domingo, 19 de agosto de 2012

Brasileiros criam plantas resistentes à seca

TRANSGÉNICOS

por Fabiane Roque, agência LusaHoje


Fotografia © REUTERS/Ahmad Masood
Investigadores brasileiros estão a testar em laboratório plantas
transgénicas capazes de resistir a longos períodos de seca, numa
resposta às preocupações suscitadas pelas alterações climáticas.

"O projeto começou a partir da pesquisa do genoma da planta do café.
Nesse estudo, que contou com mais de 100 investigadores, identificámos
os 30 mil genes do café e, a partir daí, cada grupo passou a pesquisar
uma característica específica", afirmou à Lusa o investigador Eduardo
Romano, ao explicar que o seu grupo ficou com a missão de estudar os
genes associados à resistência à seca.
Após ser identificado, esse gene foi isolado e testado numa
planta-modelo, de uma espécie semelhante à mostarda, com o nome
científico Arabidopsis thaliana.
"As plantas que receberam o gene sobreviveram 40 dias sem água,
enquanto as que não o receberam morreram após 15 dias sem água", disse
Eduardo Romano, que integra a equipa científica da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agrícola (Embrapa), onde o projeto é levado a cabo.
Graças aos resultados animadores obtidos nas primeiras experiências, a
descoberta será testada agora em cinco culturas comerciais, entre elas
alguns dos principais produtos de exportação brasileira:
cana-de-açúcar, soja, arroz, trigo e algodão.
De acordo com o investigador, exemplares dessas cinco espécies já
receberam o gene especial e estão a ser observadas em laboratório.
Após o nascimento das primeiras plantas transgénicas, as sementes
serão novamente testadas em laboratório para, só então, a partir de
uma seleção das melhores amostras, serem iniciados testes de campo.
"Acreditamos que num ano e meio já teremos os resultados da
experiência em todas as culturas", avança.
Em paralelo com os estudos de viabilidade do gene da resistência à
seca, a equipa está também a realizar testes toxicológicos para
garantir que os produtos resultantes das culturas transgénicas serão
seguros para consumo.
De acordo com o investigador, já foi possível comprovar que as
variedades geneticamente modificadas em estudo não serão propensas a
causar alergias.
"Ao longo do desenvolvimento do produto vamos fazendo vários testes.
Por exemplo, já vimos que essa proteína não é propensa a causar
alergia. Fazemos isso comparando com um banco de dados que a FAO
possui", explica.
Segundo Romano, a legislação brasileira atual é bastante rigorosa no
controlo de produtos transgénicos e o investimento em testes de
biossegurança chega a ser até dez vezes superior ao investimento na
pesquisa em si.
A seca figura entre os maiores problemas da agricultura em todo o
mundo. A atual estiagem que ameaça a produção de milho nos Estados
Unidos levou recentemente a um pedido oficial da Organização da ONU
para Agricultura e Alimentação (FAO) para que o país abandone
temporariamente sua produção de biocombustível a partir do milho.

http://www.dn.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=2726384&page=-1

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