sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A primeira empresa nacional a formar cães em biologia

JANEIRO: MÊS DA INOVAÇÃO
por Carlos Diogo SantosHoje

Miguel Mascarenhas, o 'Ruca' e um dos tratadores
Fundada em 2005, esta pequena empresa detém já clientes de peso, como
a EDP Renováveis e a GALP Energia. Um dos seus projetos inovadores foi
o cão-biólogo.
Sempre que o Ruca - um pastor-alemão preto - encontra um cadáver de
uma ave ou de um morcego, senta-se e olha para o seu treinador à
espera de uma recompensa. É já uma rotina para este cão-biólogo da
empresa Bio3, especialista em consultoria, investigação e sistemas de
informação na área da biodiversidade.

Na prática, esta empresa portuguesa averigua o comportamento das aves
e dos morcegos e analisa a relação entre a sua morte e a existência
dos aerogeradores (instalados em alguns parques naturais para produzir
energia eólica). Mas não é só. Tentam prevenir este problema
recorrendo ao conhecimento técnico que possuem.
"Durante muito tempo analisamos, em Portugal, a morte destes
vertebrados voadores recorrendo à observação no local, mas tendo
sempre em conta que o ser humano só deteta cerca de 10% dos
cadáveres", disse Miguel Mascarenhas, sócio fundador da Bio3,
explicando que era necessário recorrer a cálculos muito exigentes para
conseguir um total aproximado dos indivíduos mortos.
Porém, o número cada vez maior de aerogeradores e a necessidade de se
chegar mais perto das suas consequências reais levaram Miguel
Mascarenhas e Hugo Costa, o outro fundador, a trazer para Portugal uma
solução inovadora, já testada em outros países: o cão-biólogo.
Foi deste modo que este recurso, que tem já resultados cientificamente
comprovados, surgiu pela primeira vez em Portugal. "Acima de tudo, o
projeto do cão-biólogo aparece porque nós acreditávamos, e continuamos
a acreditar, que o progresso e a preservação da natureza são fenómenos
compatíveis", esclarece Miguel Mascarenhas.
O Ruca e um outro parceiro são, assim, preponderantes para a
descoberta da verdade. Até porque estes biólogos caninos apresentam
uma taxa média de detetabilidade de 97%, permitindo chegar com mais
exatidão aos impactos reais das infraestruturas criadas pelo Homem em
habitats naturais. "Com eles, nós conseguimos chegar muito perto dos
100%", adiantou este responsável.
Além da comprovação científica, algumas grandes empresas portuguesas
já reconheceram a eficiência deste projeto criado pela Bio3. EDP
Renováveis, Galp Energia, Iberwind e REN são alguns dos gigantes que
recorrem aos serviços desta PME. No total, esta empresa já efetuou
cerca de três centenas de projetos, no âmbito de estudos e
monitorizações biológicas relacionados com os procedimentos de
avaliação de impacte ambiental, pós-avaliação e gestão e ordenamento
do território. Mas esta técnica de busca e deteção de cadáveres pode
também ser aplicada a outros projetos, como ferrovias, rodovias e até
censos de espécies ameaçadas.O treino dos cães e dos tratadores da
Bio3 foi conseguido através de um protocolo com o Grupo Operacional
Cinotécnico da Unidade Especial de Polícia da PSP, que durante três
meses deu formação intensiva e certificou este projeto.
Quando os cães-biólogos encontram o odor de um cadáver de uma ave ou
de um morcego, tentam chamar a atenção do seu tratador para que em
troca recebam um momento de brincadeira, como recompensa. A forma de
chamar a atenção é ladrar para que, através do som, o elemento da Bio3
o encontre.
Ainda assim, o ser humano continua a ser muito importante. Miguel
Mascarenhas explica o porquê de haver locais onde não enviam os cães:
"Se mandar o nosso cão-biólogo a um local onde não podemos ir (dada a
vegetação densa) para confirmar a sua descoberta, corremos o risco de
ele fazer batota só para ganhar a sua recompensa", justificou,
esboçando um sorriso.
http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2224310&page=-1

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