dimensão estão a ser afectados. O nível de preços da carne de porco está a fazer com que todos os dias surjam explorações postas à venda e outras em que os proprietários se dispõem a ceder o negócio apenas pelo valor da dívida que têm em carteira», refere o secretário-geral da federação.

O impacto só não é maior porque os custos das explorações também baixaram, em consequência da redução de preço das matérias-primas que estão na base da alimentação animal. Simões Monteiro lembra que no início da segunda metade da década passada, quando os Estados Unidos decidiram apostar na produção de etanol, retirando do mercado milhões de toneladas de milho, por exemplo, o preço da alimentação animal disparou, mas esse fenómeno foi sendo corrigido nos últimos anos. Sem isso, os impactos da queda do preço da carne seriam ainda mais significativos para a suinicultura portuguesa e as consequências teriam sido devastadoras.

Num contexto de crise agravada, o sector gostaria de ver algumas medidas postas em prática que repusessem os preços num patamar que garantisse sustentabilidade à produção. Apoios à manutenção privada de stocks seriam bem-vindos, mas Simões Monteiro está muito céptico em relação à possibilidade de que tal venha a acontecer. «Houve países que fizeram essa proposta, mas esbarraram nas regras da União Europeia, que impede as ajudas de Estado».

A crise de preços nos suínos em Portugal não tem paralelo nas outras produções de carne. O valor médio de preços do borrego, por exemplo, fechou 2014 com um ganho de cerca de seis por cento face ao período homólogo do ano anterior, de cerca de 4,42 euros por quilo, enquanto o do cabrito aumentou na ordem dos oito por cento para 5,20 euros por quilo. Já o valor dos novilhos fechou o ano passado em linha com o que se passava no final de 2013, perto dos 3,86 euros por quilo.

Fonte: Público

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