quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Como comem os portugueses?

Dia Mundial da Alimentação


Comem duas vezes mais carne, óleos e gorduras do que o recomendado;
têm um défice de consumo de produtos hortícolas de 79% e deviam comer
o dobro dos frutos. O estudo mais recente sobre alimentação em
Portugal indica que 51% da população adulta tem excesso de peso.

Imagem mostra a roda ideal dos alimentos e a balança alimentar dos
portugueses, em 2008, ano em que foram recolhidos os últimos dados
Imagem mostra a roda ideal dos alimentos e a balança alimentar dos
portugueses, em 2008, ano em que foram recolhidos os últimos dados
Imagem: DR

As leis da economia mostram que quando há menos dinheiro no bolso, a
tendência é para se gastar menos. E os dados do Instituto Nacional de
Estatística (INE) comprovam-no. A despesa anual média dos portugueses
com a alimentação entre março de 2010 e março de 2011 representou
13,3% do salário anual médio, uma descida de 5,4% face a 2000.

"Este fenómeno poderá explicar algumas alterações no padrão alimentar
português, por conta da crise económica", explica Luís Matos,
vice-presidente da Associação Portuguesa de Nutricionistas.

"Paralelamente, assistiu-se a um aumento de quase 10% nas despesas com
a habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis", recorda o
especialista, citando o estudo do INE sobre Orçamentos Familiares.

A análise do INE mostra que a dieta nacional não se faz apenas de
preferências. Existem fatores como o preço que inferem diretamente nas
decisões. A falta de matéria-prima na indústria transformadora de
laticínios na União Europeia em 2007 e 2008, por exemplo, fez aumentar
o preço da produção de leite na ordem dos 11 a 15%, o que levou ao
aumento do preço dos produtos e à consequente retração no consumo de
queijo e iogurtes – menos 2% e 4%, respetivamente.

Demasiadas calorias

Os portugueses compram uma média de 3883 kcal diárias, quando o valor
médio de consumo recomendado para um adulto é de 2000 a 2500. "Um
número alto", nas palavras da médica endocrinologista Isabel do Carmo,
que sublinha que se trata da aproximação dos valores consumidos em
Portugal com os ingeridos nos Estados Unidos.

"Mas o facto de se consumirem muitas calorias não significa qualidade
nutricional, nem sequer suficiência. Trata-se de um média",
salvaguarda a presidente do conselho científico da Plataforma contra
a Obesidade.

O estudo publicado pelo INE em 2010 sobre a Balança Alimentar dos
Portugueses é o mais recente e pinta um cenário negro da alimentação
em Portugal. Compara os hábitos alimentares do novo século com os da
década de 90 e conclui que a "dieta portuguesa tem-se vindo
progressivamente a afastar dos princípios da variedade, equilíbrio e
moderação."

"Não sei se em 1990 era mais equilibrada, porque havia classes sociais
que não tinham acesso à carne, ao leite e à fruta. Pode ser que a
evolução para 2010 signifique apenas que esses grupos passaram a ter
acesso e a média subiu", especula Isabel do Carmo.

Curiosidade Cada vez mais os cereais substituem as raízes e os
tubérculos na dieta nacional. Portugal é o maior consumidor de arroz
da Europa com uma capitação de 17,3kg/ano.

O estudo dá conta de uma distorção gradual da roda de alimentos dos
portugueses, especialmente na última década. A análise adianta que a
carne de suíno continua a liderar a tabela nacional do consumo de
carnes, representando 38% desse total, ainda que a tendência seja para
o crescimento do consumo das carnes brancas, que representa 33% da
disponibilidade de carnes.

O mesmo estudo do INE adianta que 51% da população tem excesso de
peso. "Pelo menos metade da população adulta portuguesa ingere mais
calorias do que aquelas que gasta", garante Isabel do Carmo, que
salienta que o cenário europeu não é diferente. "Grande oferta e
publicidade de alimentos hipercalóricos, pobres do ponto de vista
nutricional, mas mais acessíveis economicamente" é uma das razões que
justifica as escolhas, tal como o sedentarismo das áreas urbanas.

A Direção-geral de Saúde conclui que a população rural tende a ter uma
alimentação mais saudável do que a urbana, por causa dos horários de
trabalho rígidos, da escassez de tempo e da oferta alargada de
"comidas da moda".

A longo prazo, os maus hábitos alimentares terão consequências na
saúde. "As pessoas ficam mais propensas a desencadear doenças
crónico-degenerativas, as mais frequentes causas de doença
cardiovascular, como a diabetes mellitus, hipertensão arterial,
dislipidemia, obesidade e cancro", alerta Luís Matos.

Em Portugal, as doenças cardiovasculares são a principal causa de
morte, cerca de 32%, de acordo com as Estatísticas da Saúde do INE.

Nuno de Noronha

Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/como-comem-os-portugueses_5013.html

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