quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Preço da carne de porco subiu mas custos dos produtores aumentaram 6,6 por cento

19-09-2012




Nos talhos e supermercados, o preço da carne de porco aumentou, em
média, apenas 0,1 por cento ao ano entre 2005 e 2011, mas os custos
dos produtores com a alimentação dos animais dispararam 6,6 por cento.

Os produtores de suínos, com as margens reduzidas, não conseguiram
acompanhar a subida dos custos de produção verificadas neste período e
o preço a que venderam os seus animais para a indústria aumentou, em
média e anualmente, apenas 1 por cento.

Nas prateleiras, o consumidor não teve de pagar muito mais pela carne
e a partir de 2009, já em plena crise económica e financeira, os
preços ficaram mesmo abaixo da inflação. De acordo com o segundo
relatório sobre Índices de Preços na Cadeia de Abastecimento
Alimentar, divulgado pelo Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP) do
Ministério da Agricultura, o preço dos suínos nos produtores é muito
mais instável do que o preço na indústria, que abate animais ou
prepara e conserva a carne.

Já no final da cadeia, os valores cobrados aos consumidores
mantiveram-se estáveis e não repercutiram «os movimentos sazonais dos
preços na produção e na indústria».
Grande parte da alimentação dos animais é constituída por cereais e,
por isso, a margem dos produtores de suínos «está condicionada pelo
comportamento do preço» destas culturas, muito volátil nos mercados
internacionais. Portugal depende das importações e está sujeito à
produção externa para se abastecer.

Este ano, a seca extrema que assolou os Estados Unidos, a pior dos
últimos 56 anos, aliada à fraca produção na Rússia e na Ucrânia, o
maior exportador do mundo de cevada, fizeram disparar os preços dos
cereais, levantando receios de uma nova crise alimentar como a que
sucedeu em 2008.

Recentemente, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
Alimentação (FAO) piorou as suas estimativas de produção global de
cereais e diz que «não será suficiente para cobrir totalmente as
expectativas de utilização em 2012/2013, apontando para um declínio do
stock global maior do que o esperado».

Sujeitos às vontades do abastecimento externo, os produtores
portugueses não têm conseguido reflectir nos preços a que vendem os
suínos o aumento dos custos com a alimentação dos animais, que
representam em média mais de 80 por cento dos consumos intermédios dos
porcos. O GPP fala mesmo em «deterioração dos preços dos suínos no
produtor face aos preços dos alimentos para animais». Além disso, o
sector tem um rácio de valor acrescentado por unidade produzida
relativamente baixo», acrescenta.

A produção de carne de porco representa cerca de 20% da produção
animal em Portugal. Por ano são consumidas 493 mil toneladas desta
carne, cujo preço é definido na Bolsa do Porco, instalada no Montijo.
Depois de estabelecido o valor na produção, a indústria vende, por sua
vez, a carne ao comércio alimentar.

O gabinete do Ministério da Agricultura não dispõe de dados concretos
sobre a indústria da carne de porco e para analisar a evolução dos
preços usou, por isso, dados sobre a carne em geral.

Numa comparação europeia, mostra ainda que o ritmo de crescimento dos
preços da carne foi superior na União Europeia (UE), quer na
indústria, quer no consumidor. Os preços da carne no comércio subiram
em média 2,5 por cento ao ano na Europa, enquanto em Portugal se
registou uma estabilidade média de 0,1 por cento.

«Os preços da carne na UE em geral têm reflectido a evolução dos
preços no conjunto da economia. Quanto a Portugal, o crescimento foi
inferior ao conjunto da economia, o que é mais evidente a partir de
2008», lê-se no relatório.

Segundo um estudo anterior do Observatório dos Mercados Agrícolas e
das Importações Agro-Alimentares, a produção de carne de suíno, em
Portugal representa cerca de 20 por cento da produção animal. Em 2009,
Espanha forneceu 96 pontos percentuais (p.p.) das nossas compras de
carne de porco e absorveu 45 p.p. das vendas. Por ano, os portugueses
consomem 493 mil toneladas deste tipo de carne.

O Índice de Preços na Cadeia de Abastecimento começou a ser elaborado
este ano depois da criação da PARCA, a Plataforma de Acompanhamento
das Relações na Cadeia Agro-alimentar, que junta à mesma mesa
agricultores, indústria e grande distribuição.

À semelhança do que sucedeu com o primeiro documento, divulgado em
Maio, os dados referem-se a índices de preços, sobretudo do Instituto
Nacional de Estatística (INE) e não a margens, facto criticado pela
Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição.

A explicação, dada pelo GPP, é que «para os sectores da indústria e
comércio alimentar não se dispõe de informação sobre custos de
produção». A intenção inicial destes relatórios era analisar a
evolução dos preços ao longo da cadeia, desde o produtor até à
prateleira, e «reforçar a transparência». Tendo em conta os dados
disponíveis para fazer esta análise, o GPP admite que há «limitações
inerentes» à utilização de índices de preços.

Fonte: Público

http://www.confagri.pt/Noticias/Pages/noticia44689.aspx

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