sexta-feira, 15 de abril de 2011

O mosqueteiro do olival

Ferreira do Alentejo
Nos melhores terrenos agrícolas do sul do País luta-se contra uma auto-estrada
Paulo Chitas (texto) e José Caria (foto)
16:40 Quinta feira, 14 de Abr de 2011
jose caria
Os patos evadem-se das charcas da Quinta de São Vicente, num voo
rasante e elegante, bordejando o olival. "Se alinhássemos todas as
oliveiras da quinta numa única fila, as árvores chegavam a Bordeaux",
assegura, sorridente, João Filipe Passanha.

A primavera é a estação favorita do administrador da Quinta de São
Vicente, uma propriedade de 700 hectares a leste de Ferreira do
Alentejo, junto à estrada para Beja. Ainda não chegou o demolidor
calor de Julho mas o sol já aquece a vasta planície, agora plena de
searas ondulantes. "Gosto deste tempo, deste calor", diz o arquitecto,
enquanto conduz o jipe pelos caminhos da herdade.
João, 47 anos, trabalhou em arquitetura e alta costura na Bélgica mas
regressou há sete anos para se dedicar à agricultura nas terras
alentejanas da família. Apostou na plantação de um olival com as
variedades arbequina, cobrançosa e picual, em 2005 e, em 2008 já
estava a produzir azeite virgem de qualidade. Em 2010 a safra do ano
anterior conquistou uma medalha de ouro do Comité Oleiro
Internacional, uma espécie de Nobel dos azeites. Foi batizado pela
imprensa o Melhor Azeite do Mundo e, asseguro-vos, vertido sobre
fatias de pão alentejano, na fresquidão de uma casa de pasto
alentejana, merece o apodo.
A propriedade original remonta ao século XVII, foi alargada pelas
gerações vindouras e sujeita às campanhas do trigo dos anos 1940,
quando Salazar pretendeu transformar o Alentejo no celeiro de
Portugal. Tem uma casa apalaçada, refrescada por um espelho de água,
um jardim, nutrido por canais de água que circula por gravidade, e
3000 metros quadrados de superfície coberta, a maior parte destinada
às antigas casas dos trabalhadores rurais.
Ocupada no pós-25 de Abril, a Quinta de São Vicente foi então reduzida
à mínima expressão produtiva, assegura João. Recuperada tardiamente
por uma família que procurou no estrangeiro refúgio para as convulsões
revolucionárias dos anos 1970, foi agora convertida a olival de
regadio. Está situada na região dos Barros de Beja, em solos agrícolas
de classe A, a melhor, capazes de quase tudo produzir. Mas uma frente
de betão ameaça-a. Dá pelo nome de IP8, a auto-estrada que ligará
Sines a Beja. A história completa do agricultor que luta contra a
auto-estrada será conhecida na VISÃO da próxima semana, cuja
publicação foi antecipada para quarta-feira, 20.
http://aeiou.visao.pt/o-mosqueteiro-do-olival=f598780

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