quinta-feira, 7 de julho de 2011

Defensores das aves pedem à ministra para tirar melro da lista dos caçadores

06.07.2011
Helena Geraldes
São dez as razões para tirar o melro da lista de espécies cinegéticas,
todas reunidas numa carta que a Spea enviou à ministra da Agricultura
e Ambiente. Para a Fencaça esta é uma falsa questão pois o melro não
tem interesse cinegético.
Jacinto Amaro diz que nunca caçou um melro na vida. O presidente da
Federação Portuguesa de Caça (Fencaça), que representa cem mil
caçadores, diz que a questão do melro é uma falsa questão.
"Os
caçadores não pediram a caça ao melro, é uma espécie que não tem
aptidão nenhuma para nós. Não nos faz diferença", comentou ao PÚBLICO,
a propósito da Portaria 147/2011, de 7 de Abril, que reabriu a caça a
esta ave. Há 20 anos que não se caçavam melros, lembra. Na verdade,
"nunca tive um caçador a pedir que insistisse na caça ao melro. Até
existem muitos caçadores que se insurgiram contra esta caça".
Na Internet corre uma petição pública que pede o fim desta caça ao
melro, marcada para entre 1 de Novembro e 20 de Fevereiro. Já tem mais
de 5200 assinaturas. A Spea (Sociedade Portuguesa para o Estudo das
Aves) fala em "indignação pública". "Esta foi uma medida totalmente
inesperada, que nunca tinha sequer sido abordada", explicou Domingos
Leitão, Coordenador do Programa Terrestre da Spea, ao PÚBLICO.
"Queremos alertar para o absurdo deste calendário venatório e pedir
uma intervenção da ministra ainda este mês, antes de ele entrar em
vigor".
Na carta aberta à ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do
Ordenamento do Território, Assunção Cristas, a organização considera
esta caça "desnecessária, ilegítima e um absurdo administrativo
inaceitável" e acredita existirem dez boas razões para revogar a
portaria, "com carácter de urgência".
O melro (Turdus merula), que na opinião da Spea poderia ser
considerado a Ave Nacional que Portugal ainda não tem – por causa da
sua presença em todo o território e proximidade às pessoas – é "uma
das espécies de aves mais enraizadas na cultura popular e afectiva dos
portugueses, à semelhança da cegonha, do cuco ou das andorinhas". Além
disso, é uma espécie que há 20 anos não tem tradição cinegética nem
interesse económico.
Outra razão para o pedido é ser uma espécie "muito comum nos jardins,
quintais, parques públicos e outros habitats semi-naturais urbanos".
Jacinto Amaro é da mesma opinião. "O melro vive perto das habitações,
das laranjeiras, das roseiras nos quintais. Ninguém os vai caçar.
Aliás, 99 por cento dos caçadores não caça melros".
Prejuízos na agricultura
Para Jacinto Amaro, o melro apenas foi incluído no calendário
venatório para ajudar as autoridades a resolver "os prejuízos desta
ave nas culturas da cereja, do morango, das framboesas e da vinha".
A Spea lembra que "não existem quaisquer estudos que mostrem que o
melro causa dano em culturas agrícolas e que esses danos resultam em
prejuízos para os agricultores". Esta é uma espécie com populações
estáveis ou com um aumento moderado e não é uma praga agrícola,
salienta. Tanto mais que é uma ave principalmente zoófaga, ou seja,
alimenta-se "de toda a espécie de insectos, aranhas, minhocas e outros
invertebrados que captura no solo e na vegetação". "No Outono e
Inverno adiciona à sua dieta uma grande variedade de frutos e bagas,
sendo classificada de frugívora facultativa. Ou seja, alimenta-se
temporariamente de frutos, mas não depende deste tipo de alimento".
A Spea, que já pediu uma audiência com a ministra em que o calendário
venatório será um dos temas, não compreende que se autorize o abate ao
melro para "aliviar os trabalhos dos serviços da Autoridade Florestal
Nacional na atribuição de licenças de espantamento" nos campos
agrícolas.
http://ecosfera.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1501717

Sem comentários:

Enviar um comentário