Comércio
Dírcia Lopes
11/08/11 10:00
Na hora de negociar, o poder das grandes superfícies prevalece.
"Não se pode viver com eles, nem sem eles. Mas é uma guerra que está
perdida à partida", são algumas das expressões usadas por muitos
produtores nacionais contactados pelo Diário Económico para comentar
os processos negociais com as grandes cadeias de distribuição.
Opiniões expressas na condição de se manterem anónimas, dado o receio
de verem o seu negócio penalizado.
Embora reconheçam que estar numa loja Pingo Doce ou Modelo Continente
abre as portas para angariarem mais de clientes para os seus produtos,
há muitos produtores que lamentam e se queixam do forte poder negocial
das marcas da grande distribuição. Um peso que faz com que, em muitos
casos, as margens de lucro sejam esmagadas ao máximo, alegam.
Além de terem de adequar os valores de venda para que o operador da
grande distribuição possa praticar preços baixos, ainda têm de pagar a
presença nos folhetos promocionais e o lugar de destaque na
prateleira. "Na grande maioria dos produtos, as margens marcadas pelas
grandes superfícies nunca são inferiores a 80%. Ou seja, um artigo que
compram a um euro vendem, no mínimo, a 1,80 euros", explica um dos
produtores.
"Se essas organizações forem contrariadas, basta estarem cinco dias
sem fazer encomendas para por em causa postos de trabalho e produtos
sem escoar", acusa outro fornecedor.
Dos vários contactos feitos com pequenas e médias empresas nacionais
para perceber como decorrem estas negociações, apenas a Lacticínios
das Marinhas falou explicitamente. Esta marca, aliás, conhecida pelo
queijo das Marinhas, já se insurgiu contra o poder negocial das marcas
e retirou os seus produtos das lojas Pingo Doce. A sócia-gerente desta
empresa familiar, Berta Castilho, assume mesmo que "as prateleiras de
um grupo com a dimensão do Pingo Doce, obviamente, 'pesam', mas neste
momento começamos a estabilizar", afirmou ao Diário Económico.
Depois desta saída, a Lacticínios das Marinhas continua a fornecer
queijo e manteiga para as grandes superfícies, mas apenas do grupo
Sonae e El Corte Inglés, onde consegue 30% das vendas. Sobre a
rentabilidade do negócio com os hipermercados, Berta Castilho afirma
que, "se não fosse rentável, não fechávamos negócio, mas as margens de
lucro não são famosas para nós. No nosso caso, o preço dos produtos ao
consumidor final é que é afectado pelas margens colocadas pela grande
superfície que chega a ter margens na ordem dos 42%".
Sobre as medidas que se deveriam adoptar para limitar o poder negocial
das marcas da grande distribuição, Berta Castilho não tem dúvidas de
que se deve "apoiar o comércio tradicional para impedir o
estrangulamento dos canais de distribuição e continuar a incentivar a
campanha do 'Compre Nacional'. O consumidor final tem que decidir o
que quer ver à venda na prateleira do supermercado".
http://economico.sapo.pt/noticias/produtores-pressionados-a-aceitar-reducao-de-margens_124469.html
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