terça-feira, 29 de outubro de 2013

ANGOLA: Produção agrícola não satisfaz

28 de Outubro, 2013por José Maurício
Produção agrícola cresce e o Governo faz balanço positivo, mas ainda
está longe de satisfazer as necessidades do mercado nacional.
Especialista alerta para a importância de uma distribuição eficaz. Já
os agricultores pedem crédito bonificado.
Angola é o 16º. país com maior potencial agrícola do mundo. Até 1973,
o sector agrícola angolano satisfazia a maior parte das necessidades
alimentares do mercado nacional, chegando a ser um dos maiores
exportadores mundiais de café e outras commodities do ramo, contudo,
actualmente apenas 3% da terra arável está cultivada.

Sendo que de acordo com a FAO, organismo das Organização das Nações
Unidas (ONU) vocacionado ao sector alimentar, em Angola existe uma
área potencial para fazer agricultura de cerca de 58 milhões de
hectares, dos quais somente foram cultivados cerca de 5,2 milhões de
terras no ano agrícola 2011.

No sentido de ultrapassar o mau momento que o sector vive, devido ao
longo período de guerra que assolou o país, o Executivo angolano
pretende atingir até 2017, por via do Plano Nacional de
Desenvolvimento 2013-2017, uma produção anual de 2,5 milhões de
toneladas de cereais, para contrapor o actual milhão, e 20 milhões de
toneladas de mandioca, em vez das actuais 15 milhões de toneladas.

A intenção do Governo é promover o desenvolvimento integrado e
sustentável do sector agrário, garantindo a segurança alimentar e o
abastecimento interno, bem como realizar o aproveitamento das
oportunidades relacionadas com o mercado regional e internacional.

Para o efeito, o capítulo agrícola do PND tem como prioridades de
objectivos específicos, desenvolver uma agricultura competitiva,
assente sobretudo na reorientação da produção familiar para o mercado
e no relançamento do sector empresarial. Pretende-se, no entanto,
"reabilitar e expandir as infra-estruturas de apoio à produção
agro-pecuária, estimular práticas de natureza associativa e
empresarial no quadro de estratégias integradas com vista ao
desenvolvimento das fileiras de produção agro-pecuária, para se
alcançar a auto-suficiência dos produtos alimentares de base e
relançar culturas de rendimento com perspectivas de rentabilidade e
com tradição no território, de forma a promover o aumento do
rendimento dos produtores e das exportações nacionais", diz o
documento.

Escoamento é essencial

Aos poucos, nota-se que o sector tem vindo a registar resultados
positivos, por exemplo, segundo dados do Banco Africano de
Desenvolvimento (BAD), em 2004, a contribuição da agricultura para o
Produto Interno Bruto (PIB) foi de 8,6%, já em 2012 foi de 10,3%.

O economista Samora Machel considera Angola um grande produtor de
produtos agrícolas, mas observa que boa parte da produção é
desperdiçada, sobretudo no transporte das fontes produtoras para os
mercados consumidores, o que ocasiona elevados custos aos produtores.
Defende que "uma adequada estratégia de distribuição da produção reduz
os custos de transporte, racionalizando o seu escoamento, determinando
a localização de centros de distribuição, pois o custo de transporte
dos produtos agrícolas varia de 4% a 25% das receitas brutas da
maioria dos produtores agrícolas".

Para o também docente universitário Samora Machel, a produção agrícola
nacional apenas vai ter capacidade de abastecer toda a população
quando as questões de produção e escoamento de produtos forem
solucionadas, pois "não basta se criar condições de produção, é
necessário que se crie mecanismos de escoamento que ajudem os
agricultores na generalidade".

