04.08.2011
Helena Geraldes
Os 82 mil hectares da Altri Florestal encontram-se com o certificado
internacional de gestão sustentável FSC suspenso, depois de a Quercus
ter alertado para problemas de erosão do solo e de perda de espécies
protegidas.
A floresta gerida pela Altri Florestal, um dos maiores produtores de
pasta de papel do país, estava certificada pelo FSC (Forest
Stweardship Council) desde o ano passado. Mas a Quercus – Associação
Nacional de Conservação da Natureza detectou recentemente alguns
problemas que acabaram por levar à suspensão da certificação.
Em algumas zonas das regiões Centro e Norte a associação detectou
"situações de erosão dos solos, plantações que não foram feitas
segundo as curvas de nível e que causaram o arrastamento das camadas
superiores do solo, e o corte ou derrube de espécies florestais
protegidas, como o sobreiro e azinheira", explicou Nuno Sequeira,
presidente da direcção nacional da associação. Além disso, "devia
existir uma maior compartimentação da floresta de eucalipto,
intercalando com floresta autóctone, mais resistente a incêndios e
verdadeiro refúgio da biodiversidade", acrescentou ao PÚBLICO. Numa
das propriedades da empresa, dentro do Parque Natural do Tejo
Internacional, a Quercus denunciou ainda a instalação de uma cerca com
arame farpado "sem passagens para a fauna selvagem", apresentando
risco para várias espécies, como o veado.
Nuno Sequeira salientou que "na vasta área gerida pela Altri há uma
grande parte gerida correctamente. Mas acontece que esta certificação
do FSC é muito exigente e diz respeito à totalidade da área explorada,
não parcelas".
A Quercus, membro do FSC Portugal, acredita que a suspensão do
certificado vai contribuir para a empresa "melhorar e corrigir
situações". "Julgamos que a Altri tem feito algum esforço para minorar
os grandes impactos da exploração intensiva de eucalipto, mas esse
esforço não tem sido o suficiente", acrescentou Nuno Sequeira.
O PÚBLICO contactou a Altri mas não foi possível obter um comentário.
Em Portugal, tem havido nos últimos anos "uma maior sensibilidade dos
produtores florestais para o maior risco de incêndios, para a
conservação da biodiversidade e para a protecção dos solos", considera
Nuno Sequeira. Mas como é difícil "minimizar os impactos negativos
deste tipo de explorações intensivas, é preciso ter cautela. O país
não tem condições, por exemplo, para um alargamento da superfície
explorada".
Esta terça-feira, outra organização para a protecção do Ambiente, a
WWF Portugal, mostrou-se preocupada com a redução da área florestal
certificada. A estrutura lamentou, em comunicado, a "falta de
ordenamento e deficiente gestão de uma parte significativa das
plantações florestais em Portugal". Como consequência, "mantém-se o
elevado risco de incêndio florestal, a perda de produtividade e
biodiversidade da floresta portuguesa e a escassez de matéria-prima
nacional".
http://ecosfera.publico.pt/noticia.aspx?id=1506174
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