sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Olival intensivo afecta água consumida em Ferreira do Alentejo

Ambiente

12.09.2012 - 10:40 Por Carlos Dias
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Uso excessivo de fertilizantes e insecticidas está a contaminar águas
subterrâneas (Foto: Miguel Manso)
Os aquíferos subterrâneos onde a Câmara de Ferreira do Alentejo capta
a água que fornece a mais de metade da população do concelho
apresentam uma elevada percentagem de nitratos, o que já obrigou à
compra de um desnitrificador.

De acordo com a autarquia, o equipamento foi adquirido já em 2007 e
resolveu "completamente" o problema. Esta afirmação, porém, é posta em
causa pelos vereadores da CDU. Num comunicado divulgado no fim de
Julho dizem que os eleitos do PS (força maioritária na autarquia)
confirmam que a água "apresenta valores elevados de nitratos", e que a
causa dessa situação "provém da instalação de grandes áreas de cultivo
de olival intensivo". Referem ainda terem sido informados de que o
desnitrificador "só funciona em determinadas alturas".

A contaminação dos lençóis freáticos com fitofármacos (químicos
utilizados na desinfecção das plantas) e fertilizantes usados em cerca
de 7000 hectares de olival intensivo e superintensivo não se
circunscreve às reservas de água potável que abastecem a sede do
concelho.

Quando a câmara decidiu, em Julho, cortar o fornecimento a 11 famílias
que vivem em montes isolados - alegando que a água era utilizada nas
regas e na criação de gado-, um dos munícipes afectados, Paulo Conde,
mandou analisar a água do furo existente junto à sua casa. Os
resultados foram claros, confirmando o "incumprimento" das normas em
vigor e realçando a presença de nitratos acima do valor máximo
admissível e a elevada percentagem de sais e de microorganismos.

O vereador Manuel dos Reis disse entretanto ao PÚBLICO que o
abastecimento de água para consumo humano às famílias residentes "fora
dos aglomerados urbanos e a distância considerável das redes de
distribuição deve ser assegurado por meios próprios". Na sequência do
corte do abastecimento à sua habitação, Paulo Conde apresentou no
Tribunal Administrativo de Beja uma providência cautelar, tendo o juiz
determinado a retoma do fornecimento por parte do município. No
concelho de Ferreira do Alentejo existem 542 edificações rurais
dispersas e sem acesso à rede pública de abastecimento de água.

A utilização de fertilizantes e fitofármacos numa vasta área dos
concelhos de Ferreira do Alentejo, Beja e Serpa, onde existe um dos
mais importantes aquíferos do país, está há muito condicionada por uma
directiva europeia relacionada com o uso dos nitratos. A protecção
assegurada por essa directiva não tem obstado, contudo, à utilização
intensiva daqueles produtos, tal como se reconhece numa portaria
publicada na semana passada pelo Ministério da Agricultura. O diploma
refere que naquela e noutras zonas vulneráveis do país é necessário
"reforçar" as medidas destinadas a "reduzir a poluição das águas
causada ou induzida por nitratos de origem agrícola" e estabelece um
programa de acção com essa finalidade.

Por outro lado, o Grupo de Trabalho do Olival, criado pelo Ministério
da Agricultura em 2008 para estudar os efeitos da cultura intensiva de
oliveiras, concluiu em 2010 pela existência de numerosos problemas com
a utilização excessiva de fitofármacos e de fertilizantes nos olivais
superintensivos. Também no uso de insecticidas susceptíveis de
contaminar a água para consumo humano foram registados casos em que os
valores são superiores às doses recomendadas. Os investigadores
sugeriram então, no que se refere ao olival intensivo, a necessidade
de uma opção clara "entre a racionalidade económica privada e a
preservação dos bens públicos".

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