quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Quercus alerta para "expansão descontrolada" de eucaliptos no país

19.09.2012
Carlos Dias

No Fundão, a água escasseia mas está a ser utilizada para irrigar uma
área de ensaio com eucaliptal. A população protestou.

A organização ambientalista Quercus diz estar preocupada com a
"expansão descontrolada" de novas plantações de eucaliptos que
aproveitam a conversão de áreas de pinhal dizimadas pelos incêndios,
estando já a ocupar terrenos agrícolas, áreas sensíveis e zonas de
regadio.

De entre os casos relatados pela Quercus destaca-se o que ocorreu
recentemente no Perímetro Florestal do Castro, em Ferreira do Zêzere,
uma área que integra a Reserva Ecológica Nacional e cuja gestão foi
transferida para o município de Ferreira do Zêzere em Julho de 2009.

Uma parcela deste perímetro foi arrendada à Portucel Soporcel
Florestal, tendo sido autorizada, numa área com cerca de 44 hectares,
"a conversão do pinhal existente num novo eucaliptal" pela Autoridade
Florestal Nacional em Fevereiro de 2011. Esta situação, prossegue a
Quercus, conduziu "à destruição da regeneração natural de
pinheiro-bravo existente".

A Câmara de Ferreira do Zêzere é acusada pela organização
ambientalista de ter "alienado parte do património público em
favorecimento de uma indústria", num concelho em que a expansão da
monocultura de eucalipto "é dominante" .

O presidente da autarquia, Jacinto Cristas Flores, confrontado com a
denúncia da Quercus recusou-se a falar "sobre o que não conhece".

Sem licença

A Quercus faz ainda referência a projectos de rearborização em
propriedades da Portucel Soporcel Florestal junto à albufeira do
Castelo do Bode, no lugar de Casal da Luísa, onde o terreno foi
recentemente mobilizado para "converter uma área de floresta natural
de protecção" em eucaliptal. O local integra a "área condicionada pelo
Plano de Ordenamento da Albufeira de Castelo do Bode" .

A Portucel "intervencionou linhas de água sem licença", o que originou
a elaboração de um auto de notícia e uma contra-ordenação por parte do
Serviço de Protecção da Natureza e Ambiente da GNR. "A empresa
"prevaricadora nunca foi notificada" pela Administração da Região
Hidrográfica do Tejo, entidade instrutora do processo, observa a
Quercus.

Alfredo Campos, dirigente da Confederação Nacional de Agricultura
(CNA), confirma que, nas regiões Centro e Norte do país, a plantação
de eucaliptos está a ocupar terrenos "com muito boa aptidão agrícola"
e refere que as empresas de celulose têm argumentado que "têm dinheiro
para investir mas que lhes falta matéria-prima".

O dirigente da CNA acentua que os portugueses "não são coalas": O que
precisam "é de produzir alimentos para reduzir a dependência" em
relação ao exterior.

Mais a sul, no litoral alentejano, a expansão dos eucaliptais
estende-se progressivamente por terrenos de produção agrícola, facto
que "está a gerar alguma controvérsia" junto das populações vizinhas
na freguesia do Cercal do Alentejo, concelho de Santiago do Cacém, e
na freguesia de S. Luís, concelho de Odemira, salienta a associação
ambientalista.

O presidente da Junta de Freguesia de S. Luís, António Ventura, disse
ao PÚBLICO ter conhecimento "informal" da plantação de eucaliptos nas
proximidades dos aglomerados urbanos, mas garante que as pessoas "não
estão" contra a instalação deste espécie.

Acrescentar "mais meia centena de hectares, às muitas centenas que já
existem, não faz qualquer diferença", realça o autarca, acrescentando
que a proliferação de eucaliptos "é uma realidade a que temos de nos
habituar".

Eucaliptos no regadio

O regadio de eucaliptal já é uma realidade na Beira Interior, mais
concretamente no lugar de Quinta da Caneca, concelho do Fundão, onde
está instalada uma área de ensaio superior a 50 hectares, adiantou ao
PÚBLICO o vice-presidente da autarquia, Miguel Gavinhos. Esta
plantação foi autorizada pela Autoridade Florestal Nacional.

A Quercus, baseando-se em informação que recolheu junto da Portucel,
acrescenta que "a água usada é proveniente do circuito hidráulico do
Sabugal-Meimoa" e está a ser disponibilizada pela respectiva
associação de regantes.

Mas esta solução "tem gerado contestação social" devido à escassez de
água disponível na região, explica a organização ambientalista. A
Quercus salienta ainda que a expansão do eucaliptal de regadio, pelo
seu "elevado consumo de água, é algo que gera preocupação", advertindo
para o risco que corre o desenvolvimento sustentável da agricultura
para abastecimento alimentar às populações face a estas opções.

Miguel Gavinhos assume que a posição do município do Fundão é de
reserva em relação ao eucalipto, lembrando que lançou uma taxa de 918
euros por cada hectare plantado para "desincentivar a plantação do
eucalipto no concelho".

Questionada a empresa Portucel/Soporcel Florestal sobre o teor das
denúncias feitas pela Quercus, não foi possível obter qualquer
resposta até ao fecho desta edição.

http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1563688

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