quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Alqueva: espanhóis retiram azinheiras submersas

Milhares de árvores que se pretendia proteger acabaram debaixo de água
05.10.2011 - 10:08 Por Carlos Dias
Votar | 3 votos 2 de 4 notícias em Local« anteriorseguinte »
Enchimento até cotas que não eram previsíveis apontadas como razão
para a submersão do arvoredo (Foto: Nuno Oliveira)
Uma equipa de mergulhadores vai estar envolvida na operação que é
executada para garantir os níveis de segurança na navegação, do lado
espanhol, na albufeira da barragem alentejana.

O sacrifício do montado de azinho na área inundada pela albufeira de
Alqueva continua a ter lugar em território espanhol, decorrida quase
uma década após o encerramento das comportas da grande barragem do
sul, a 8 de Fevereiro de 2002. Razões de segurança para a navegação
sustentam o corte de mais de 4000 azinheiras. A Confederação
Hidrográfica do Guadiana, entidade que gere a bacia do rio ibérico no
país vizinho, apresenta uma outra explicação: foram atingidas cotas de
enchimento da barragem portuguesa que "não eram previsíveis".
O corte das azinheiras submersas já está a decorrer e vai prosseguir
nos próximos três meses, nas localidades de Villanueva del Fresno,
Cheles e Olivença. A operação está entregue a uma equipa de
mergulhadores. A biomassa retirada é para triturar ou queimar. A
secretária de Estado para as Alterações Climáticas de Espanha já deu o
seu aval para cortar as azinheiras submersas.
O estudo de impacte ambiental elaborado para a operação estabelece
ainda que, na zona de Villanueva del Fresno, árvores que alberguem
ninhos não podem ser eliminadas, assim como as que estão localizadas
nas ilhas que o enchimento de Alqueva veio a criar "a fim de assegurar
zonas de refúgio para a fauna e evitar moléstias derivadas da
navegação". As autoridades espanholas lembram que, antes de se iniciar
o enchimento da albufeira, foram cortadas na região da Extremadura
mais de 400.000 azinheiras.
A razia atingiu outra dimensão em território português, afectando mais
de um milhão de árvores: 544 mil azinheiras, 504 mil eucaliptos, 133
mil oliveiras, 34 mil sobreiros e mais 130 mil de outras espécies de
árvores. A operação custou cerca de 20 milhões de euros e envolveu o
uso de helicópteros para retirar as árvores abatidas nas zonas
inacessíveis.
A ribeira de Alcarrache ficou por desmatar, numa extensão de 1500
hectares ao longo da linha de água. As organizações de defesa do
ambiente identificaram no território importantes nichos ecológicos e
negociaram com a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas de
Alqueva (EDIA) a manutenção do montado de azinho, que acabou submerso.
Milhares de azinheiras ficaram submersas e a representar um risco para
a qualidade da água de Alqueva. A EDIA reconheceu, em 2010, no estudo
Protecção e Qualidade da Água em Alqueva e Pedrogão, que, "no futuro",
deve ser dada uma atenção especial sobre manchas de vegetação e de
árvores que não foram removidas e que "irão sofrer o efeito da
submersão".
Uma situação em tudo semelhante à verificada pelas autoridades
espanholas. No entanto, na Ribeira de Alcarrache milhares de árvores
continuam submersas sob 15 metros de água e os habitats que se
pretendiam preservar estão irremediavelmente perdidos, quando o
objectivo era não perturbar a fauna que ali vive, nem mexer na flora.
Poupadas ao abate 125 mil árvores
Nos estudos de preservação ambiental elaborados para o Empreendimento
de Fins Múltiplos de Alqueva foi decidido que, entre a cota 150 e 152,
só o mato podia ser cortado. A decisão permitiria poupar ao abate
cerca de 125 mil árvores para evitar que o impacte visual não fosse
marcado por imagens desoladoras quando se verifica a descida de nível
das águas. No entanto, a submersão de milhares de árvores aumenta os
riscos para a navegação e ameaça a qualidade da água.
http://www.publico.pt/Local/alqueva-espanhois-retiram-azinheiras-submersas-1515150

Sem comentários:

Enviar um comentário