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2 de Agosto, 2011por Sónia Balasteiro
O cenário repete-se todos os anos. Da noite para o dia, desaparecem
quilos e quilos de uvas das vinhas de Carlos João Pereira da Fonseca.
«Já chegaram a levar dez toneladas só de uma vez», relata o
responsável da Companhia Agrícola do Sanguinhal, sediada no Bombarral,
que se viu obrigado a recorrer a vigilantes: «Não houve outra solução.
No ano passado, tivemos mesmo de contratar uma pessoa só para guardar
as vinhas durante a noite».
Este ano, a um mês do início do início da época das vindimas, o
empresário não quer correr riscos. «Até ao final de Outubro, vamos
voltar a ter um guarda nocturno» para vigiar os 90 hectares de vinha,
diz, lembrando que chegou a ter prejuízos de três mil e 500 euros.
Os autores dos furtos nunca foram descobertos. Nem tão pouco a forma
como actuavam. _Carlos Fonseca tem a certeza de que «seriam
necessários camiões para transportar uma quantidade tão grande de
uva», mas ignora _os motivos dos ladrões. «Imagino que fosse para
produzirem vinho, mas não sei»,_acrescenta, desanimado.
O caso do produtor não é único. Ninguém avança com dados concretos,
mas «todos os anos, há roubos, tanto em pomares como noutras
produções», confirmaram ao SOL vários fruticultores.
'Levam de tudo'
Com a crise instalada, os agricultores temem que aumentem os furtos de
bens alimentares, tanto de fruta como de hortícolas. Aliás, o flagelo
já começou: nas últimas semanas tem subido o número de roubos de
milho, cebola, couve ou batata doce em pequenas produções agrícolas.
«Com tantas famílias sem emprego, é natural que as pessoas se vejam
cada vez mais obrigadas a recorrer a estes pequenos roubos para
sobreviver e façam das explorações o seu supermercado», alerta Feliz
Alberto, presidente da Associação de Agricultores do Oeste.
O ano, de resto, não está a correr de feição aos agricultores
portugueses. Aos roubos da produção acrescem os furtos de equipamento
agrícola.
Também em equipamentos a onda de assaltos não tem poupado os
agricultores: desaparecem motores de rega, alfaias, tractores,
sistemas eléctricos, fios eléctricos, «levam de tudo». «Há indícios de
que essas coisas vão para o leste da Europa», afirma um agricultor que
prefere não ser identificado.
Os donos das explorações agrícolas queixam-se que a GNR ainda não
conseguiu combater estes crimes de forma eficaz (ver caixa). «Os
guardas prendem-nos, depois os juízes mandam-nos para a rua. As
autoridades fingem que não sabem nada», lamentou o mesmo agricultor,
que prefere não ser identificado.
«Este ano, as nossas adegas já foram assaltadas cinco vezes. São
milhares de euros de prejuízo. Informámos a GNR e não aconteceu nada»,
corrobora Carlos Fonseca.
À FNOP também têm chegado queixas: «Estamos a falar de redes com
capacidade para se desfazerem dos equipamentos com muita rapidez», diz
Domingos Santos.
sonia.balasteiro@sol.pt
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=25516
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