terça-feira, 23 de agosto de 2011

Minho cria embalagem comestível para alimentos

Investigação portuguesa
21.08.2011 - 10:53 Por Samuel Silva
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Material usado está na base dos caldos de cozinha (Foto: Paulo Pimenta)
Nanotecnologia permite aumentar tempo de conservação dos alimentos.
Lacticínios serão os primeiros a adoptar tecnologia.
Não se vê, não tem cheiro, mas come-se. A Universidade do Minho está a
propor uma revolução na indústria alimentar: uma película que permite
embalar alimentos, aumentando o seu tempo de conservação, mas que é de
tal forma fina que é invisível. E pode comer-se, porque na sua base
está um material 100 por cento seguro para o consumo humano.

Os alimentos são cobertos com uma solução líquida que contém uma
nanopartícula que, depois de seca, vai criar uma película protectora.
Este material impede que os microrganismos contaminem o fruto ou
legume, resolvendo problemas de segurança alimentar. "Na prática, isto
é uma barreira", explica José Teixeira, investigador da Universidade
do Minho (UM) que coordena a equipa de cinco pessoas que desenvolveu
esta inovação.
O material que está na base desta solução é usado há vários anos na
indústria alimentar. Trata-se de polissacáridos, que estão na base dos
caldos de cozinha, por exemplo. A novidade está na forma como é posto
ao serviço da segurança dos alimentos. A tecnologia desenvolvida no
Minho apresenta um conjunto de vantagens que leva os seus responsáveis
a acreditar que podem revolucionar o mercado alimentar.
Deterioração diminui
Os produtos envolvidos com esta nano-película ficam menos expostos à
deterioração natural, aumentando o período durante o qual é possível
consumi-los. No caso dos morangos - um dos frutos em que a aplicação
desta tecnologia está mais desenvolvida - foram conseguidas reduções
das perdas de 30 por cento.
"O consumidor não vê, não sente e pode comer o alimento sem
problemas", garante José Teixeira. A solução permite aumentar o tempo
de prateleira dos alimentos e reforçar a segurança alimentar. Além
disso, a membrana pode tornar-se um veículo de acrescento de valor
acrescentando, permitindo a incorporação de compostos bioactivos nos
alimentos, como antioxidantes ou antibióticos A nanopelícula pode ser
aplicada de três formas. A mais fácil é a imersão dos alimentos num
líquido viscoso com as características necessárias à sua protecção,
mas é uma solução mais cara, porque gasta maior volume de material. Os
investigadores têm agora trabalhado num modelo de aspersão, que pode
ser adaptado às soluções já existentes na indústria alimentar para a
lavagem dos alimentos. A UM está ainda a desenvolver uma aplicação em
filme, muito semelhante às películas aderentes que são normalmente
usadas nas cozinhas domésticas.
O queijo Quinta das Marinhas fará, em breve, o primeiro grande teste a
este invento. Os produtos embalados com a nanopelícula desenvolvida no
Minho chegarão em breve ao mercado, dando resposta a um problema que a
empresa - que há vários anos trabalha com a UM - enfrentava e que é
comum a várias empresas de lacticínios. O queijo é um alimento
facilmente perecível, o que obriga a rotações constantes dos stocks
nos supermercados, implicando muitas vezes grandes perdas para os
produtores.
A invenção da equipa coordenada por José Teixeira reduz em 20 por
cento as perdas de massa do queijo, que assim poderá passar mais tempo
nas prateleiras das lojas. Este tipo de soluções já está a ser testado
com outras duas empresas de lacticínios e há também empresas do Brasil
interessadas em aplicar a tecnologia.
A nova solução parte da investigação em nanotecnologia aplicada a
embalagens na indústria alimentar em que este grupo da UM se tem
especializado. A área está em forte expansão e o mercado que
representava, em 2002, 150 milhões de dólares anuais, deverá valer, no
próximo ano, qualquer coisa como 20 mil milhões de dólares, apontam as
últimas estimativas.
A embalagem comestível desenvolvida pelo Instituto para a
Biotecnologia e Bioengenharia (IBB) da Universidade do Minho é um dos
projectos de um consórcio internacional a que a instituição está
associada, juntamente com outros cinco centros de investigação e
universidades de Portugal e Espanha.As universidades de Aveiro, Vigo,
País Basco e Complutense de Madrid, bem como o Centro de Investigação
Valenciano IATA-CSIC são os restantes parceiros, que estão a
desenvolver outras aplicações da nanotecnología aplicada à industria
alimentar. O próprio desenvolvimento da nanopelícula contou com a
participação de investigadores de universidades cubanas e brasileiras.
Essa abertura levou a que algumas empresas do Brasil estejam a estudar
a hipótese de aplicar a invenção aos frutos tropicais que exportam
para a Europa, para melhorar a sua qualidade.
http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/minho-cria-embalagem-comestivel-para-alimentos_1508527?p=2

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