sábado, 1 de dezembro de 2012

Vinho chega ao Brasil oito vezes mais caro

Aos 27% de taxa aduaneira cobrada, juntam-se impostos e margens
várias, que fazem disparar o preço final do vinho ao consumidor

Paulo Portas dis que há margem para crescer
Ministro tem defendido o setor na UE
D.R.
01/12/2012 | 00:00 | Dinheiro Vivo

Taxa aduaneira, imposto de renovação da marinha mercante, imposto de
circulação de mercadorias e serviços e financiamento da Segurança
Social... estas são apenas algumas das parcelas de formação do preço
de venda ao público de uma garrafa de vinho europeu no Brasil, a que
se juntam, ainda, as margens do importador, do supermercado ou do
restaurante. Não se admire, por isso, que um vinho que saia de
Portugal a três euros o litro, possa chegar ao consumidor brasileiro,
na mesa de um restaurante, a quase 22 euros.

O Brasil é o quarto destino dos vinhos portugueses e as exportações
aumentaram quase 80% entre 2000 e 2011, passando de 19,7 para 35,2
milhões de euros. Isto apesar das barreiras e dos constrangimentos
alfandegários. "Em nenhum outro país do mundo somos tão apreciados e
fazemos parte, de forma tão enraizada, dos hábitos de consumo",
explica Pedro Silva Reis, da Real Companhia Velha.

Não sendo um exclusivo português, a carga fiscal é um problema, na
medida em que retira competitividade ao nosso vinho, sobretudo versus
os argentinos e os chilenos. Os primeiros estão isentos de taxas
aduaneiras por integrarem o Mercosul, os segundos por terem um acordo
bilateral com o Brasil.

"O vinho chega ao retalho cinco a oito vezes mais caro e nos
restaurantes o diferencial ainda é maior. É uma carga altíssima", diz
Pedro Silva Reis. O Brasil representa 18% das exportações e 12% da
faturação da Real Companhia, que, em 2011, se situou nos 2,1 milhões
de euros.

O empresário lembra que a promessa de um acordo bilateral entre a
União Europeia e o Brasil se arrasta há anos. "Não há meio de sair,
encalha sempre nas questões agrícolas francesas. Quem manda na UE está
pouco preocupado com o vinho. Os países do Norte da Europa não
produzem, a França e a Itália exportam para todos os cantos do mundo,
só nós é que temos sentido verdadeiramente os efeitos desta elevada
carga fiscal, mas não temos tido força para desbloquear a situação",
refere.

Outro dos grandes exportadores para o Brasil é a José Maria da
Fonseca, que aí coloca mais de um milhão de garrafas por ano de
Periquita, o vinho europeu mais vendido no país. António Soares Franco
assegura que o Periquita não chega oito vezes mais caro ao consumidor,
mas reconhece que as taxas locais são "um exagero", a começar pelos
27% de direitos de importação. "Gostava de saber quais são as taxas
aduaneiras na Europa para um vinho do Brasil", frisa.

O empresário, cuja empresa fatura anualmente 18 milhões, assume que a
questão o preocupa, até pela vantagem argentina e chilena. "Não
jogamos todos com as mesmas armas". O problema é que "as relações
entre a UE e o Brasil são gigantescas e o vinho é um pequenino
capítulo dessa história". Até porque teme que esta questão venha a dar
origem a nova guerra, como quando o governo brasileiro quis
recentemente limitar as importações de vinhos estrangeiros.

"O Brasil é um país gigantesco e há lugar para todos. Até porque o
consumidor brasileiro ainda bebe pouco vinho [consumo per capita de
dois litros versus quase 48 litros em Portugal], devíamos trabalhar
todos, em conjunto, para o promover", defende.

Já Jorge Monteiro, da ViniPortugal, lembra que os próprios brasileiros
têm vindo a defender que o desenvolvimento do negócio do vinho
passaria por uma certa 'moralização' nas taxas, que permitira aumentar
as receitas do Estado, por via do crescimento do setor.

http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO074810.html?page=0

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