por Jorge Almeida
Segundo um recente relatório das Nações Unidas, a população mundial em
finais de 2011, ultrapassará 7000 milhões de pessoas. Ainda segundo o
mesmo relatório, a meio deste século será atingido o tecto dos 9000
milhões de habitantes, quando há cerca de meio século a população
pouco ultrapassava metade dos números actualmente registados.
Para alguns analistas, estes indicadores colocam o nosso planeta à
beira do colapso. No entanto, cada vez mais pessoas referem que os
problemas que enfrentamos não são derivados da sobre população, mas
sim de um desperdício de recursos naturais que são limitados. Se toda
a população mundial tivesse acesso ao tipo de consumo existente nos
países ricos, seriam precisos dois planetas e meio de recursos para
sustentar tal consumismo. Seria a rotura total.
Na aquilatar o que o futuro nos reserva, observemos o que se está a
passar com a chegada ao consumo de tipo ocidental, de algumas centenas
de milhões de Chineses. Em poucos anos, por exemplo, nos cereais, a
China passou da auto-suficiência para a importação anual de centenas
de milhões de toneladas de trigo, milho e soja. O preço destas
comoditys duplicou e triplicou em meia dúzia de anos. Ano após ano,
tem-se vindo a assistir a uma rarefacção da oferta. Umas vezes são os
incêndios na Rússia, outras vezes a seca na Ucrânia, as más colheitas
no centro da Europa. Enfim…tudo isso variáveis objectivas, mas sem o
peso real da variável Chinesa. De ano para ano, mais algumas dezenas
de milhões passam a comer bife. E este bife provem do gado alimentado
com cereais.
O paradigma agrícola mundial mudou. A redução da oferta passou a ser
um facto todos os anos confirmada. Os especuladores na bolsa fizeram o
resto a estas comoditys. Hoje produzir milho, trigo e soja, e por
arrastamento muitos outros produtos alimentares, passou a ser uma
grande fonte de rendimento. Países como o Brasil, por exemplo, grandes
produtores de matérias primas alimentares, viram o seu comércio
externo florescer, desenvolver e consolidar um superhabit sem
precedentes. Para além dos cereais, todos os outros bens alimentares
ganharam grande expressão no comércio mundial. A agricultura entrou
numa nova era, de há 10 anos a esta parte, e constitui hoje um
elemento crucial para todas as economias emergentes.
E como vai a agricultura no nosso país ? Há dias, numa grande
superfície, deparei com uma situação deveras incrédula. Quando
procurei alhos, apenas encontrei alhos chineses. Como ??? nem ao menos
espanhóis ? não ! chineses. Não pode ser. Como pode, um país pobre
como o nosso, que pede dinheiro emprestado para se alimentar, não ser
auto-suficiente neste tipo de produtos alimentares básicos ? Como é
possível chegarem aqui produtos perecíveis do outro lado do mundo, em
condições competitivas, e nós não termos resposta comercial para isto
? Eu daria dezenas de razões ligadas ao comércio mundial e à forma
como os chineses se organizaram e produzem. Mas, neste caso não é
tudo. É que também a batata vem da Espanha ou da França, e, a maçã
vem, em muitos casos, do norte da Europa.
O Portugal agrícola tem vindo a organizar-se em função das fileiras
estratégicas. Opção correcta que tem vindo a ser provada como tal
através do aumento das exportações de produtos como o vinho, o azeite,
as hortícolas, a madeira. Tem vindo a surgir um novo empresariado
agrícola com uma forte vertente exportadora, ligado aos produtos das
fileiras estratégicas. Regiões como o Oeste, Ribatejo e Alentejo têm
vindo a despontar, não só pela reconversão e modernização das suas
explorações agrícolas, como em novos modelos de organização para os
mercados.
Mas a agricultura no seu todo necessita também duma visão mais
abrangente. Uma visão que incentive e apoie a pequena agricultura e a
agricultura familiar, a produção para o mercado interno, e o evitar de
tanta importação de produtos alimentares. Mais. A mini e pequena
produção agrícola de bens alimentares será imprescindível para a
sustentabilidade de muitas famílias e o equilíbrio do comércio externo
agrícola. Temos que voltar a agricultar todos os terrenos agrícolas
disponíveis e a disponibilizar produtos portugueses no mercado de
proximidade, que deve ser apoiado e incentivado.
Os sinais internacionais de procura incessante de matérias primas
alimentares vão aumentar nos próximos anos. Alguns produtos podem
mesmo escassear, faltar ou atingir preços inacessíveis aos
portugueses. Não devemos esperar pela crise alimentar que se vai
instalar nos próximos anos. A estratégia só pode passar pela nossa
auto-suficiência em bens alimentares e pelo equilíbrio do comércio
externo importações/exportações.
http://www.noticiasdevilareal.com/noticias/index.php?action=getDetalhe&id=10581
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