05.07.2011
Helena Geraldes
Uma área do tamanho de 180 campos de futebol na floresta da Amazónia
acaba de ser devastada por químicos tóxicos pulverizados por avião,
uma nova forma mais silenciosa e grave de desmatação, revelaram as
autoridades. Quatro toneladas de veneno, prestes a ser utilizadas,
foram apreendidas noutro local.
Bastaram duas horas de helicóptero sobre a floresta da Amazónia para o
Ibama (Instituto brasileiro do meio ambiente e dos recursos naturais
renováveis) descobrir, na segunda semana de Junho, uma área com
milhares de árvores em pé, mas sem folhas e esbranquiçadas pela acção
dos químicos, avança o jornal "A Folha de São Paulo".
Esta desmatação química aconteceu no estado do Amazonas, a Sul do
município de Canutama, perto da fronteira com o estado da Rondónia,
entre o Parque Nacional de Mapinguari e a terra indígena
Jacareúba/Katawixi, que ainda não foi demarcada.
Depois de o avião lançar os químicos tóxicos sobre a floresta, as
árvores ficam esbranquiçadas, o solo e os lençóis freáticos
contaminados e os animais e insectos acabam por morrer. No prazo de
uma semana, todas as folhas das árvores caem e ficam apenas os
troncos. As árvores com valor comercial são, então, derrubadas por
madeireiros, explica o jornal. O terreno depois é limpo com queimadas,
para criar pastos para o gado. O responsável pelo crime ambiental
ainda não foi identificado.
O Ibama chegou à área destruída, de 178 hectares, depois de o sistema
por satélite Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), do Inpe
(Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), ter revelado indícios do
crime ambiental. "Fomos verificar e confirmámos a destruição", contou
Jerfferson Lobato, chefe da Divisão de Controle e Fiscalização do
Ibama no estado do Amazonas, ao jornal.
Este não é caso único. Já em 2008, as autoridades descobriram uma área
de cinco hectares destruída por herbicidas no estado da Rondónia, na
região de São Francisco do Guaporé.
Apreendidas quatro toneladas de veneno escondidas na floresta
Em comunicado, o Ibama revela que apreendeu ainda cerca de quatro
toneladas de herbicidas altamente tóxicos que seriam utilizados como
desfolhante para destruir três mil hectares de floresta. "O herbicida
estava armazenado em local inadequado, escondido no meio da mata e
seria pulverizado na floresta com o uso de aeronave" disse Cícero
Furtado, coordenador da operação.
Estes produtos são usados na agricultura para controlar as ervas
daninhas mas precisam de licença para aquisição e a sua aplicação tem
de ser acompanhada por um engenheiro agrónomo. "Se forem aplicados
inadequadamente podem causar sérios danos ao ambiente, como a poluição
de lençóis freáticos, perda de diversidade biológica de solos e morte
de animais e insectos", explica o Ibama.
O responsável já foi identificado e sofrerá as penalidades previstas
na Lei de crimes ambientais, que prevê multa de 500 a dois milhões de
reais (220 a 882 mil euros).
Jerfferson Lobato afirma que o uso de agrotóxicos acelera o
desmatamento de florestas públicas. O fenómeno é recente, no entanto.
O mais comum é devastar com motosserras, tractores e queimadas. Os
infractores "mudaram de estratégia porque em pouco tempo conseguem
destruir mais áreas com os agrotóxicos", afirmou Lobato.
Em Maio foram derrubados 268 quilómetros quadrados de floresta da
Amazónia, um aumento de 2,5 vezes em relação ao mesmo mês do ano
passado, revela o Inpe.
http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1501480
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