sábado, 22 de setembro de 2012

DICIONÁRIO DOS ALIMENTOS V de Vinho

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18.09.2012 Por Pedro Carvalho, nutricionista
O vinho tinto é daqueles alimentos que merecem uma enciclopédia e não
apenas um mero texto, de tão rica história e propriedades sensoriais e
nutricionais que o elevam ao patamar de "instituição" no nosso país.

Em tempos que não deixam saudades, era comum dizer que beber um copo
de vinho era dar de comer a um milhão de portugueses, algo que
reflecte bem a importância que o vinho sempre teve na nossa cultura,
não sendo assim de estranhar que tenhamos o maior consumo per capita
mundial deste néctar dos deuses, sendo igualmente o nosso país o seu
10.º maior produtor mundial.

Que a ingestão de vinho tinto quando moderada traz benefícios para a
nossa saúde não é hoje em dia novidade para ninguém. Aliás, estes
efeitos benéficos do vinho tinto começaram precisamente a ser levados
em conta pelo seu efeito "compensador" de alguns hábitos menos
saudáveis como a ingestão de gorduras saturadas. O Paradoxo Francês,
como ficou conhecido, relatava que, apesar da tradicional ingestão de
queijos e outros alimentos ricos em gorduras saturadas pelos
franceses, a concomitante ingestão de vinho tinto fazia com que
registassem uma menor incidência de morte por doenças cardiovasculares
que outras populações em estudo.

Historicamente, o vinho sempre foi visto como tendo o condão de
melhorar a qualidade de vida daqueles que dele usufruíam. Hoje em dia,
para além de se saber que o consumo moderado de vinho tinto (1
copo/dia para as mulheres; até 2 copos/dia para os homens) implica uma
melhoria na saúde cardiovascular, é também sabido que o seu padrão de
ingestão é importantíssimo para a observação destes efeitos. Assim,
mesmo respeitando as quantidades atrás mencionadas, é totalmente
diferente se a sua ingestão for paulatina no contexto de uma semana e
no decorrer de uma refeição, do que se for aglomerada aos
fins-de-semana num comportamento de binge-drinking.

Existem alimentos com maior teor de polifenóis que o vinho, da mesma
maneira que existem bebidas com maior quantidade de álcool, no
entanto, o vinho tinto consegue estabelecer um grande equilíbrio e
sinergia entre estes dois compostos, com benefícios comprovados na
vasodilatação e consequente actividade anti-aterosclerótica. Para além
destes efeitos, os superpolifenóis do vinho, de seus nomes resveratrol
e procianidinas, têm ultimamente estado associados a uma indução da
expressão de alguns genes associados à longevidade, algo que há muito
fazia parte da crença popular e que agora ganha o epíteto de
cientificamente comprovado.

O vinho tinto faz assim a conjugação perfeita de benefício sensorial e
nutricional. Com calma, a acompanhar uma refeição equilibrada e com a
moderação que se exige, a melhor maneira de o apreciar é também aquela
que melhor nos oferece todos os seus benefícios.

*Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e
Alimentação da Universidade do Porto
pedrocarvalho@fcna.up.pt

http://lifestyle.publico.pt/dicionario/310475_v-de-vinho

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