terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Desde 1919 que este galo de Abrantes canta ao mundo

DEZEMBRO: MÊS DAS MARCAS
por SÓNIA SIMÕESHoje

Fotografia © Global Imagens
Azeite 'Gallo'. A marca nasceu pela mão de Victor Guedes em plena
Revolução Industrial. Passou para o filho, que, sem descendentes, a
vendeu. Mas a tradição mantém-se.
Dizem os anúncios que o azeite Gallo canta desde 1919. Mas, na
verdade, há registos de que tenha começado a cantar muito antes, pelas
mãos da família Victor Guedes, quando abriu uma fábrica em Abrantes.
Um canto que entoou ao longo de um século de história, desde a
Revolução Industrial à suspensão da venda do produto em Portugal, no
pós-25 de Abril, e à globalização.

"A existência da fábrica remontará a antes de 1900, mas a marca só foi
registada em 1919. Temos dois diplomas de participação numa exposição
que comemora o centenário da abertura dos portos brasileiros à
navegação internacional, em 1908, no Rio de Janeiro", atesta Pedro
Cruz, actual presidente do conselho de administração. Foi Victor
Guedes pai quem terá registado a marca como Gallo, em homenagem às
suas origens e aos seus familiares galegos.
O sucesso da empresa prendeu-se na altura com uma oferta variada de
produtos - além do azeite, havia figos, nozes e vinho, e depressa
acompanhou o fluxo migratório. "Na década de 1930, é formada uma rede
distribuidora, o negócio deixa de se circunscrever a São Paulo, no
Brasil. Hoje, em qualquer ponto da Amazónia, há uma lata de azeite
Gallo." Nos anos 60, um segundo passo internacional, também
coincidente com o fluxo migratório de portugueses: a Venezuela. O
êxito foi tal que hoje o azeite Gallo é consumido por todos os
venezuelanos que acham que a marca é espanhola por causa do nome
"Gallo".
Enquanto a marca emerge nos mercados onde os portugueses procuraram
melhores condições de vida, em Portugal dá-se a Revolução do 25 de
Abril, em 1974. Com ela, o fim da agricultura e o início das
importações de azeite, que levam os produtores a misturar óleo no
azeite para conseguirem competir com os preços das multinacionais.
Victor Guedes filho, na altura, era um perfeccionista, intransigente
com as qualidades do azeite. Nunca iria corromper o produto para fazer
dinheiro, mas olhava para as autoridades com desconfiança. Para não
adulterar o produto, preferiu manter a fábrica em Abrantes, mas apenas
virada para o mercado externo. Voltaria mais tarde a vender por cá e a
ser líder de mercado, com 14% da quota (actualmente são 20%).
Em 1989, o filho do fundador da marca não tinha descendentes que lhe
seguissem os passos no negócio. Gravemente doente, decidiu vender a
Gallo a duas empresas interessadas: Jerónimo Martins e Unilever. Da
história da empresa, a parceria optou por respeitar valores tão
fundamentais como a tradição e a obsessão pela qualidade, "que é um
misto entre a ciência e arte, o saber lotear", diz Pedro Cruz, que na
altura regressava de Londres para este projecto.
"É exactamente como se faz o perfume. Há vários azeites diferentes,
mas o que eu quero obter é sempre o mesmo, são coisas que estudamos
com o consumidor e que são diferentes de país para país." É por isso
que a Gallo deixou de ter olivais, preferindo comprar a consumidores
(de preferência nacionais). E um produto para o consumidor português
não é o mesmo que para um brasileiro. Sabia que por cá o azeite é mais
frutado, picante e amargo e no Brasil é muito mais suave?
Na mesma lógica, está toda a panóplia de outros produtos que a Gallo
comercializa. Em Portugal os vinagres são um sucesso, no Brasil a
aposta são as azeitonas. "Não temos uma política igual em todo o
mundo, vimos as oportunidades e a partir daí inovamos." Mas se estas
diferenças se notam em termos de sabor, este ano deixaram de se notar
na embalagem de vidro escuro. "Foi a forma de nos apresentarmos de
igual forma em todo o mundo." Mais do que design, é uma questão de
qualidade: a embalagem é escura porque a luz, através do processo de
oxidação, degrada o azeite.
http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=2180724&especial=Made%20in%20Portugal%20-%20M%EAs%20das%20Marcas%20com%20Hist%F3ria&seccao=ECONOMIA&page=-1

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