domingo, 14 de outubro de 2012

Quo vadis, agricultura de Portugal?

Por António Reis Pereira, publicado em 12 Out 2012 - 03:00 |
Actualizado há 2 dias 20 horas

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O CDS queria a Lavoura, os cidadãos deram-lhe a Lavoura. Também é
verdade que foi o CDS que mais levantou o tema, justificando de alguma
forma a distinção.

Agora, mais de um ano depois da entrada em funções da nova equipa
ministerial, dirigida pela Dr.a Assunção Cristas, cumpre ao vulgo
eleitor avaliar o que já foi feito, que bases foram lançadas para o
futuro, que mobilização existe em torno do que deveria ser um
desíg-nio nacional.

E que desígnio é esse? Dada a realidade do país, será consensual
apontar baterias ao aumento de produção, substituindo importações por
produção nacional (e reduzindo assim a sangria de divisas), aumentando
em paralelo as exportações. Tal como uma empresa tem uma missão, é
justo que um sector com a importância do sector agrícola também tenha
uma missão, neste caso contribuir positivamente para as contas do
país, para mais numa altura em que se prevê uma escassez futura de
alimentos com o consequente aumento dos preços.

Mas vamos pelo início, a Agricultura não é uma realidade, é um
conjunto de realidades. As florestas nada têm que ver com os
lacticínios, ambos exportadores, que por sua vez nada têm também que
ver com os cereais. Mesmo nos cereais existem alguns (muito poucos)
produtos que contribuem positivamente para as contas do país, o mesmo
acontecendo com a carne, que apresenta produtos onde somos
auto-suficientes (suínos) e outros em que somos escandalosamente
dependentes do exterior (bovinos, - € 348 milhões em 2011).

Do exposto, cumpre perguntar: já foi feito, mercado a mercado, um
ponto de situação, a Senhora Ministra já fez alguma coisa para saber o
que se passa, o que é preciso fazer, definindo responsabilidades,
acções e timings de actuação?

Um ano e alguns meses após a sua entrada em funções, já alguém
percebeu qual é a política do ministério, quais são as suas opções de
base (não vamos, de certeza, ser bons em tudo), agradando naturalmente
a uns e desagradando a outros?

Assiste-se, infelizmente, a um conjunto de actos soltos, sem aparente
ligação. Dá a ideia de uma gestão em que ninguém se concentra nos
aspectos estratégicos do sector, antes preferindo ir resolvendo os
problemas que vão surgindo, reagindo em vez de agir, numa actuação
muito concentrada na gestão corrente do ministério e nas negociações
com a UE, questões inequivocamente importantes mas que estão a
montante da definição estratégica que é preciso que exista para a
Agricultura do país.

É evidente que a nossa dependência de Bruxelas é grande, todos
sabemos, mas não nos podemos deixar encurralar nesse lugar-comum,
Portugal tem imensos recursos que pode e deve saber aproveitar.

Aos 110 000 ha do Alqueva, há ainda a considerar os muitos hectares
desaproveitados nas outras áreas de regadio, o declínio do Levante
espanhol que abre ainda mais perspectivas aos nossos muito apreciados
hortofrutícolas, a excelência do nosso papel que pode ser ainda mais
explorada, o potencial dos nossos vinhos, a certeza dos nossos
azeites, e muito, muito mais.

É preciso pensar em grande, temos área e condições para tal. Há muitos
anos, a vinda de agricultores holandeses transformou o sector leiteiro
de português, e tal aconteceu porque se pensou em grande, olhou-se
para a floresta e não para a árvore, houve disseminação de tecnologia
(genética, maneio, alimentação, ordenha), e hoje, apesar de todos os
problemas que este sector possa ter, o país pode orgulhar-se dos seus
lacticínios. O mesmo já tinha acontecido no Século XVIII com os
ingleses no Douro, e mais recentemente com os avultados investimentos
de olivicultores espanhóis no Alentejo, que ajudaram a catapultar os
nossos azeites de novo para valores positivos em termos de balança
comercial. Será que não podemos fazer o mesmo com outros produtos
agrícolas?

O último ano deixa a ideia de que este governo quer reformar, não está
a governar em função das próximas eleições, antes tentando, na maior
parte dos casos, melhor ou pior, corrigir males endémicos que têm
décadas. Entrou em funções substituindo um outro que nos vendeu
facilidades, acabando como sabemos.

Pois um ano é tempo de espera a mais para a Agricultura, é preciso uma
outra coragem e uma outra dinâmica. Assim, não vamos lá.

Eng.º Agrónomo e gestor de empresas

http://www.ionline.pt/opiniao/quo-vadis-agricultura-portugal

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