quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

SOBREIRO, ÁRVORE NACIONAL DE PORTUGAL

DECLARAÇÃO
A decisão da Assembleia da República de adotar o Sobreiro como Árvore Nacional de Portugal constitui uma resolução maior que as instituições signatárias desta Declaração gostariam de sublinhar e de apoiar sem qualquer reserva.
O sobreiro é uma árvore típica do ambiente mediterrânico ocidental, com expressão predominante em Portugal e Espanha, e também no Norte de África onde desempenha um importante papel em termos ecológicos, sociais e económicos . Mas é no nosso país que o sobreiro apresenta uma maior ocupação territorial, que atinge quase 800 mil hectares, integrando ecossistemas florestais de uso múltiplo, que
conjugam floresta, agricultura e pecuária específicas – os montados. O sobreiro apresenta uma grande importância económica como produtor de cortiça, na base da qual se desenvolve uma fileira industrial dedicada. Portugal é o maior produtor e transformador industrial de cortiça, detendo a maior quota comercial de produtos de cortiça.



Mas também em Portugal se desenvolveu extensa e abundante investigação científica na área do Sobreiro.
Poderá considerar-se como o primeiro compêndio de subericultura a "Memória sobre as Azinheiras, Sovereiras e Carvalhos da Província do Alentejo onde se trata de sua cultura e usos, e dos melhoramentos que no estado atual podem ter" que Fragoso Sequeira apresentou, em 1790, à Academia Real das Ciências de Lisboa. Nesta Memória, Fragoso Sequeira descreve o ambiente geográfico da Província
do Alentejo e aborda os cuidados que devem presidir às diversas técnicas culturais
destinadas a preservar o arvoredo de sobro, incluindo a proteção perante o fogo, as
desigualdades de rendimento com a produção de grãos, as disputas entre proprietários
e a cuidadosa criação de gados.
Na primeira metade do século passado, o sobreiro contou com a intervenção firme, estudada e experimentada de Joaquim Vieira Natividade que, criando a Estação de Experimentação Florestal do Sobreiro, em Alcobaça, desenvolveu trabalhos que ainda hoje são entendidos como referência. A publicação da sua "Subericultura", em 1950,traduzida para francês, italiano e espanhol,
permitiu dispor de um manual clássico para uso dos investigadores e estudiosos do sobreiro de todo o mundo.

Mais recentemente, a investigação sobre o sobreiro e a cortiça desenvolveu-se a partir
dos anos 80 e intensificou-se nos últimos vinte anos, principalmente sob a responsabilidade de Universidades e do Instituto Nacional de Investigação Agrária.
Desenvolveram-se muitos projectos de investigação, formaram-se investigadores e técnicos, divulgaram-se os resultados científicos na comunidade internacional, estabeleceram-se redes de cooperação na Europa e Norte de África.

Portugal é hoje, também, reconhecido internacionalmente pela excelência da sua investigação nestas áreas.
As linhas de investigação têm sido múltiplas: gestão e economia da floresta enquanto sistema multifuncional, melhoramento e genética, multiplicação e propagação da planta, pragas e doenças, gestão da paisagem, assim como biologia, propriedades e processamento da cortiça e as suas aplicações. Um interesse adicional
revelado por parte da indústria, ela própria empenhada em importante modernização e inovação
tecnológica, reforçou não só os recursos disponíveis para I&D, como alargou os
horizontes de aplicação dos produtos resultantes do sobreiral e do seu
ecossistema.
Mas a floresta mediterrânica que o sobreiro integra necessita de uma maior compreensão e conhecimento. A sua capacidade de usos múltiplos e a sua enorme diversidade é de difícil aceitação para a agricultura e a floresta do norte da Europa. Por essa via, Portugal sofreu uma intervenção no mundo rural que perturbou o seu sistema produtivo e marginalizou os seus sistemas autóctones. O regresso a uma gestão cuidada dos nossos sistemas agrários é um desígnio que deve ser assumido por todos nós.

Também a gestão do território não pode esquecer o valor ecológico dos montados, o seu papel na luta contra a desertificação e como suporte de biodiversidade, que acompanha a sua importância social e económica tanto nacional como regional. O desenvolvimento urbano e turístico, que tem vindo a assumir uma ameaça para estes sistemas, não deverá sobrepor-se a estes valores.

A adoção do Sobreiro como Árvore Nacional de Portugal traduz o reconhecimento deste recurso natural como um património nacional que caracteriza o nosso ambiente e paisagem, que integra a nossa história e cultura, e que faz parte da nossa investigação científica.

Lisboa, 19 de dezembro de 2011

Universidade Técnica de Lisboa
Universidade de Évora
Universidade do Algarve
Unidade de Investigação de Silvicultura e Produtos Florestais (INIA)

http://www.utl.pt/admin/imagesuploaded/declaracao_sobreiro.pdf

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