quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Crime organizado chega ao mundo rural. Milícias também

por Margarida Bon de Sousa, Publicado em 10 de Agosto de 2011 |
Actualizado há 32 minutos
GNR limita-se a receber queixas, enquanto manadas de vacas e rebanhos
de ovelhas estão a desaparecer. Agricultores preparam milícias
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O mundo rural está em pé de guerra. Já não são os roubos sistemáticos
do fio de cobre dos pivots que regam as searas ou as plantações de
milho que fazem parte do rol de queixas. Agora são atacadas manadas
inteiras de vacas e há olivais recém-plantados que desaparecem durante
a noite. Os agricultores falam de crime organizado, descrevendo
situações em que são utilizadas gruas para roubar todas as alfaias de
uma propriedade, situação confirmada pela Confederação dos
Agricultores de Portugal (CAP) ao i. Em resposta, os agricultores
estão a começar a organizar-se em milícias para defenderem o seu
património. Muitos estão mesmo a desistir da actividade porque já não
têm capacidade para reinvestir.

A GNR deixou de fazer patrulhamento nestas áreas. Limita-se a registar
queixas contra terceiros que acabam nas gavetas porque não há forma de
identificar os ladrões. Alenquer, Ribatejo, mas também no Norte do
país, chovem participações, num tipo de crime que aumentou cerca de
25% desde o início do ano.
"A situação chegou onde chegou mas não é por falta de pessoal", diz
José Alho, presidente da associação socioprofissional da GNR.
Queixa-se antes da má afectação de recursos. "Nós temos um rácio de 5
polícias por mil habitantes, muito superior ao de outros países da
União Europeia. Só que 50% dos efectivos das polícias criminais estão
afectos a tarefas burocráticas, como barbeiros ou pessoal das messes.
É isso que impede que haja uma verdadeira polícia criminal em Portugal
e que os números que passamos para a UE não traduzam a realidade
nacional."
A mesma fonte diz que as Forças Armadas tinham este mesmo problema,
mas que resolveram a questão da burocracia através da subcontratação
de empresas que libertam os militares para as missões estratégicas. E
garante que Rui Pereira, o anterior ministro da Administração Interna,
lhe disse que não conseguiu mover um único excedentário da Função
Pública para as tarefas burocráticas da PSP, GNR ou Polícia
Judiciária. A única vitória recente neste campo foi a subcontratação
de empregadas de limpeza para fazerem o trabalho que até há pouco
tempo era feito pelos guardas. "Já há muito tempo que sabíamos que a
situação ia acabar nisto. Era previsível, com a deterioração das
condições de vida da população portuguesa. Mas o problema do
patrulhamento e do exercício das funções específicas das polícias
criminais não está no número de efectivos. Há é falta de vontade
política de o resolver", diz ainda o responsável.
A questão é séria: à CAP chegam diariamente queixas de agricultores de
todo o país que são sistematicamente assaltados em roubos de dimensão
cada vez maior. "Há quem plante um olival num dia e no dia a seguir
encontre o terreno sem uma única árvore", disse João Machado, o
presidente da confederação, ao i. O assunto já foi apresentado ao
primeiro-ministro na última reunião de Concertação Social. As mesmas
preocupações foram expressas à ministra do Ambiente e da Agricultura e
está agendada para o final deste mês um encontro com o ministro da
Administração Interna, Miguel Macedo. Mas não há solução à vista.
"Cada vez pagamos mais impostos, enquanto o Estado se demite das suas
funções básicas, que é a de garantir a segurança dos cidadãos",
reforça João Machado.
Dente por dente... A situação está de tal forma fora de controlo que
os próprios agricultores se começam a organizar em milícias populares
para defender os seus bens. Está-se próximo dos tempos do PREC, em que
grupos de privados armados patrulhavam as ruas. Mas esta é a melhor
forma de garantir que se conserva o que se plantou de véspera. E de se
conseguir manter os rebanhos e as manadas intactas.

http://www.ionline.pt/conteudo/142417-crime-organizado-chega-ao-mundo-rural-milicias-tambem

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