Crise
Margarida Vaqueiro Lopes
05/07/11 08:40
A subida generalizada do preço das matérias-primas, sobretudo das
agrícolas, deixa antever um aumento do peso do cabaz alimentar das
famílias.
A subida dos preços dos alimentos já fez soar os alarmes, uma vez que
alguns cereais e o leite bateram máximos históricos desde o início do
ano. Os produtores não conseguem absorver a escalada e prometem
repassar os custos acrescidos para os consumidores.
Aos avisos de Nicolas Sarkozy, que se pronunciou sobre o assunto
enquanto presidente do país que lidera actualmente o G20, juntaram-se
ontem os receios do presidente da FAO. José Graziano da Silva afirmou,
em entrevista à TSF, estar atento aos casos de subnutrição que começam
a aparecer em alguns países do 'Velho Continente'. "A crise financeira
arrastou-se, latente, durante muito tempo. Agora está a ver a luz do
dia", justificou o responsável, acrescentando, porém, esperar que "a
crise possa ser debelada, porque depois é mais difícil ajudar uma
população que passou fome".
Receios partilhados numa altura em que a escalada do preço das
matérias-primas, sobretudo das agrícolas, não parece querer dar
tréguas às famílias.[CORTE_EDIMPRESSA]
Em todo o mundo os produtores já começaram a avisar que não
conseguirão absorver estes aumentos por muito mais tempo, e que se
verão obrigados a reflecti-los nos preços para o consumidor final. No
mesmo sentido, o último relatório da OCDE e da FAO prevê um aumento do
preço dos alimentos em cerca de 30% até 2015. Em Portugal o impacto do
aumento do preço dos cereais promete ser elevado, tendo em conta que o
País importa cerca de 75% das suas necessidades de consumo, segundo
dados da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito
Agrícola de Portugal (Confagri).
Os monitores da Bloomberg mostram que o preço do milho já subiu 6%
desde o início do ano (tendo superado os máximos que tinha fixado em
2008), enquanto o preço do leite disparou mais de 50%. Já o preço do
trigo, embora registe uma descida de cerca de 30% desde Janeiro,
chegou a negociar nos 9,44 dólares o alqueire, em Fevereiro, um valor
muito próximo do recorde de 10,18 dólares. No mesmo sentido, o milho
fixou um novo máximo, em Abril, ao negociar nos 7,81 dólares o
alqueire.
O presidente da FAO explica que o problema do aumento do preço do
milho é que o cereal "entra na cadeia produtiva de todos os outros
produtos: está embutido no preço da carne, dos ovos e do leite. Também
entra na composição de uma série produtos que são consumidos
directamente, para além de ser o mais utilizado para a produção de
biocombustíveis". Ou seja, a subida do preço do milho "afecta também o
preço dos outros produtos".
Factores que se juntam ao aumento do preço dos combustíveis - e que
por sua vez também pesa no custo do transporte das matérias-primas - e
se reflectem nos preços apresentados ao consumidor.
José Graziano teme, por isso, carências alimentares mesmo em países
desenvolvidos, lembrando que "há uma tendência para que quando os
recursos diminuem as pessoas cortem nos seus gastos variáveis", como é
o caso da alimentação, substituindo produtos de boa qualidade por
outros de baixa qualidade".
http://economico.sapo.pt/noticias/preco-dos-alimentos-devera-pesar-mais-no-cabaz-familiar_122016.html
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