Por: Luis Martins
Tempo de leitura: 3 m
Está em causa a manutenção e conservação do sistema hidroagrícola da
Bouça CovaA torneira vai fechar-se para os agricultores que não paguem
a água da barragem de Bouça Cova utilizada para regadio das suas
terras. Em último caso, será mesmo a justiça a tratar dos
incumpridores. O aviso foi feito à margem da inauguração oficial
daquele aproveitamento hidroagrícola, que irriga 400 hectares de
terrenos e beneficia 800 proprietários das freguesias de Bouça Cova e
Cerejo (ambas no concelho de Pinhel) e de Vila Franca das Naves e
Moimentinha (Trancoso).
A funcionar há nove anos, chegou a hora de todos comparticiparem a
conservação e manutenção do sistema. Até agora, é cobrada anualmente
uma taxa de utilização de 50 euros por hectare. «É um valor bastante
acessível e que tem sido bem aceite, mas há quem ache que a água deve
ser gratuita», refere o presidente da direção da Junta de
Agricultores. Jorge Lucas acrescenta que o dinheiro conseguido por
essa via serve para custear a manutenção do sistema e considera que
não será necessário, por enquanto, aumentar o montante «desde que
todos paguem». Ora, segundo dados daquele organismo, apenas 300 dos
800 beneficiários são pagantes, pelo que «é preciso tomar medidas,
pois as pessoas têm que se mentalizar que é necessário pagar a água»,
afirma. De resto, a Junta de Agricultores e a Direção Regional de
Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC), que suportou os cerca de dois
milhões de euros da empreitada, já reuniram para decidir o que fazer.
E a solução parece simples: «Quem não pagar deixa de receber água da
barragem ou será processado judicialmente», adianta Jorge Lucas, para
quem este projeto «que tanto custou a concretizar só terá viabilidade
se todos contribuírem». O mesmo pensa o diretor da DRAPC. «Há agora
uma nova etapa a iniciar sob pena desta obra se tornar inútil», apelou
Rui Moreira no seu discurso. Também o autarca de Pinhel alertou que «o
sistema não está a funcionar a cem por cento, para isso é preciso
pagar». António Ruas sublinhou ainda que a utilização da barragem deve
«obedecer a regras de civismo e bom senso», porque esta é uma obra
«para as gerações futuras». O sistema hidroagrícola de Bouça Cova
permite regar mais de 448 hectares, abastecidos por 1.300 saídas de
água e dezenas de quilómetros de canais e ramais. Segundo Jorge Lucas,
tem permitido «um bom aumento» da produção local de milho, batatas e
maçãs, enquanto baixaram os custos, «nomeadamente com os combustíveis
gastos para levar a água aos terrenos».
Além desta finalidade, foi autorizada a captação de água para
abastecimento público às povoações de Alverca da Beira e Bouça Cova. A
obra foi adjudicada no ano 2000 ao consórcio formado pelas empresas
Trapsa e Chupas e Morrão, e ficou concluída a 30 de abril de 2002. O
projeto abrange uma área de 470 hectares ao longo das Ribeiras de
Cerejo e Massueime e inundou 68 hectares. A sua concretização muito se
deveu a Maria Alice Saraiva, presidente da Junta de Bouça Cova, «uma
pessoa incansável neste processo», recordou o diretor da DRAPC. A
autarca agradeceu sobretudo aos seus concidadãos, «os mais
sacrificados nesta obra, mas que souberam ver o alcance e a sua
importância para a região».
http://www.ointerior.pt/noticia.asp?idEdicao=612&id=31808&idSeccao=7539&Action=noticia
Sem comentários:
Enviar um comentário