quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Frubaça – Como um armazém de fruta de Alcobaça se transforma numa empresa de alta tecnologia

Publicado a 19 de Agosto de 2011 . Na categoria: Destaque Economia
Painel . há uma resposta a este artigo.
Uma máquina que radiografa maçãs à velocidade de 70 mil por ano e um
equipamento que descontamina sumos naturais de fruta em alta pressão
são algumas das tecnologias de ponta usadas pela Frubaça para produzir
sumos, smoothie e polpas de fruta frescos.
As maçãs deslocam-se rápidas sobre o tapete rolante e são depositadas
em secções de acordo com as suas características.
Raios
infra-vermelhos identificam os defeitos interiores da fruta, a
quantidade de açúcar e medem o seu tamanho. E em função de critério
pré-estabelecidos, que incluem também o peso, esta máquina holandesa
decide onde vai cair cada maçã. E não é lenta a tomar a decisões:
fá-lo a uma velocidade de dez toneladas de fruta por hora.
"Dantes eram necessárias dezenas de mulheres em volta de uma
calibradora para fazer este trabalho. Agora bastam três operadoras. E
qualquer dia, com a robotização, tudo isto é feito automaticamente".
Jorge Periquito, director da Frubaça – Cooperativa de
Hortofruticultores CRL, mostra como se faz a normalização da fruta,
que em seguida terá vários destinos: escoamento para o cliente,
armazenamento em câmaras de atmosfera controlada (sem oxigénio), ou a
linha de produção de sumos, smooties (sumos com polpa) e produtos
alimentares.
Esta última representa a jóia da coroa desta cooperativa de produtores
agrícolas criada em 1991. Os equipamentos para o fabrico de sumos
estão instalados num ambiente higienizado, permanentemente frio (os
trabalhadores vestem roupa de inverno apesar de estarmos em pleno
verão) e muito molhado devido às lavagens frequentes.
É aqui que se transforma fruta em sumos com e sem polpa e em produtos
inovadores como as polpas frescas da fruta que podem incorporar muesli
e que existem até numa gama para bebés.
Para eliminar os micro-organismos e manter os produtos frescos pode-se
recorrer à pasteurização (que implica aquecê-los a altas temperaturas)
ou aos produtos químicos. A Frubaça foi pioneira na Europa, a par de
uma empresa holandesa, a escolher uma terceira via – a descontaminação
em alta pressão – tendo para tal recorrido a tecnologia vinda dos
Estados Unidos.
Os sumos naturais são introduzidos numa pesada cápsula que as sujeita
a uma pressão de 6000 bares, o equivalente a cinco vezes a pressão que
existe no local mais fundo do oceano e que mede 11 quilómetros. Os
produtos da Frubaça são, assim, sujeitos a uma pressão equivalente à
de um fundo do mar com 50 quilómetros de água por cima.
Nada disto estava no horizonte dos 25 produtores agrícolas que há 20
anos constituíram a Frubaça. Na altura, com o Portugal recém-entrado
na CEE, as fronteiras abertas e com uma autêntica invasão de fruta
espanhola e francesa a chegar aos supermercados portugueses, o
objectivo da cooperativa era criar massa crítica para a
comercialização dos produtos portugueses e conseguir que os
fruticultores portugueses sobrevivessem.
O objectivo foi conseguido e, em breve, mais do que recolher,
conservar e comercializar fruta, a Frubaça passou a acrescentar-lhe
valor, lançando-se na indústria agro-alimentar.
Foi a primeira a produzir sumo com polpa não pausterizado, que lhe
valeu um prémio da Sonae e outro de um cliente de prestígio – nada
menos que o Ministério da Saúde inglês, que reconheceu a vantagem
destes produtos não pasteurizados, frescos, sem conservantes nem
açúcar, numa alimentação saudável.
A empresa processou no ano passado 6300 toneladas de maçã, das quais
1500 se destinaram a sumos e polpa em taça. O peso deste segmento no
total de volume de negócios (que foi de 7 milhões de euros em 2010) já
atinge os 42 por cento.
Metade das vendas da Frubaça têm como destino as grandes superfícies.
À cabeça está a Sonae, seguida do Pingo Doce, Jumbo e El Corte Inglês.
O restante é escoado através da sua rede de lojas Casa da Fruta
(representadas em Leiria, Batalha, Benedita, Rio Maior, Nazaré, Caldas
da Rainha e na própria sede da cooperativa) e também para restaurantes
e hotéis. As exportações são residuais: meio milhão de euros em 2010,
com destaque para Espanha, França e Suécia.
Apesar de ser um sector em crescimento, Jorge Periquito queixa-se da
excessiva força das grandes superfícies na imposição dos preços. "O
governo deixou que houvesse uma concentração da grande distribuição ao
ponto de haver uma desproporção entre quem compra e quem vende. O
nosso peso na negociação dos preços com as grandes superfícies é zero.
São eles que ditam as regras".
António Magalhães, também director da Frubaça aponta o dedo aos
elevados custos de produção, que são muito mais caros do que na
vizinha Espanha. E lamenta que a maioria dos subsídios vindos da UE
não se destinem a produzir, mas sim à não produção.
Ainda assim, desde 2007 a cooperativa tem vindo a investir 5 milhões
de euros no aumento da capacidade de produção. Um montante que
beneficiou de fundos comunitários na ordem dos 2 milhões de euros.
A Frubaça emprega 40 pessoas, das quais seis são licenciadas. Para
fazer face aos picos de trabalho, chegam a laborar 120 trabalhadores.
Carlos Cipriano
cc@gazetacaldas.com
http://www.gazetacaldas.com/14233/frubaca-como-um-armazem-de-fruta-de-alcobaca-se-transforma-numa-empresa-de-alta-tecnologia/

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