sábado, 12 de março de 2016

Franceses assustados com problemas na vinha

11 Março, 2016 03:17 | Revista de Vinhos


Cerca de 10% da área total de vinha da França – uns bons 80.000 hectares – está a definhar. Esta área é equivalente a cerca de um terço da área de vinha portuguesa. O problema não é de agora mas tem-se vindo a agravar nas últimas décadas e, a continuar assim, poderá colocar a França numa posição subalterna no que toca à produção de vinho. E isto para já nem falar na potencial perda de qualidade.

Na origem do problema está um conjunto de doenças, onde entra o Oídio e o Míldio, a Flavescência Dourada e as doenças do lenho, como a Esca. O alerta foi dado recentemente por Jérôme Despey, presidente do conselho vitícola de FranceAgriMer, o organismo público qui faz a gestão da agricultura francesa. Em marcha está já um plano de acção, baseado em investigação, e que prevê um orçamento de 1,5 milhões de euros. Este volume, da responsabilidade dos viticultores franceses, poderá ser duplicado se o estado francês colocar no plano de acção o mesmo investimento que a fileira do vinho. Aliás, algumas associações francesas já vieram dizer que a luta contra os inimigos da videira deveria ser considerada "uma prioridade nacional". 

O plano de acção quer usar os recursos de organismos de investigação franceses (e exteriores), como o INRA (Institut national de la recherche agronomique) e a Universidade de Bordéus. O intuito é ganhar conhecimento e ajustar as linhas de acção imediatas. A este propósito, disse Jérôme Agostini, o presidente do CNIV, o Conseil national des vins à appellation (AOC, IGP): "o nível de conhecimentos sobre o definhar da videira revelou as lacunas no conhecimento dos fenómenos em jogo". Este dirigente associativo reclama a autorização de recorrer a videiras resistentes, já utilizadas e comprovadas nos vizinhos da França, nomeadamente a Suíça, Alemanha e Itália. Ao que parece, já foram identificadas 25 castas e os agricultores franceses querem que se comece desde já a fazer testes em várias regiões, para determinar quais as que podem ser usadas com maior eficácia.
Enquanto se discute o problema, o relógio continua a andar. E existe mesmo urgência em resolver o problema. Segundo um estudo encomendado o ano passado pela CNIV e uma empresa de estudos estratégicos, vão desaparecer, no espaço de uma década, 23% das videiras-mães e 34% dos viveiristas. Este estudo revelou ainda que em 40 anos, a vinha francesa recuou 37% em área e continua ao ritmo de 0,9% por ano. No mesmo espaço temporal, a produção baixou um terço. Pior ainda: a decadência na vinha francesa provocou, em zonas demarcadas, um abaixamento das produções por hectare autorizadas que chegam aos 4,6 hectolitros. O resultado é que a vinha francesa perde 2,1 a 3,4 milhões de hectolitros em 2014, o equivalente em dinheiro que oscila entre os 900 milhões e 1.000 milhões de euros. Se o fenómeno não for erradicado, em 2020, os prejuízos podem elevar-se para 2.000 milhões!

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