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7 de Agosto, 2011
O stress dos bombeiros nos incêndios florestais é semelhante ao
sentido pelos militares num campo de batalha. Tanto pode funcionar
como um «red bull natural» para suportar o desgaste físico, como
potenciar erros humanos.
Esta é uma das conclusões do psicólogo Rui Pedro Ângelo, da Faculdade
de Psicologia da Universidade de Lisboa, que estudou o fenómeno do
stress e bem-estar dos bombeiros portugueses.
Bombeiros e militares lidam muitas vezes com situações de risco
extremo, o que lhes provoca um aumento substancial do nível de stress.
Mas isso nem sempre é negativo.
«O stress nem sempre é negativo para quem o sente, a curto prazo pode
ser uma coisa estimulante para continuar a missão», explicou Rui Pedro
Ângelo, dando como exemplo os militares feridos em combate que muitas
vezes só dão conta do ferimento depois do conflito terminar.
Para o psicólogo, «tal como o stress psicológico em contexto militar,
o efeito da adrenalina nos bombeiros pode ter vantagens a curto prazo,
funcionando como um estímulo para lidarem com desgaste físico do
combate aos incêndios».
No caso dos bombeiros que enfrentam incêndios e que colocam muitas
vezes a sua vida em risco, ao terem a perceção dessa situação, o
stress pode ajudá-los.
«A adrenalina pode ajudar no défice de alimentação e de líquidos ou no
combate ao sono, quando estão a combater há mais de um dia. Aqui o
stress funciona como um 'red bull natural' [bebida energética] para
aguentar o desgaste físico», acrescentou.
Contudo, se o desgaste físico tem interferência no plano psicológico,
o contrário também acontece: «Há pessoas que perante uma elevada
tensão psicológica perdem capacidades físicas e comentem erros»,
referiu.
O especialista defende que é necessário sentir-se um «nível óptimo de
stress para se estar ativo, mas ultrapassado esse limiar perde-se a
capacidade de resposta, em alguns caso física, noutros no
funcionamento cognitivo».
Mas se o stress sentido pelos bombeiros e pelos militares ou forças
policiais é idêntico, a preparação de uns e de outros é muito
diferente.
«A grande diferença para gerir com o stress passa pelo treino
psicológico e esse os militares e as forças policiais têm e os
bombeiros não», sublinhou.
Quem combate incêndios florestais tem apenas como ajuda a sua própria
experiência e a forma como lidou com situações passadas.
«Bombeiro que esteja rodeado pelo fogo se não tiver treino para lidar
com uma situação de perigo extremo pode correr para o lado menos
adequado em termos técnicos e colocar-se a si e aos outros em perigo e
isso já aconteceu em Portugal», afirmou.
Rui Pedro Ângelo defende a existência de equipas psicossociais que
façam uma intervenção de suporte aos bombeiros nos combates aos
incêndios, a maioria deles voluntários, algo que já está a ser
implementado pela Autoridade Nacional de Protecção Civil.
«Quando um bombeiro morre numa frente de fogo não é só a sua família
que é afetada, são todos os que continuam a combater os fogos e que
pensam que essa desgraça também lhes pode acontecer. É um problema
individual que tem um impacto colectivo», referiu.
Por isso, o psicólogo defende que os bombeiros portugueses deveriam
ter um apoio individualizado, mas com consciência de que as situações
dramáticas têm interferência no coletivo.
Lusa/SOL
Tags: Sociedade
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=25872
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