Publicado a 20 de Maio de 2011 . Na categoria: Destaque Economia
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Se há sectores em Portugal aos quais a crise não bateu à porta, o da
pêra Rocha é um deles. No encontro anual dos produtores desta fruta,
que teve lugar na Sobrena no dia 9 de Maio, com a presença do ministro
da Agricultura, António Serrano, viam-se agricultores satisfeitos, que
não exigiam subsídios nem faziam queixas do governo.
O sector vive um momento de expansão, produzindo 200 milhões de euros
de pêra rocha por ano, das quais 150 milhões vão para o estrangeiro. O
Reino Unido, a França e o Brasil absorvem 75 por cento das
exportações.
A fileira da pêra Rocha constitui um dos sectores exportadores mais
importantes da região Oeste
"Se a banca nos bate à porta [a oferecer crédito numa época em que
este é escasso] é porque somos estáveis e temos credibilidade". Torres
Paulo, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Pêra Rocha,
tem razões para estar optimista quanto ao futuro porque vê o sector
consolidado e com perspectivas de crescimento. O dirigente está
convicto que pode haver ainda muito terreno para plantar com pomares
sem que existam problemas de escoamento.
Uma das razões de sucesso deste cluster é a mentalidade empresarial
dos agricultores do Oeste. "Os nosso associados reinvestem nas suas
próprias empresas em vez de se preocuparem em retirar logo os
dividendos. Aqui temos a percepção de que o mercado nos devolve o
dinheiro que investimos", explica.
Por esse motivo, os pericultores não temem a concorrência uns dos
outros. "O que nos assusta são os franceses, os italianos e os
espanhóis, que têm melhores condições, têm água, custos de produção
mais baixos, têm povos que consomem o que é nacional e têm ajudas que
são dadas no dia seguinte e não ao fim de quatro anos".
Mas se isto é válido para a generalidade dos agricultores portugueses,
também é verdade que se dilui um pouco no que diz respeito aos
produtores de pêra Rocha pois, como se sabe, produzem um fruto único.
E aí não há concorrência estrangeira que lhe chegue.
Em 2010 Portugal produziu 171 mil toneladas de pêra Rocha, das quais
exportou 80 mil toneladas, sobretudo para o Reino Unido (27% do total
de exportações), França (25%) e Brasil (24%). Os outros países de
destino já ficam a uma diferença abissal dos três primeiros – Rússia
(5,4%) das exportações, Irlanda (5,1%).
Também no ano passado facturaram 200 milhões de euros, dos quais 150
no mercado externo.
Um indicador de que os empresários do sector estão unidos é o facto de
a ANP representar 2500 pericultores, responsáveis por um volume de
vendas de 120 milhões de euros, num total de 200 milhões produzidos em
Portugal.
As quatro maiores empresas são a Unirocha, Coopval (ambas do Cadaval),
Granfer (Óbidos) e Primofruta (Bombarral), que em 2010 venderam 44 mil
toneladas para o estrangeiro, o que significa 54% das exportações de
pêra Rocha.
Durante o jantar anual, que decorreu nas instalações da Frutus, na
Sobrena, num armazém onde se viam as máquinas calibradoras, o ministro
António Serrano elogiou a capacidade de associação dos pequenos
produtores individuais e a fusão de empresas agrícolas para ganharem
maior massa critica e obterem economias de escala. Segundo o
governante, este é um dos factores de êxito do cluster da pêra Rocha.
"Associaram-se, ganharam dimensão e souberam projectar-se", disse o
ministro, para quem este modelo deveria ser replicado para outros
sectores como os hortícolas e as flores.
A criação de valor passa também pelo competência técnica, pelo domínio
dos circuitos de comercialização e pelo marketing e publicidade. E
essa é outra das explicações pelas quais o sector triplicou em cinco
anos o volume de exportações.
Uma das inovações tecnológicas são as câmaras de atmosfera controlada
onde a fruta é mantida sem oxigénio, podendo conservar-se durante
muitos meses com as mesmas características de quando acaba de ser
colhida.
Por outro lado, os agricultores têm de obedecer a normas e
procedimentos muito restritos, no âmbito das certificações a que estão
obrigados para poderem exportar para os mercados mais exigentes. Entre
outras coisas têm de colocar retretes amovíveis nos pomares durante as
colheitas e nos pomares quase que existe uma espécie de Bilhete de
Identidade para as pereiras. Nos armazéns é obrigatório o uso de luvas
e de roupa apropriada, touca para a cabeça e uma forte implementação
de hábitos de higiene
"Depois disso a fruta já pode ir para o supermercado onde qualquer um
lhe pode tocar nas prateleiras, mesmo que tenha as mãos sujas",
ironizava um dos agricultores durante o jantar, para o qual existe uma
contradição entre as exigências no tratamento das pêras e a total
ausência de higiene a que estão sujeitas quando estão nas prateleiras
à venda, podendo ser tocadas e mexidas por qualquer pessoa.
Visto país a país, Portugal é o maior mercado da pêra Rocha,
absorvendo uma quarta parte da produção nacional. Desta, 64% vai para
as médias e grandes superfícies e 19% para a indústria, sobretudo a
dos sumos.
A Indumape é uma empresa de Pombal que se dedica unicamente à
transformação de fruta em concentrado que depois é vendida às empresas
de sumos, entre elas o próprio grupo Sumol + Compal. Segundo Oswaldo
Trabulo, director-geral, da Indumape, uma grande parte da sua produção
é exportada, sobretudo para o mercado europeu. Se o leitor beber um
sumo de pêra na Alemanha ou na França de uma marca daqueles países, é
elevada a probabilidade de estar a consumir um produto que teve por
base a pêra Rocha do Oeste, transformada em concentrado em Pombal e
depois diluído e empacotado num daqueles países.
Carlos Cipriano
cc@gazetacaldas.com
http://www.gazetacaldas.com/11822/trabalhar-em-cooperacao-e-o-segredo-do-exito-dos-produtores-de-pera-do-oeste/
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