O secretário de Estado para os Recursos Florestais, André de Jesus
Mota, por sua vez, defende que para se aumentar a produção agrícola
nacional o Governo tem levado a cabo o programa crédito agrícola, que
serve para encorajar as cooperativas que foram formadas. "Sabemos que
se não produzirmos nunca vamos combater a fome e a pobreza no país,
apesar das dificuldades que temos enfrentado no corrente ano, devido
às estiagens, o balanço que fazemos da actividade agrícola é positivo.
Em 2014 daremos continuidade aos programas já existentes".

Segundo ainda o governante, em Angola existem 3 milhões de unidades
familiares que produzem, sendo grande parte dessas as principais
fornecedoras de produtos que chegam à população. "A primeira riqueza
de um país é a terra, quem não tem terra não tem nação".

Financiamento de 350 milhões de dólares

Preocupado com o sector agrário no país, no ano passado, de acordo com
o nosso interlocutor, o Ministério da Agricultura e Desenvolvimento
Rural injectou 350 milhões de dólares para sustentar a actividade
agrícola, todavia, algumas pessoas que beneficiaram de financiamento
por via deste valor, deixaram de exercer a actividade, alegadamente
devido à seca que desde 2012 tem vindo a afectar grande parte do
território nacional com solo fértil para cultivo, disse André de Jesus
Mota.

Porém, operadores do sector alegam que uma das grandes dificuldades
que têm encontrado para desenvolver as suas actividades são os
créditos agrícolas.

Abílio Barros é proprietário da fazenda Hocha, no Kwanza-sul. Ao SOL
lamenta que as autoridades angolanas se aperceberam de uma forma muito
lenta da importância do financiamento ao sector agrícola. Os
operadores sentem que "não estão a ser acompanhados, existe o programa
Angola Investe, que visa conceder créditos bonificados aos sectores
prioritários, mas parece-me que até ao momento pouco ou nada tem sido
feito em nosso favor, o que nos obriga a continuar com os nossos
esforços".

Já a fazendeira Naterça Fonte, considera que o sector tem evoluído nos
últimos tempos. Todavia, defende que o Governo deve passar a dar mais
atenção aos produtores nacionais, principalmente àqueles que na fase
em que a produção era irrisória, dedicavam-se ao trabalho de campo
familiar.

"É necessário que haja técnicos que consigam fazer um levantamento do
potencial das diversas actividades agrícolas desenvolvidas em Angola.
Esses dados devem chegar às autoridades superiores para que eles
percebam que a agricultura é tão importante como as outras
actividades, como, por exemplo, a exploração do petróleo", sustenta
Naterça Fonte.

Marcos Lopes, director-geral da Maxi, por seu turno, considera que "se
quisermos produzir melhor e mais deve haver incentivo por parte de
quem governa".

Com o objectivo de desenvolver a produção nacional e tornar acessível
a toda população os melhores produtos agrícolas do país, o programa
Fazenda Maxi, que existe há pouco mais de um ano, num investimento de
um milhão de dólares, tem estabelecido parcerias com produtores
locais. Neste momento envolve 21 agricultores de quatro províncias,
que no total representam 22 fazendas.

A operação conta com uma frota de viaturas refrigeradas com capacidade
para 8 toneladas, bem como com caixas de transporte especialmente
desenvolvidas para o projecto, escoando os produtos do interior para
os centros urbanos.

Segundo Marcos Lopes, director-geral da Maxi, a sua empresa oferece
apoio técnico na planificação e no acompanhamento das culturas, da
sementeira à colheita, actividade que tem permitido os agricultores
melhorarem a produtividade. Actualmente, a Maxi recebe das fazendas
associadas mais de 40 produtos frutícolas e hortícolas. Nos
frutícolas, destaca-se a banana, abacaxi, mamão e papaia, e nos
hortícolas a batata, cebola, repolho e tomate.

"As 22 fazendas membros do projecto Fazenda Maxi representam 6 mil
hectares de produção agrícola do país e contam actualmente com cerca
de 800 postos de trabalho", acrescenta.

jose.mauricio@sol.co.ao

http://sol.sapo.pt/Angola/Interior.aspx?content_id=89152

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